Para despertar a consciência, faça o contrário de hoje
Hoje já não
é mais segredo, até porque foi comprovado cientificamente, que a meditação tem
efeitos positivos drásticos do ponto de vista físico, mental e emocional, mas
há diversas outras técnicas orientais utilizadas para despertar a consciência e
até mais simples do que a meditação.
Parar todo
dia por alguns minutos e ficar apenas observando a respiração profunda, o
entrar e sair do ar, sentindo, por exemplo, a sua temperatura, é uma forma de
dizer para a mente se acalmar e, ao mesmo tempo, de fazê-la pensar: “O que está
acontecendo? Nunca foi assim. Por que ele está desacelerando?”
A maioria
dos professores de meditação inicia o ensino a partir do foco na respiração. Apesar
de existirem vários tipos de meditação, a sua base concepcional é a respiração
encadeada, a mente ficando lenta ou vazia e a consciência atenta.
Muitos acham
uma baboseira e questionam para que fazer isso se há tantas tarefas importantes
a serem desempenhadas ao longo dia. Os viciados em trabalho, por exemplo, se
orgulham disso por se dizerem mais produtivos para a sociedade, por fazerem
mais dinheiro. Aliás, esse discurso é especialmente comum em São Paulo/SP. Mal
sabem, ou até sabem, que estão ficando doentes tanto física quanto mentalmente.
O ser humano
pós-revolução Industrial passou a ter mais comumente rotinas de trabalho e
rotinas de estudo, além das rotinas dos casais, rotinas de cuidado dos filhos
etc. Com a modernização e os inúmeros compromissos, a grande maioria passou a
estar mergulhada em rotinas repetitivas, que não somente tornam a vida e as
relações enfadonhas, mas também deixam o indivíduo inconsciente.
Se olharmos
para os tempos antigos, apesar de haver menos tecnologia, menos vacinas etc.,
ao menos havia muito mais tempo e rotinas que envolviam um passeio pelo campo
ou pela mata, uma maior integração com o restante da natureza. Não havia tantos
compromissos com horários, tanta ansiedade, tanta cobrança e autocobrança.
Com os êxodos
rurais, a urbanização e a redução gradativa do contato da humanidade com o
restante da natureza, a sociedade se mostra perdida em um quebra-cabeça
estressante de rotinas que se dão dentro de prédios, casas, carros, aviões...
Quando o
cérebro começa a repetir as mesmas ações todos os dias, ele passa a agir
mecanicamente, de forma repetitiva e reativa. Isso é bom para um goleiro num
jogo de futebol, que precisa reagir inconscientemente, pois, se pensar, a bola
desviada no zagueiro terminaria entrando no gol; mas, isso não é bom nem mesmo
para o próprio goleiro quando ele está fora do campo.
Muitos
acordam pela manhã e nem realizam algumas respirações antes de levantar da
cama. Aqueles mais espiritualizados podem até orar e agradecer por um novo dia
de aprendizado, tentando estabelecer uma conexão com algo transcendental dentro
das crenças de cada um, o que seria o ideal, mas, não sendo o caso, é
interessante que, ao menos, o sujeito pare alguns minutos e sinta como está, se
descansou bem, se pode mudar algo no seu sono: horário de dormir e acordar, o
ar condicionado pelo ventilador etc.
A maioria
das pessoas já começa o dia inconsciente, age mecanicamente até no despertar,
dando um pulo da cama quando o despertador toca e correndo para o banheiro de
modo a se aprontar para o dia de trabalho, sendo que a maioria já não se sente
plena com a ocupação que tem. Outros enrolam na cama porque não querem
levantar. As suas vidas são pesadas, o sono é intranquilo. Vivem cansadas e
querem continuar na cama eternamente.
Chegando ao
trabalho - que tem, como dizia Jiddu Krishnamurti, quase sempre horários
rígidos e já é uma prisão em si, com superiores, pares e subalternos
controlando a hora que cada um chega, sai ou vai ao médico - a maior parte das
pessoas já tem suas rotinas de ligar o computador, abrir os e-mails, pegar um
café, falar mal de um colega etc.
E assim
segue o dia: mecânico, todo robotizado, repetitivo, reativo. Quanto mais se
repetem as ações, o cérebro deixa de se perguntar se aquilo é útil ou não, se
está tornando o indivíduo melhor ou não, se não está na hora de mudar, se não
há ao menos o que ser aperfeiçoado e assim por diante. É assim que vivem hoje
os humanos em geral, sobretudo os ocidentais.
O sufismo
normalmente é associado a uma corrente mística do Islamismo, porém, para muitos
sábios, como Osho, é mais do que isso. Trata-se de uma filosofia de buscar a
conexão com o divino, o sagrado dentro de si mesmo, tornando-se capaz de fazer
até mesmo mudanças drásticas na rotina para sair das ilusões e limitações do
ego de forma a despertar a consciência, o Eu superior do indivíduo.
Os sufistas
agem, com frequência, mudando suas repetições e dos seus discípulos. Eles são
quebradores de condicionamentos, de automatismos, o que pode gerar choque nas
pessoas, tão acostumadas a ver tudo acontecendo sempre da mesma forma, com
todos tentando preencher as expectativas dos demais ou, quando se vê alguém
quebrando expectativas, normalmente é por corrupção.
O budismo
tem diversas técnicas que conduzem as pessoas por caminhos distintos dos
normalmente seguidos, fazendo o controle realizado pelo ego entrar em
curto-circuito. Quando isso acontece, a mente para e pode permitir algum
despertar de consciência, a entrada de um novo ensinamento.
Tenha
certeza disso: uma das piores coisas para o ser humano é passar muito tempo
acreditando na mesma coisa. Aqueles que são ferrenhos defensores de políticos
ou de bandeiras há muitíssimos anos podem ter certeza de que pouco evoluíram
nesse tempo, pois, à medida em que se aprende, em que se descondiciona, a
pessoa inevitavelmente muda e quase sempre para melhor.
Daí porque
ter certezas, sobretudo se por muito tempo, é um sinal de ego forte no comando
e de menos aprendizado. A educação tem que olhar para isso, formando seres
dinâmicos, extremamente aptos à mudança de ideia, de situação. Muitos sábios
dizem que a sabedoria está exatamente na capacidade de lidar com a mudança.
Em “O Livro
dos Homens”, Osho trata do tema detidamente, lembrando que o sábio armeno
George Gurdjieff, conhecido por ser um grande despertador de consciências,
apesar de muito excêntrico, costumava dizer para os seus discípulos fazerem
exatamente o contrário daquilo que era mais forte em suas vidas.
Se a pessoa
era vegetariana, Gurdjieff dizia: “coma carne”. Se ela nunca tinha ficado sem
comer carne por um tempo, ele dizia para fazê-lo. Se ela não bebia, ele dizia:
“Passe a beber pelo menos por um mês. Beba o máximo possível.”
Ele queria
ver como o discípulo se comportaria numa situação completamente distinta
daquela com a qual estava acostumado. A quebra drástica da sua rotina, por
óbvio, iria causar efeitos radicais e daí poderiam surgir grandes aprendizados.
Nesses momentos, a mente não entende o que está acontecendo e para com a
repetitividade e a reatividade, além de que a pessoa tem sensações novas, que
nunca tinha provado, sendo possível entender melhor o que ela vivia antes de
forma condicionada.
Osho explica
que, por conta disso, nunca se preocupou muito com o que iriam pensar acerca do
que ele dizia. Se ele vivesse tentando atender a expectativas, seria igual a
quase todos os demais. O seu objetivo era mesmo chocar, despertar aquela
fagulha de dúvida que tira o sujeito do automatismo, que o faz refletir sobre a
mesmice dentro da qual vive.
Osho também
diz que, quando critica um político, não se trata necessariamente daquela
pessoa e do que ela faz, ou estaria fazendo igual a todos os demais: tomando um
lado e defendendo-o, com unhas e dentes, como o certo. Muitas pessoas vivem
iludidas ao longo de toda a vida ou se decepcionam amargamente em algum
momento, tornando-se raivosas e/ou deprimidas.
A crítica
dele é ao político dentro de cada um. Quando se atinge o político, atinge-se o
político dentro de cada um. “Todo mundo tem um político dentro de si. O
político significa o desejo de dominar, o desejo de ser o número 1. O político
significa ambição, a ambição da mente” (O Livro dos Homens, p. 74).
Todos que
defendem políticos cegamente são inconscientes, não pararam para analisar o
cenário profundamente, buscando mudar de perspectiva(s) em relação a ele para
que pudessem construir uma visão mais ampla. Apenas querem defender o político
dentro de si, seja por benefícios próprios, seja por crenças fanáticas numa
ideia de “bom” que assumiram, seja por outra razão.
Pensar por
si, sem ir no meio da manada, é tornar-se mais consciente, saindo do
“reativismo”. Quem age tem mais chances de fazer a diferença do que quem reage.
É preciso que o indivíduo deixe de viver no automático, mecanizado. Essa é uma
das principais razões pelas quais os brasileiros são tão facilmente manipulados
pelos políticos.
Não é
necessário que todos se tornem sufistas, apesar de que isso não seria uma má
ideia. Basta começar a respirar, a meditar, a pensar se não poderia fazer nada
diferente e, de fato, tentar fazer exatamente o contrário de hoje em algumas
ocasiões. Não sejam levados pela torrente. Não repitam os mesmos equívocos de
sempre. Vivam despertos e com plenitude!
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