Escravidão Moderna
Os 213 anos
passados desde que a Dinamarca, em 1803, colocou em vigor a sua lei de abolição
da escravatura, ou mesmo os 128 anos que já avançamos depois da assinatura da
Lei Áurea em nossas terras, parecem que não são suficientes para que possamos
conviver longe da realidade da escravidão.
O relatório
Índice de Escravidão Global, da Fundação Walk Free (uma entidade sem fins
lucrativos que se dedica a lutar pelo fim da escravidão no mundo), divulgado em
31 de maio, apresenta-nos um dado alarmante: cerca de 46 milhões de indivíduos
em todo o mundo estão sujeitos a alguma forma de escravidão moderna. Isso
mesmo, passamos décadas após a abolição da escravidão em nossa sociedade
global, mas o que fizemos foi “modernizar” a forma de se escravizar. Os dados
assustadores do relatório nos indicam que 58% das pessoas escravizadas vivem em
cinco países: Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. E os países
com a maior proporção de população em condição de escravidão são a Coreia do
Norte, Uzbequistão, Camboja e Índia.
Essa forma
moderna de se escravizar ocorre quando um sujeito controla o outro, cerceando
sua liberdade individual, com a intenção clara de explorá-lo. Podemos citar
que, atualmente, vemos essa condição no tráfico de pessoas, trabalho infantil,
exploração sexual, recrutamento de indivíduos para o conflito armado e também o
trabalho forçado em condições degradantes, com extensas jornadas de trabalho
sob coerção, violência, ameaça ou dívida.
O dado mais
chocante é que no relatório anterior, de 2014, eram cerca de 36 milhões de
indivíduos que viviam nessa situação, ou seja, a realidade de conscientização
sobre o problema diminuiu, convivemos com o crescimento de tal prática em linha
com o crescimento populacional.
Em nosso
país, a Walk Free aponta 161,1 mil pessoas submetidas à escravidão moderna.
Segundo o relatório, essa exploração é concentrada em áreas rurais,
especialmente em regiões do cerrado e na Amazônia. Nas Américas, o país com o
maior número de indivíduos submetidos à escravidão é o México, com 376,8 mil, e
os governos com melhores respostas no combate a esse crime são os dos Estados
Unidos, Argentina, Canadá e Brasil.
Mas por que
ainda convivemos com essa tragédia? Em O Livro dos Espíritos, na questão 829,
Kardec indaga: Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser
propriedade de outros homens? Resposta: É contrária à lei de Deus toda sujeição
absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força.
Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.
Contudo, é
preciso que estejamos atentos a que progresso se referem os espíritos, pois,
certamente, o progresso material descontrolado é um impulsionador das condições
de escravidão. Segundo a Walk Free, a escravidão moderna é um crime oculto que
afeta todos os países e tem impacto na vida das pessoas que consomem produtos
feitos a partir do trabalho escravo. Faz-se necessário, pois, o envolvimento
dos governos, da sociedade civil, do setor privado e da comunidade em geral
para a proteção da população mais vulnerável.
Cremos que a
reflexão é muito importante para que possamos despertar para a necessidade de
reformular nossos compromissos como cidadãos e as nossas necessidades de
consumismo desenfreado frente à exploração de tantas pessoas ainda em condições
tão adversas à liberdade humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário