domingo, 11 de março de 2018

Para despertar a consciência, faça o contrário de hoje

Para despertar a consciência, faça o contrário de hoje





Hoje já não é mais segredo, até porque foi comprovado cientificamente, que a meditação tem efeitos positivos drásticos do ponto de vista físico, mental e emocional, mas há diversas outras técnicas orientais utilizadas para despertar a consciência e até mais simples do que a meditação.

Parar todo dia por alguns minutos e ficar apenas observando a respiração profunda, o entrar e sair do ar, sentindo, por exemplo, a sua temperatura, é uma forma de dizer para a mente se acalmar e, ao mesmo tempo, de fazê-la pensar: “O que está acontecendo? Nunca foi assim. Por que ele está desacelerando?”

A maioria dos professores de meditação inicia o ensino a partir do foco na respiração. Apesar de existirem vários tipos de meditação, a sua base concepcional é a respiração encadeada, a mente ficando lenta ou vazia e a consciência atenta.

Muitos acham uma baboseira e questionam para que fazer isso se há tantas tarefas importantes a serem desempenhadas ao longo dia. Os viciados em trabalho, por exemplo, se orgulham disso por se dizerem mais produtivos para a sociedade, por fazerem mais dinheiro. Aliás, esse discurso é especialmente comum em São Paulo/SP. Mal sabem, ou até sabem, que estão ficando doentes tanto física quanto mentalmente.

O ser humano pós-revolução Industrial passou a ter mais comumente rotinas de trabalho e rotinas de estudo, além das rotinas dos casais, rotinas de cuidado dos filhos etc. Com a modernização e os inúmeros compromissos, a grande maioria passou a estar mergulhada em rotinas repetitivas, que não somente tornam a vida e as relações enfadonhas, mas também deixam o indivíduo inconsciente.

Se olharmos para os tempos antigos, apesar de haver menos tecnologia, menos vacinas etc., ao menos havia muito mais tempo e rotinas que envolviam um passeio pelo campo ou pela mata, uma maior integração com o restante da natureza. Não havia tantos compromissos com horários, tanta ansiedade, tanta cobrança e autocobrança.

Com os êxodos rurais, a urbanização e a redução gradativa do contato da humanidade com o restante da natureza, a sociedade se mostra perdida em um quebra-cabeça estressante de rotinas que se dão dentro de prédios, casas, carros, aviões...

Quando o cérebro começa a repetir as mesmas ações todos os dias, ele passa a agir mecanicamente, de forma repetitiva e reativa. Isso é bom para um goleiro num jogo de futebol, que precisa reagir inconscientemente, pois, se pensar, a bola desviada no zagueiro terminaria entrando no gol; mas, isso não é bom nem mesmo para o próprio goleiro quando ele está fora do campo.

Muitos acordam pela manhã e nem realizam algumas respirações antes de levantar da cama. Aqueles mais espiritualizados podem até orar e agradecer por um novo dia de aprendizado, tentando estabelecer uma conexão com algo transcendental dentro das crenças de cada um, o que seria o ideal, mas, não sendo o caso, é interessante que, ao menos, o sujeito pare alguns minutos e sinta como está, se descansou bem, se pode mudar algo no seu sono: horário de dormir e acordar, o ar condicionado pelo ventilador etc.

A maioria das pessoas já começa o dia inconsciente, age mecanicamente até no despertar, dando um pulo da cama quando o despertador toca e correndo para o banheiro de modo a se aprontar para o dia de trabalho, sendo que a maioria já não se sente plena com a ocupação que tem. Outros enrolam na cama porque não querem levantar. As suas vidas são pesadas, o sono é intranquilo. Vivem cansadas e querem continuar na cama eternamente.  

Chegando ao trabalho - que tem, como dizia Jiddu Krishnamurti, quase sempre horários rígidos e já é uma prisão em si, com superiores, pares e subalternos controlando a hora que cada um chega, sai ou vai ao médico - a maior parte das pessoas já tem suas rotinas de ligar o computador, abrir os e-mails, pegar um café, falar mal de um colega etc.

E assim segue o dia: mecânico, todo robotizado, repetitivo, reativo. Quanto mais se repetem as ações, o cérebro deixa de se perguntar se aquilo é útil ou não, se está tornando o indivíduo melhor ou não, se não está na hora de mudar, se não há ao menos o que ser aperfeiçoado e assim por diante. É assim que vivem hoje os humanos em geral, sobretudo os ocidentais.

O sufismo normalmente é associado a uma corrente mística do Islamismo, porém, para muitos sábios, como Osho, é mais do que isso. Trata-se de uma filosofia de buscar a conexão com o divino, o sagrado dentro de si mesmo, tornando-se capaz de fazer até mesmo mudanças drásticas na rotina para sair das ilusões e limitações do ego de forma a despertar a consciência, o Eu superior do indivíduo.

Os sufistas agem, com frequência, mudando suas repetições e dos seus discípulos. Eles são quebradores de condicionamentos, de automatismos, o que pode gerar choque nas pessoas, tão acostumadas a ver tudo acontecendo sempre da mesma forma, com todos tentando preencher as expectativas dos demais ou, quando se vê alguém quebrando expectativas, normalmente é por corrupção.

O budismo tem diversas técnicas que conduzem as pessoas por caminhos distintos dos normalmente seguidos, fazendo o controle realizado pelo ego entrar em curto-circuito. Quando isso acontece, a mente para e pode permitir algum despertar de consciência, a entrada de um novo ensinamento.

Tenha certeza disso: uma das piores coisas para o ser humano é passar muito tempo acreditando na mesma coisa. Aqueles que são ferrenhos defensores de políticos ou de bandeiras há muitíssimos anos podem ter certeza de que pouco evoluíram nesse tempo, pois, à medida em que se aprende, em que se descondiciona, a pessoa inevitavelmente muda e quase sempre para melhor.

Daí porque ter certezas, sobretudo se por muito tempo, é um sinal de ego forte no comando e de menos aprendizado. A educação tem que olhar para isso, formando seres dinâmicos, extremamente aptos à mudança de ideia, de situação. Muitos sábios dizem que a sabedoria está exatamente na capacidade de lidar com a mudança.

Em “O Livro dos Homens”, Osho trata do tema detidamente, lembrando que o sábio armeno George Gurdjieff, conhecido por ser um grande despertador de consciências, apesar de muito excêntrico, costumava dizer para os seus discípulos fazerem exatamente o contrário daquilo que era mais forte em suas vidas.

Se a pessoa era vegetariana, Gurdjieff dizia: “coma carne”. Se ela nunca tinha ficado sem comer carne por um tempo, ele dizia para fazê-lo. Se ela não bebia, ele dizia: “Passe a beber pelo menos por um mês. Beba o máximo possível.”

Ele queria ver como o discípulo se comportaria numa situação completamente distinta daquela com a qual estava acostumado. A quebra drástica da sua rotina, por óbvio, iria causar efeitos radicais e daí poderiam surgir grandes aprendizados. Nesses momentos, a mente não entende o que está acontecendo e para com a repetitividade e a reatividade, além de que a pessoa tem sensações novas, que nunca tinha provado, sendo possível entender melhor o que ela vivia antes de forma condicionada.

Osho explica que, por conta disso, nunca se preocupou muito com o que iriam pensar acerca do que ele dizia. Se ele vivesse tentando atender a expectativas, seria igual a quase todos os demais. O seu objetivo era mesmo chocar, despertar aquela fagulha de dúvida que tira o sujeito do automatismo, que o faz refletir sobre a mesmice dentro da qual vive.

Osho também diz que, quando critica um político, não se trata necessariamente daquela pessoa e do que ela faz, ou estaria fazendo igual a todos os demais: tomando um lado e defendendo-o, com unhas e dentes, como o certo. Muitas pessoas vivem iludidas ao longo de toda a vida ou se decepcionam amargamente em algum momento, tornando-se raivosas e/ou deprimidas.

A crítica dele é ao político dentro de cada um. Quando se atinge o político, atinge-se o político dentro de cada um. “Todo mundo tem um político dentro de si. O político significa o desejo de dominar, o desejo de ser o número 1. O político significa ambição, a ambição da mente” (O Livro dos Homens, p. 74).

Todos que defendem políticos cegamente são inconscientes, não pararam para analisar o cenário profundamente, buscando mudar de perspectiva(s) em relação a ele para que pudessem construir uma visão mais ampla. Apenas querem defender o político dentro de si, seja por benefícios próprios, seja por crenças fanáticas numa ideia de “bom” que assumiram, seja por outra razão.

Pensar por si, sem ir no meio da manada, é tornar-se mais consciente, saindo do “reativismo”. Quem age tem mais chances de fazer a diferença do que quem reage. É preciso que o indivíduo deixe de viver no automático, mecanizado. Essa é uma das principais razões pelas quais os brasileiros são tão facilmente manipulados pelos políticos.

Não é necessário que todos se tornem sufistas, apesar de que isso não seria uma má ideia. Basta começar a respirar, a meditar, a pensar se não poderia fazer nada diferente e, de fato, tentar fazer exatamente o contrário de hoje em algumas ocasiões. Não sejam levados pela torrente. Não repitam os mesmos equívocos de sempre. Vivam despertos e com plenitude! 


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