Convivência,
Um Santo Remédio
Há
poucos meses, assisti a uma reportagem em um jornal de grande emissora brasileira,
falando sobre os benefícios da convivência.
A
matéria mostrava, entre outros casos, a história de uma senhora que, ao
descobrir
que estava com câncer, além de dar, evidentemente, continuidade a rigoroso
tratamento médico, teve a seu lado filhos e netos que não a deixavam só.
“Quando
ela estava enfraquecida por causa da quimioterapia, nós nos
empoleirávamos
na casa dela e ficávamos ouvindo as suas histórias e contando as nossas. Ela
sempre ficava mais animada e dizia que nos dias em que não vínhamos acabava
tendo mais enjoos e mal conseguia comer”, comentou uma das netas.
Isto
mostra o quanto a família e os amigos são importantes em nossa vida.
No
tempo em que estudei, lá pela década de 70, ensinaram-me que o homem possuía um
tal de instinto gregário, quer dizer, gostava de viver em grupo. Às vezes me
pergunto o que foi feito deste instinto, uma vez que as pessoas estão se isolando
a cada dia.
Os
almoços em família aos domingos são cada vez mais raros e isto afasta as crianças
de seus primos, tios, avós. Que histórias de família elas terão para contar?
A
que vínculo se prenderão? Como tratarão seus pais quando adultas vendo que
hoje, estes abandonam os pais deles?
A
informática nos traz, a cada dia, avanços inegáveis, facilidades ímpares e
fugir disso seria negar nosso progresso inexorável e previsto pela própria
doutrina. Mas hoje, conversar com estranhos ou conhecidos pela internei é muito
mais comum do que visitar um amigo ou telefonar a alguém, nem que seja para uma
conversa curta. Alguns alegarão falta de tempo para as visitas, mas observemos
bem nossa vida e constataremos que o tempo que gastamos na internei, vendo
coisas que não nos levarão a nada é maior do que o que gastaríamos “dando um
pulo” na casa daquele nosso primo que não vemos há tanto tempo. Outros
argumentarão que uma conversa via computador sai mais em conta do que um
telefonema. Está certo mas temos que reconhecer que nada substitui o prazer de
ouvir uma pessoa querida nem que seja por um minuto.
A
medicina está no caminho inverso ao da sociedade, mostrando que conviver ajuda
em todas as doenças enquanto nós procuramos nos separar e nos afastar uns dos
outros. Por quê? Pela nossa intolerância com os defeitos alheios, como se
fôssemos anjos; pelo nosso egoísmo pois não gostamos de dividir nada: atenções,
espaços, coisas materiais, então, nem pensar! “O que é meu conquistei com esforço
e não divido com ninguém”, dizemos com a maior naturalidade. Se ofendemos
alguém nos falta humildade para pedir perdão e se somos ofendidos, (e nos ofendemos
com tanta facilidade!) nos falta coragem para, pelo menos desculpar, quando
perdoar for muito difícil.
Assim
vamos nos afastando de tudo e de todos, ficando tristes e doentes, nos enfiando
em tocas como se fôssemos animais. Que retrocesso!
Mas
ainda há tempo. Vamos agora visitar nossos pais que não vemos há um mês, vamos
hoje ligar para aquele amigo com quem não falamos há séculos.
Vamos
voltar a viver juntos e não apenas ocupando o mesmo espaço.
Obs.:
A senhora de que falei no início do texto está há quatro anos sem nenhum sinal
de retomo da doença.
Carla Maria de Souza