Tratamento das obsessões espirituais: salvando vidas
Em texto
anterior, mencionamos que, segundo O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, e de
acordo com inúmeras obras psicografadas, assim como diálogos com Espíritos, por
médiuns, gravados em vídeo; todos os seres humanos são médiuns e, portanto,
influenciados pelos Espíritos. Segue o link para o texto: http://jornalggn.com.br/noticia/todos-os-humanos-sao-mediuns-e-interagem-com-os-espiritos-por-marcos-villas-boas.
Em muitos
casos, por haver essa possibilidade de influenciar os seres humanos, os
Espíritos se ligam a eles com determinados fins, mas terminam os prejudicando,
pois, mesmo que não tenham um objetivo mau, sua energia termina causando
repercussões na psique do encarnados por questões de vibração magnética.
Muito se
confunde um Espírito meramente acompanhar um determinado indivíduo com a
obsessão em si, que é uma ligação de caráter mais duradouro, havendo quase
sempre laços fluídicos entre obsessor e obsidiado, que podem ser mais ou menos
firmes. É desconhecimento sustentar, como vemos com alguma regularidade, que,
se for feita uma reunião mediúnica todo dia, a pessoa terá um obsessor e que,
por isso, a obsessão é algo de menor importância. Isso é incorreto. Espíritos
em torno de nós, há quase sempre e aos montes. Obsessão espiritual, por sua
vez, é doença.
É preciso
ter claro em mente que, ao estudar a obsessão, Kardec estava muito mais atento
aos casos pelos quais passavam os médiuns com os quais ele mantinha relação.
Isso fica evidente em todo o capítulo XXIII de O Livro dos Médiuns, que leva o
título “Da obsessão”, mas, sobretudo, na primeira frase do primeiro item:
“237. Entre
os escolhos que apresenta a prática do Espiritismo, cumpre se coloque na
primeira linha a obsessão, isto é, o domínio que alguns Espíritos logram
adquirir sobre certas pessoas”.
Claramente,
Kardec trata da obsessão como um aspecto complicado da prática espírita,
enquanto que, em verdade, qualquer pessoa, de qualquer religião, ou mesmo
agnósticos e ateus, pode ser um alvo de obsessão espiritual. De qualquer forma,
o estudo de Kardec não deixa de ser extremamente importante, o ponto de
partida, guardados os devidos cuidados contextuais, tendo em vista que, como
dito, ao fim e ao cabo, todos somos médiuns.
A propósito
desse tema, não se esqueça que a complexidade do universo é gigantesca e não se
pode imaginar, nem por um segundo, que a doutrina espírita consegue abarcar
sequer 10% do que existe em termos de leis naturais relacionadas aos Espíritos,
exceções, práticas (que estão sempre progredindo) etc.
Por conta
disso, obviamente, nas obras de Kardec, há apenas um brevíssimo sumário,
passado de forma bem curta e objetiva pelos Espíritos, para que se desse um
sólido conhecimento inicial, e sem causar muitas confusões nas cabeças
encarnadas tão limitadas, das questões envolvendo os Espíritos e suas relações
com os homens.
Quem quer
realmente realizar uma boa prática espírita precisa estudar tudo aquilo que for
espiritualista, sob os ângulos científico, filosófico e religioso, e fizer
sentido para a sua prática. O fechamento em que muitos se metem é medieval e
remete à tradição católica ortodoxa de séculos passados, na qual a maior parte
dos espíritas, como se sabe a partir de inúmeros Espíritos elevados, esteve
inserida.
A obsessão,
então, não é a mera influência de um Espírito, mas a ligação dele a um
encarnado, um certo domínio que ele exerce, podendo, inclusive, retirar suas
energias, atrapalhar seu raciocínio, incentivar brigas com os que com ele se
relacionam, incentivar os que com ele interagem a brigar com o próprio e assim
por diante.
Em outras
palavras, é preciso uma postura cada vez mais ao modo de Kardec e cada vez
menos ao modo da ortodoxia religiosa praticada por muitos hoje, ou seja,
deve-se pesquisar com profundo olhar científico-religioso, abertura e
tolerância para que se possa progredir.
Como quase
tudo na vida, o tema da obsessão é complexo demais para ser tratado com visões
reducionistas, então é preciso manter um alto grau de relatividade sobre as
afirmações feitas acerca dele, procurando enxergar as múltiplas causas das
obsessões e as múltiplas possibilidades de tratamento. Se a obsessão é
complexa, o tratamento, em regra, também precisará ser.
As causas
das obsessões podem ser inúmeras, daí haver grande risco em se atribuir sempre
uma única causa e se pensar sempre no mesmo tipo de tratamento. Isso não faz
qualquer sentido. No meio espírita, é muito comum, seguindo o moralismo religioso,
culpar unicamente ou principalmente o paciente pela doença, tendo em vista que,
em boa parte dos casos, a obsessão se dá porque o Espírito obsessor encontra um
espaço de falha moral no obsidiado para perturbá-lo.
Deve-se
questionar, contudo, o seguinte: quem neste planeta não é repleto de
deficiências morais? Talvez menos de 1% da população. Os espíritas já se
depuraram a nível de não terem diversas falhas morais?
Por que,
então, uns são obsidiados e outros não? Pelo fato de existir causas variadas
para as obsessões, assim como cada encarnação é absurdamente complexa. Uma
obsessão pode ser consequência de vingança devido a fatos acontecidos em vidas
anteriores, o que é, aliás, bem comum. Estando um Espírito obsessor inteligente
e com muito ódio ligado ao obsidiado por anos, às vezes por séculos, quanto de
reforma moral ele precisará fazer para se desligar dele?
Há
indivíduos que passam anos, décadas, uma vida sendo obsidiado, mas não
conseguem se desvincular do obsessor, ainda que consigam evoluir moralmente.
Isso se dá porque é preciso, muitas vezes, convencer o obsessor completamente
obstinado a deixar a sua presa em paz ou obrigá-lo a fazê-lo.
Aí entra o
papel da chamada doutrinação, hoje mais comumente denominada de
“esclarecimento” ou “diálogo”, termos realmente mais apropriados. Ocorre que, a
depender do nível de ódio do Espírito, pode ser que nenhum diálogo do mundo o
convença e é preciso respeitar o seu livre-arbítrio, mas apenas até um
determinado ponto.
O
livre-arbítrio não é absoluto. Se um Espírito faz o mal a um encarnado, quando
esse já não o merece mais, quando já avançou ao menos um pouco nas suas
deficiências, é dado o direito a ele de se libertar e muitos Espíritos
obsessores são conduzidos forçosamente a tratamento.
Outra causa
de obsessão é a magia negra, tão utilizada no Brasil em terreiros de Quimbanda
e afins. Nesse caso, lança-se uma espécie de feitiço, que não tem nada de
sobrenatural. É um acordo de um encarnado, que quer causar o mal a alguém, com
Espíritos inferiores para que eles façam o serviço, havendo todo tipo de
artifício para auxiliar o trabalho dos Espíritos, como concentração de
vibrações negativas em artefatos materiais, dos quais são criadas cópias no
plano astral, inserção de chips do plano astral nos obsidiados, utilização de
verdadeiras equipes espirituais inferiores para mexer na psique não somente do
obsidiado, mas de todos a sua volta conforme os espaços que deem, etc.
Por essa
última razão apontada, por exemplo, por mais que o obsidiado seja uma rocha moral,
os Espíritos podem conseguir atingi-lo desestabilizando familiares, amigos,
colegas de trabalho ou qualquer outra pessoa que lhes seja próxima e que possa,
de algum modo, atingir a sua psique. Nessas condições, para estar ele alheio à
obsessão, precisaria ser um iceberg emocional, de modo a não se comover com
nenhum tipo de acontecimento externo, o que quase não existe neste mundo.
Devido às
múltiplas causas das obsessões e à complexidade a que elas podem chegar, os
tratamentos não podem ser uniformes. Daí as críticas realizadas pelo Espírito
Ângelo Inácio, pela mediunidade de Robson Pinheiro, aos tratamentos em algumas
casas espíritas que pararam no tempo e que não procuraram conhecer as técnicas
existentes em outras linhas espiritualistas, assim como em círculos de
conhecimento com cunho mais científico.
Técnicas de
projeção astral, apometria, Umbanda e de muitos outros círculos de conhecimento
precisam ser integradas aos tratamentos de obsessões espirituais, uma vez que
empiricamente eficazes.
Na década de
70 do século passado, ao tratar da chamada magia negra, o espírita Hermínio
Miranda dizia o seguinte, que continua valendo até hoje:
“Extremamente
complexo e delicado, especialmente porque é escassa, nesse particular, a
literatura doutrinária de confiança existente, o assunto precisa ser abordado
com muita prudência e lucidez (Diálogo com as Sombras, p. 105).
O
conhecimento sobre magia negra é, muito claramente, bastante superficial no
meio espírita, assim como as múltiplas formas de tratamento. Uma delas, da qual
praticamente não se fala no meio espírita, mas que também é praticada por
alguns no Brasil há muitas décadas, é a apometria.
Diz-se que a
apometria foi introduzida no Brasil no início do século XX, talvez pelo
farmacêutico porto-riquenho, Luis Rodrigues, que a denominava Hipnometria, mas
sabe-se por certo que ela foi sistematizada e renomeada na década de 60 pelo
médico José Lacerda de Azevedo, cuja obra “Espírito / Matéria: Novos horizontes
para a Medicina”, praticamente desconhecida no meio espírita, é brilhante e
desmente distorções causadas por alguns nas práticas de atendimento espiritual
e de desobsessões, comprovando cientificamente a complexidade da matéria.
Parte do
movimento espírita se perde em torno da ideia de reforma moral, ou reforma
íntima, o que é muito importante, sem sombra de dúvidas. Quanto mais sólido
moralmente o indivíduo, menos chances ele tem de conectar com as vibrações
negativas dos Espíritos inferiores que pretendem lhe causar o mal. Menos portas
ele deixa aberta.
É preciso
ter, no entanto, em mente que o mal evoluiu muito nas artimanhas para
desestabilizar os obsidiados, prejudicando seu sono, retirando suas energias,
influenciando pessoas do seu círculo mais íntimo etc. Além disso, há formas de
obsessão que não envolvem necessariamente conexão vibratória.
A reforma
íntima é a própria causa de encarnarmos, o cerne da existência. Passasse-se
bilhões de anos fazendo a reforma íntima. Ela é o início e o fim de tudo, mas
não é só por meio dela que se realiza a cura das obsessões espirituais. As
obsessões não podem ser atribuídas simplesmente à falta de reforma íntima,
frequentemente tratada nos meios espíritas como um desleixo do assistido.
O tratamento
de desobsessão precisa, portanto, ser realizado dispondo de conhecimento
psicológico, para compreender todos os percalços que o indivíduo enfrenta e, se
o caso, até mesmo aconselhá-lo a procurar um especialista em Psicologia ou
Psiquiatria. Ao mesmo tempo, para o atendimento espiritual, é preciso ter
grande tato psicológico ou, como se tem visto frequentemente em centros
espíritas, os obsidiados terminam se sentindo culpados e inferiorizados por
estarem naquela condição, o que é uma inverdade e erro gravíssimo que muitos
têm cometido, consciente ou inconscientemente.
É muito
comum ver espíritas falando que “a pessoa ‘x’ não se cura porque não se ajuda”
ou “a pessoa ‘y’ não se cura porque não progride moralmente”. Mas, que
capacidade tem muitas dessas pessoas para fazer esse tipo de análise, quando
elas próprias já podem estar demonstrando deficiência moral ao fazer tais
comentários?
Não há
dúvidas de que a vontade, consubstanciada na fé, é capaz de realizar grandes
feitos, sendo elemento importante nas curas, inclusive de obsessões. Por outro
lado, é muito difícil saber o que o obsidiado realmente passa dentro de sua
psique, e isso até mesmo para um psicólogo, muitas vezes, que leva anos
tratando determinados pacientes. Como se pode emitir tais pareceres sobre um
paciente dispondo de nenhum conhecimento psicológico e, muitas vezes, até mesmo
de pouco conhecimento espírita, que hoje é tão vasto?
Por questões
óbvias, aliás, a ninguém deveria ser dito que é preciso progredir moralmente,
pois esse tipo de afirmação, sobretudo quando realizada a uma pessoa
psicologicamente fragilizada, pode deixá-la ainda mais deprimida. Ao obsidiado
deve ser explicado que todos encarnamos para cumprir determinadas tarefas e
para expiar por conta de determinadas dívidas contraídas no passado, sempre com
o objetivo de evoluir. Deste modo, a desobsessão dele pode depender do seu
aprendizado moral e intelectual, mas deve ser dito que a equipe espírita fará
de tudo para ajudá-lo.
A obsessão
espiritual tem frequentemente um fim pedagógico e é dessa forma que deve ser
tratada, não querendo dizer que alguém é inferior moralmente por ser alvo dela,
especialmente se o caso é de magia negra, pois outra pessoa pode ter dado causa
à obsessão por puro egoísmo, não tendo a ver propriamente com defeitos do
obsidiado, ou, se o caso é de vingança, que pode nem ser por conta de um erro
do obsidiado, mas de algo que ele fez para cumprir a lei dos homens ou a lei
divina, porém incompreendido pelo obsessor.
Mesmo que no
caso de um grande erro do obsidiado cometido no passado, ele pode já ter
evoluído bastante moralmente, mas o Espírito obsessor, sendo inteligente e
encontrando ajuda, pode empreender inúmeros assédios que tornam o indivíduo,
ainda que moralmente forte, sujeito a dissabores na sua vida.
Por haver
uma multiplicidade de causas e de aspectos, o tratamento da obsessão pode se
tornar bastante complexo. Muitas vezes, é preciso restituir a energia do
obsidiado, o que nem sempre será feito apenas com orações, passes magnéticos e
água fluidificada.
É essa a
crítica realizada pelo Espírito Ângelo Inácio nos livros estudados em alguma
medida no texto passado. Ele não diz, ao contrário do que alguns espíritas
interpretaram, que o trabalho nos centros espíritas é inútil, é sempre ruim ou
qualquer coisa parecida.
Infelizmente,
muitos espíritas ficaram ofendidos com os livros desse Espírito, atribuindo em
alguns casos a culpa ao médium, pois, como o próprio Ângelo Inácio diz, aquilo
de que não se gosta em casos de psicografia ou psicofonia de logo se atribui ao
animismo do médium. Se o tema fosse aprofundado, perceber-se-ia que são
inúmeros os Espíritos e médiuns que abordam essas questões da mesma forma.
É preciso
haver uma reflexão sobre até que ponto muitos não estão sendo excessivamente
orgulhosos. O obsidiado precisa ser tratado com imenso amor, humildade,
caridade, paciência e tolerância, que são, aliás, princípios básicos da
doutrina espírita. Para que esses princípios sejam colocados em prática e
maximizados, é necessário que os espíritas disponham de muito conhecimento em
ramos variados do saber científico, filosófico e religioso os quais estão
relacionados com os problemas enfrentados nos trabalhos obsessivos.
Por ser tema
tão importante para a vida das pessoas e tão complexo, voltaremos a ele em
muitos outros textos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário