Cristo, assim
como outros que lutaram pela paz, teve morte violenta por sua mensagem e vida
questionarem o sistema de poder vigente
Texto de Carlos
Antonio Fragoso Guimarães
Não é
estranho, mesmo tragicamente contraditório, o fato de que os que mais fizeram
em prol da paz, da justiça, da igualdade, libertação de consciências tenham
tido quase sempre morte violenta? Ao menos, no Ocidente que se julga tão
especial, isto tem sido quase que uma regra, mas não apenas aqui. Lembremos da
morte trágica de Gandhi, que também foi violenta apesar de sua luta pacífica e
de diálogo entre as diferenças.
A forma como tratamos os melhores homens e mulheres diz muito de nosso estágio evolutivo. Não é preciso expor exemplos inúmeros para confirmar isto. Basta alguns mais. Citemos, entre tantos, os de Sócrates, Jean Huss, Giordano Bruno, ou, mas recentemente, Martin Luther King, a injusta prisão de Nélson Mandela, entre outros casos assemelhados de perseguições a quem luta por justiça e igualdade social... Mas, sem dúvida, na História, talvez o mais conhecido e chocante dos casos tenha sido o de Jesus de Nazaré que, aliás, foi modelo para os citados acima no seu método de enfrentar as injustiças, com exceção de Sócrates e Buda que foram de uma época anterior. Dele sabemos que pregou e exemplificou o amor, a justiça, a irmandade entre todos os homens e mulheres e, com isto, expôs uma ética radical que, para o status quo de sua época - e também hoje -, era inaceitável e o levariam ao suplício.
A forma como tratamos os melhores homens e mulheres diz muito de nosso estágio evolutivo. Não é preciso expor exemplos inúmeros para confirmar isto. Basta alguns mais. Citemos, entre tantos, os de Sócrates, Jean Huss, Giordano Bruno, ou, mas recentemente, Martin Luther King, a injusta prisão de Nélson Mandela, entre outros casos assemelhados de perseguições a quem luta por justiça e igualdade social... Mas, sem dúvida, na História, talvez o mais conhecido e chocante dos casos tenha sido o de Jesus de Nazaré que, aliás, foi modelo para os citados acima no seu método de enfrentar as injustiças, com exceção de Sócrates e Buda que foram de uma época anterior. Dele sabemos que pregou e exemplificou o amor, a justiça, a irmandade entre todos os homens e mulheres e, com isto, expôs uma ética radical que, para o status quo de sua época - e também hoje -, era inaceitável e o levariam ao suplício.
Independente de ter
ou não Cristo a intenção de criar uma nova religião, não pode haver dúvidas de
que ele pretendia despertar consciências, como o fizeram antes dele Sócrates,
na Grécia, ou Buda, na Índia. E tal despertar não se faria apenas por uma
aceitação "teórica" da paternidade de Deus. Tal realidade nos faz
todos irmãos e só tem sentido na vivência ética da irmandade. É isto que fica
explícito na doutrina original de Jesus resumida, pelos evangelistas, no famoso
Sermão da Montanha, Aqui, destacamos o seguinte trecho do capítulo 25 do
evangelho atribuído a Mateus, demonstrando , em sua linguagem poética muito
útil para se gravar na memória, bem claramente que Cristo não separava a
consciência do Reino de Deus de sua aplicação social na Terra:
34. Então dirá o Rei aos
que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
35. Porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me;
36. Estava nu, e
vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
37. Então os justos lhe
responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou
com sede, e te demos de beber?
38. E quando te vimos
estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
39. E quando te vimos
enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
40. E, respondendo o Rei,
lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
41. Então dirá também aos
que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos;
42. Porque tive fome, e
não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
43. Sendo estrangeiro,
não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não
me visitastes.
44. Então eles também lhe
responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou
estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
45. Então lhes
responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o
não fizestes, não o fizestes a mim.
Compare
estas palavras com estas outras, também encontradas no evangelho atribuído a
Mateus, capítulo 7:
21. Nem todo o que me
diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus.
22. Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome
não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
23. E então lhes direi
abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.
24. Todo aquele, pois,
que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem
prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
25. E desceu a chuva, e
correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu,
porque estava edificada sobre a rocha.
26. E aquele que ouve
estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que
edificou a sua casa sobre a areia;
27. E desceu a chuva, e
correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi
grande a sua queda.
28. E aconteceu que,
concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;
29. Porquanto os ensinava
como tendo autoridade; e não como os escribas.
Portanto, o
"Reino dos Céus" se advém de Deus e de sua justiça, haveria de ser
aplicado igualmente sobre a terra. Ou, em outras palavras, o a perfeição da
justiça celeste haveria de ser aplicada igualmente na Terra e seu exemplo de
vida seria o paradigma disto. Afinal, "o Reino dos Céus está dentro de
vós" (Lucas 17:20-21).
Isto não impedia
que o próprio Jesus fizesse críticas severas aos que deveriam, mais que todos,
cumprir a Lei Moral do judaísmo, que já traz, no meio de tanta letra morta, as
pérolas referentes à regra de Ouro: Fazer a outrem o que gostaria que se
fizessem.
As discussões por vezes quase violentas entre Jesus e os doutores da Lei do Templo são bem conhecidas, como igualmente conhecida é sua atitude de expulsar os vendilhões do templo. Justiça social e crítica à hipocrisia eram expressões do ensinamento de Cristo e foi isto que lhe faria seguir em rota de colisão com os interesses poderosos deste mundo e o resultado final todos conhecemos. Daí também o fato de que a ética radical de Jesus por vezes ficar encoberta pela letra nos escritos que sobre ele foram feitos, anos depois de sua morte sem que, no entanto, impedisse o despertar, ao menos nos três primeiros séculos, de pessoas de todas as classes sociais para a solidariedade e a crítica social, motivo das perseguições violentas aos cristãos até a época de Constantino. Infelizmente, a clareza revolucionária da mensagem original estaria sendo soterrada por uma série de encobrimentos dogmáticos e teológicos à medida que a Igreja se aproximava mais de César que do povo. Fica, então, uma pergunta: em nossa época de egoísmo exacerbado, individualismo e neofascismo galopante, como os poderosos de hoje tratariam Jesus Cristo?
As discussões por vezes quase violentas entre Jesus e os doutores da Lei do Templo são bem conhecidas, como igualmente conhecida é sua atitude de expulsar os vendilhões do templo. Justiça social e crítica à hipocrisia eram expressões do ensinamento de Cristo e foi isto que lhe faria seguir em rota de colisão com os interesses poderosos deste mundo e o resultado final todos conhecemos. Daí também o fato de que a ética radical de Jesus por vezes ficar encoberta pela letra nos escritos que sobre ele foram feitos, anos depois de sua morte sem que, no entanto, impedisse o despertar, ao menos nos três primeiros séculos, de pessoas de todas as classes sociais para a solidariedade e a crítica social, motivo das perseguições violentas aos cristãos até a época de Constantino. Infelizmente, a clareza revolucionária da mensagem original estaria sendo soterrada por uma série de encobrimentos dogmáticos e teológicos à medida que a Igreja se aproximava mais de César que do povo. Fica, então, uma pergunta: em nossa época de egoísmo exacerbado, individualismo e neofascismo galopante, como os poderosos de hoje tratariam Jesus Cristo?
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