terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Convivência, Um Santo Remédio

Convivência, Um Santo Remédio





Há poucos meses, assisti a uma reportagem em um jornal de grande emissora brasileira, falando sobre os benefícios da convivência.
A matéria mostrava, entre outros casos, a história de uma senhora que, ao
descobrir que estava com câncer, além de dar, evidentemente, continuidade a rigoroso tratamento médico, teve a seu lado filhos e netos que não a deixavam só.
“Quando ela estava enfraquecida por causa da quimioterapia, nós nos
empoleirávamos na casa dela e ficávamos ouvindo as suas histórias e contando as nossas. Ela sempre ficava mais animada e dizia que nos dias em que não vínhamos acabava tendo mais enjoos e mal conseguia comer”, comentou uma das netas.
Isto mostra o quanto a família e os amigos são importantes em nossa vida.
No tempo em que estudei, lá pela década de 70, ensinaram-me que o homem possuía um tal de instinto gregário, quer dizer, gostava de viver em grupo. Às vezes me pergunto o que foi feito deste instinto, uma vez que as pessoas estão se isolando a cada dia.
Os almoços em família aos domingos são cada vez mais raros e isto afasta as crianças de seus primos, tios, avós. Que histórias de família elas terão para contar?
A que vínculo se prenderão? Como tratarão seus pais quando adultas vendo que hoje, estes abandonam os pais deles?
A informática nos traz, a cada dia, avanços inegáveis, facilidades ímpares e fugir disso seria negar nosso progresso inexorável e previsto pela própria doutrina. Mas hoje, conversar com estranhos ou conhecidos pela internei é muito mais comum do que visitar um amigo ou telefonar a alguém, nem que seja para uma conversa curta. Alguns alegarão falta de tempo para as visitas, mas observemos bem nossa vida e constataremos que o tempo que gastamos na internei, vendo coisas que não nos levarão a nada é maior do que o que gastaríamos “dando um pulo” na casa daquele nosso primo que não vemos há tanto tempo. Outros argumentarão que uma conversa via computador sai mais em conta do que um telefonema. Está certo mas temos que reconhecer que nada substitui o prazer de ouvir uma pessoa querida nem que seja por um minuto.
A medicina está no caminho inverso ao da sociedade, mostrando que conviver ajuda em todas as doenças enquanto nós procuramos nos separar e nos afastar uns dos outros. Por quê? Pela nossa intolerância com os defeitos alheios, como se fôssemos anjos; pelo nosso egoísmo pois não gostamos de dividir nada: atenções, espaços, coisas materiais, então, nem pensar! “O que é meu conquistei com esforço e não divido com ninguém”, dizemos com a maior naturalidade. Se ofendemos alguém nos falta humildade para pedir perdão e se somos ofendidos, (e nos ofendemos com tanta facilidade!) nos falta coragem para, pelo menos desculpar, quando perdoar for muito difícil.
Assim vamos nos afastando de tudo e de todos, ficando tristes e doentes, nos enfiando em tocas como se fôssemos animais. Que retrocesso!
Mas ainda há tempo. Vamos agora visitar nossos pais que não vemos há um mês, vamos hoje ligar para aquele amigo com quem não falamos há séculos.
Vamos voltar a viver juntos e não apenas ocupando o mesmo espaço.

Obs.: A senhora de que falei no início do texto está há quatro anos sem nenhum sinal de retomo da doença.

Carla Maria de Souza