Espiritismo
e outras religiões podem levar ao céu ou ao inferno
por Marcos Villas-Bôas
O
Espiritismo e outras religiões podem levar, a depender do seu uso, as pessoas
ao céu ou ao inferno. Tudo dependerá de como elas irão vibrar após estudar e /
ou praticar essas religiões.
Primeiro,
desmitifique-se a existência de um céu ou de um inferno, tal qual “vendido”
pelas religiões. Há farta literatura e diálogos com os Espíritos gravados em
vídeo que demonstram haver diferentes dimensões de realidade e graus de
consciência, como, aliás, já propõem há décadas os estudiosos da
Transdisciplinaridade com base em substanciais argumentos científicos,
sobretudo da Física.
Encarnados
ou desencarnados, os indivíduos estão a rigor onde eles vibram e atraem o que
vibram. Uma das diferenças é que o encarnado, por estar num corpo físico, fica
como se estivesse preso à matéria grosseira, então, fisicamente, ele está aqui,
presente na Terra e visível aos olhos, mas sua vibração pode estar no umbral ou
até em regiões mais densas, assim como em regiões bem mais sutis. Tudo depende
dos seus pensamentos, das suas escolhas, dos seus comportamentos e das suas
atitudes.
O
desencarnado, por outro lado, pode, salvo no caso de alguns Espíritos
sofredores e outros atípicos, se mover com a força do pensamento e é
rapidamente atraído para dimensões que se afinizam com as vibrações que emite
do seu Espírito.
É assim que
se criam céu e inferno, ou seja, dimensões de luz e de trevas, a partir das
vibrações dos Espíritos, que, em conjunto, plasmam realidades nas quais irão
viver. Enquanto ser divino, que tem Deus dentro de si, os humanos são
co-criadores da realidade.
O umbral
nada mais é do que uma ou mais dimensões de purgação, criadas pelas sombras que
existem nos Espíritos, muitos dos quais atraídos para lá logo após o
desencarne, mas que, mesmo encarnados, já vivem lá vibratoriamente e, por isso,
atraem os seres de lá, que podem terminar se aproveitando de suas fraquezas.
Por conta
dessas razões, mais uma vez chama-se a atenção para a importância do
autoconhecimento, para a compreensão das sombras de cada um e para a busca pela
iluminação dessas sombras. Em vez de se esconder atrás de religiões e de achar
que está emanando uma luz muito maior do que realmente emana, os humanos devem
utilizar as religiões e outras filosofias para “conhecer a si mesmo”, para
trabalhar as suas sombras, elevando o seu padrão vibratório, emanando luz para
os que estão em volta, colocando-se, assim, numa dimensão mais alta
simplesmente por se afinizar com ela e “puxando” outros para que façam o mesmo.
A prática
das religiões, a frequência em templos e, especialmente, o trabalho dentro
deles ilude muitos humanos, que começam a pensar que se tornaram seres
elevadíssimos simplesmente porque rezam no culto ou porque dão passes ou porque
distribuem sopa alguns dias na semana.
Sem querer
obviamente desestimular os rituais nos templos, trabalhos voluntários e a ajuda
ao próximo, que podem ser parte do caminho de elevação da vibração, mais
importante ainda é o ser olhar para dentro e entender se ele está realmente
bem, se os pensamentos que lhe vêm são positivos, se ele está emanando boas
ondas para aqueles a sua volta, se ele acorda pela manhã com gana de viver e
agradecer, se ele não se importa com os que lhe ofendem etc.
Um erro
clássico das religiões é graduar as pessoas, dividir tudo em bom ou mau, Deus e
Diabo, incentivando uma competição para ver quem é melhor, o julgamento de uns
sobre os outros e a culpa de quem julga ter cometido algo mau.
O
Espiritualismo bem estudado mostra que todos têm o bem e o mal dentro de si,
cabendo se autoconhecer, lidar bem com a sombra e trabalhá-la para que a luz
prevaleça com cada vez mais força.
O
autoconhecimento é tarefa muito complexa, apesar de não parecer. Quase todos
acham que se conhecem bem exatamente por não se conhecerem. Isso pode ser
explicado de outro modo: o ignorante simplesmente ignora, ou seja, quem não
compreende algo não pode compreender não que compreende.
Daí porque
apenas se sai desse ciclo vicioso com ajuda de atividades que proporcionem o
autoconhecimento e a iluminação das sombras que existem em grande quantidade
dentro de cada ser que vive nesse estágio de evolução, salvo a pouco provável
existência de algum anjo encarnado entre nós.
O estudo
sobre nós mesmos, sobre os padrões vibratórios, sobre os enganos mais cometidos
pelos humanos, sobre suas sombras etc. é um dos caminhos para a iluminação,
porém o estudo intelectual nos põe sob o risco de mantermos esse processo
exclusivamente na cabeça, não o fazendo passar pelo nosso interior e, portanto,
pelo coração.
Conhecimento
que não passa pelo interior, pelo coração, não se torna sabedoria e tende a ser
gerador de arrogância, de prepotência, de orgulho, de vaidade, de agressividade
e de outros sentimentos trevosos, que são muito comuns nas sombras humanas.
Essa é mais uma prova de que tudo na vida tem um equilíbrio fino. Muito
conhecimento pode ser negativo.
A tarefa do
homem deve ser escolher bem que tipo de conhecimento irá somatizar e fazê-lo
passar sempre pelo interior, o que é facilitado pelo uso de técnicas como a
meditação, que liberta a consciência do ego, elevando-nos para um estágio
superior àquele em que nos encontramos. Atividades com afinidades com a
meditação, como a yoga e o tai-chi chuan, também são muito úteis.
Como também
já dito em outros textos, a terapia, a psicanálise pode ajudar muito no
processo de autoconhecimento, mas ela não é suficiente, pois o indivíduo pode,
por exemplo, se tornar dependente do terapeuta, e alguns destes agem para que
isso aconteça, de forma a garantirem sua remuneração em um prazo mais longo.
A terapia
ajuda a esmiuçar a vida do indivíduo e, a partir de olhares oferecidos por um
terceiro preparado tecnicamente, fica mais fácil começar a identificar nossa
sombra interior antes não percebida. No entanto, apenas o próprio indivíduo
pode saber com profundidade onde estão suas sombras, até porque a análise do
terapeuta é feita com base no que o próprio indivíduo informa.
Nesse
sentido, o estudo aberto, trans, e a meditação ajudam a pessoa a adquirir
conhecimentos variados e a aplicá-los como se estivesse fora, pois a prática
meditativa eleva a consciência e a faz se afastar do ego, permitindo que o
próprio indivíduo seja seu terapeuta, porém com muito mais conhecimento sobre o
seu ego.
Acerca do
tema, vale a pena ver as considerações de Osho:
“Através da
meditação a pessoa transcende seu ser comum.
Surge uma
nova questão para ela, a partir da qual pode olhar para as coisas de uma
maneira nova. É criada a distância. Os problemas estão lá, mas agora estão
muito longe, como se acontecessem com outro alguém. Embora agora ela possa dar
bons conselhos a si mesma, não há necessidade. A própria distância vai torná-la
uma pessoa sábia.
Assim, toda
a técnica de meditação consiste em criar uma distância entre os problemas e a
pessoa.
Em um
determinado momento ela se encontra tão envolvida com seus problemas que não
consegue pensar, não consegue contemplar, não consegue enxergar através deles,
não consegue testemunhá-los.
A
psicanálise ajuda somente no reajuste. Não é uma transformação, isso é uma
coisa.
E a outra
coisa é: na psicanálise a pessoa se torna dependente” (O Livro do Ego, p. 200).
O primeiro
erro mais comum dentre religiosos é não estudar. A maioria pensa que basta
seguir os rituais de suas religiões, ainda que pensem que eles não existem, que
a sua religião é superior às demais, como é o caso de quase todos eles. Veja,
por exemplo, a questão de quem é o consolador prometido mencionado por Jesus
Cristo. Diversas religiões, como o Espiritismo e o Islamismo, pensam ser o
consolador prometido que veio para desvelar todas as dúvidas e todos os males
do planeta.
Como muitos
religiosos não estudam, eles sequer chegam ao estágio de terem muito
conhecimento somatizado apenas no intelecto. Eles ficam com uma pequena
quantidade de conhecimento imposta por meio de dogmas e seguem aquilo como se
estivessem em um transe. Para quem está hipnotizado e dispõe de poucas
ferramentas para sair da hipnose, será muito difícil se ver nessa situação. Assim
como o ignorante ignora, o hipnotizado se hipnotiza, fica ignorante e ignora.
Os
indivíduos precisam ir muito além das suas religiões, buscando conhecer com o
máximo de profundidade as demais e as filosofias que lhes pareçam mais capazes
de ajudar naquela tarefa de autoconhecimento e de iluminação das sombras
interiores. Em um excelente Diálogo com os Espíritos, um dos Srs. Exus Ventania
menciona isso inúmeras vezes: https://www.youtube.com/watch?v=ZzhT_BK6fLo.
A Bíblia é
um livro magnífico, diz ele, mas não adianta lê-la 7 vezes se a pessoa apenas
consegue construir a partir dali conhecimento limitado, não se autoconhecendo o
bastante e, pior, criando inúmeras ilusões sobre quais seriam os caminhos para
a sua ascensão.
O estudo
isolado e mal feito de livros religiosos tem levado em toda a história da
humanidade a um delineamento do mesmo ego do indivíduo numa conformidade do que
um determinado messias ou grupo de Espíritos parece pedir. As pessoas constroem
falsas necessidades, falsos moralismos e pensam ser, a partir dali, os donos da
verdade, por terem à disposição deles supostamente as ferramentas corretas de
iluminação.
Não existe
“O” único livro sagrado, nem “A” ferramenta correta, nem “A” religião
consoladora prometida, nem nenhuma dessas coisas que apenas dão uma falsa
segurança ao ser humano de que ele encontrou o caminho. Existem diversos
caminhos e o ideal é que o máximo deles seja conhecido.
Voltando à
Transdisciplinaridade e, portanto, à Transreligiosidade, já tratadas em textos
anteriores, sabe-se hoje com certa clareza que, quando um estudioso se fecha em
uma única disciplina, diversas dimensões dos problemas ficam às escuras para
ele. É por isso que há muitas décadas, tem-se procurado estudos inter, multi,
pluri e transdisciplinares, aqueles que têm conseguido desvelar mais
descobertas nos últimos 70 anos.
O mesmo vale
para o estudo da Espiritualidade, para a busca pelo aumento de vibração, de
iluminação das sombras interiores. O estágio humano atual é atrasado demais
para se pensar que estamos próximos de saber A Verdade. É inocência achar que
uma religião, uma filosofia, um livro pode nos tornar seres extremamente
iluminados.
O trabalho
de iluminação é lento, penoso, mas podemos acelerá-lo na medida em que nos
abrimos para o novo, em que pesquisamos sobre os nossos próprios pontos cegos.
No atual estágio de existência humana, as sombras são inerentes ao planeta e
aos seus seres. O objetivo desta fase de transição é exatamente trazer mais
Espíritos para a luz, reduzindo suas sombras, criando ao menos boa vontade,
para que se possa constituir um mundo de regeneração, no qual a luz prevalece.
No momento
atual, e nos últimos milênios da Terra, a sombra de certa forma prevaleceu,
ainda que saibamos que os seres de luz estão a guiar tudo. Até hoje se mata por
pequenas coisas, há muitas guerras e riscos até de uma catastrófica guerra
nuclear.
Os problemas
são muitos e não deixarão de existir de uma hora para a outra. É preciso saber
lidar com eles, de certa forma saber que eles estão ali, mas esquecê-los, não
se deixar incomodar por eles. No entanto, é preciso conhecer os problemas, é
preciso entender a sombra em cada um, sobretudo em nós mesmos, e respeitá-la,
pois todos estamos em processo evolutivo.
Um erro de
muitos psicanalistas, e dos humanos em geral, é achar que é possível solucionar
os problemas, especialmente achar que é possível solucioná-los rapidamente. É o
mesmo que achar que somos já muito iluminados ou que as sombras podem ser
destruídas de uma hora para a outra.
Para
concluir, recorramos novamente a Osho:
“[A yoga] A
meditação vai a uma profundidade maior. Ela muda a pessoa, de modo que não
possam ocorrer problemas. A psicanálise lida com os problemas, ao passo que a
meditação lida com a pessoa, diretamente, sem se preocupar nem um pouco com os
problemas. É por isso que o maior dos psicológicos orientais – Buda, Mahavira
ou Krishna – não fala sobre problemas. Devido a isso, a psicologia ocidental
acha que a psicologia é um fenômeno novo. E não é!
Somente no
século XX, na primeira parte desse século, pode ser provado cientificamente,
por Freud, que existe algo como o inconsciente. Buda falava sobre isso 25
séculos antes. No entanto, Buda nunca procurava solucionar qualquer problema,
porque, segundo dizia, os problemas eram infinitos. Aquele que for combater
todos os problemas nunca será realmente capaz de resolvê-los. É preciso lidar
com o próprio homem. E simplesmente esquecer os problemas (p. 203-204).
O
Espiritismo e as demais religiões e filosofias devem procurar o máximo de
abertura e integração com o seu entorno, desestimulando fortemente o
preconceito, a intolerância. Um real conhecimento sobre algo é aquilo que pode
afastar preconceitos.
As pessoas
precisam parar de imediatismos, de achar que são iluminadas porque têm uma
religião ou porque fazem meia dúzia de trabalhos voluntários, ou mesmo que se
tornarão iluminadas em curto prazo apenas por conta disso. É preciso expandir a
consciência, autoavaliar-se em todos os momentos do dia, buscar emanar paz,
caridade e humildade em cada pensamento, escolha, comportamento e até no
silêncio.
As pessoas
precisam de menos rituais (não que muitos deles não sejam relevantes), de menos
livros sagrados, de menos consoladores prometidos, e de mais consciência, de
mais autoconhecimento, de mais abertura, de mais tolerância, de mais paciência,
de mais estudo e de mais meditação.
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