Religião é seguir e religiosidade é buscar por si mesmo
“Então, meu trabalho não é
um movimento para criar uma religião, mas para criar religiosidade. Eu encaro a
religiosidade como uma qualidade – não como uma parte de uma organização, mas
como uma experiência interior do próprio ser” (Osho, Autobiografia de um
místico espiritualmente incorreto, p. 1-2/5 do capítulo “O líder de um culto”
da versão eletrônica).
As religiões, de um modo
geral, ao longo da história têm recaído, em regra, em pessoas doutrinadas que
seguem messias, livros, sacerdotes e dogmas. Como explicam os mestres
ascensionados no programa Diálogo com os Espíritos, cada um se afiniza com
aquilo que vibra e as religiões terminam servindo àqueles que estão nas suas
faixas de vibração, mas elas são desnecessárias para a ascensão espiritual, que
tem a ver muito mais com um processo de autoconhecimento e auto melhoramento.
A religião que liga o
indivíduo ao divino dentro de si não trata de seguir algo, mas apenas de
encontrar a si mesmo por meio de uma constante busca. Religiosos tradicionais
são seguidores de instituições, messias e gurus, mas religiosos, na acepção
real da palavra, são buscadores.
Os mestres ascensionados,
no programa Diálogos com os Espíritos, também explicaram que os verdadeiros
mestres estão dentro de cada um, que cada indivíduo é um mestre em potencial,
de modo que só precisa despertá-lo. Os encarnados, que se sentem ainda tão
dependentes de heróis, santos, messias, mestres etc., têm o mestre dentro de
si, mas não acreditam nisso.
A humanidade não precisa
de mais mestres que se apresentam como gurus dispostos a responder sobre todos
os assuntos e a serem seguidos pelos demais. O processo de transição planetária
da Terra requer facilitadores do autoconhecimento e do auto melhoramento da
humanidade, que colaborem para o despertar do mestre dentro de cada indivíduo,
com a libertação das ilusões e limitações, muitas delas impostas pelo
inconsciente coletivo e por atavismos individuais.
É por isso que se fala
tanto em despertar, expandir, ampliar a consciência como o objetivo mais
importante da encarnação. Daí se entende a utilidade do sofrimento, que, muitas
vezes, consegue tirar o indivíduo daquela estagnação e lhe levar a perceber
algo novo.
Carl Jung já dizia que é
preciso acordar o mestre em cada um por meio da aproximação entre o ego (a
personalidade do encarnado) e o seu Eu superior (o espírito). É como ir
continuamente desvelando ilusões e limitações até que sobre apenas a centelha
divina, o puro amor incondicional.
Pode-se falar em
diferentes níveis de consciência pelos quais vamos passando à medida em que nos
conhecemos melhor e em que estamos mais em paz conosco e com os outros,
compreendendo nossas peculiaridades e as dos demais. Enquanto estamos em um
nível de consciência, é muito difícil compreender alguns aspectos mais afetos
aos níveis conscienciais superiores.
Daí porque muitas pessoas
não se entendem umas com as outras. Em diferentes níveis de consciência, de
capacidade de compreensão da realidade, é muito mais difícil que haja
concordância, e não adianta um tentar ficar impondo sua verdade ao outro, pois
não se deve exigir do outro aquilo que ele não pode dar. É falta de
inteligência e, sobretudo, de sabedoria querer tirar leite de pedra, expressão
que apenas faz sentido na linguagem figurada, e não na experiência.
Os seres humanos, e isso é
muito vivo nas religiões, tentam mudar uns as ações dos outros, mas o que
deveria ser feito, de forma cautelosa e amorosa, é tentar despertar a
consciência uns dos outros. Para que haja mudança de pensamentos, sentimentos,
emoções e ações, é preciso que primeiro haja mais consciência, mais luz, mais
percepção.
“Para mim foi uma surpresa
descobrir que quando você se torna silencioso, quando se torna consciente e
mais alerta, suas ações começam a mudar – e não vice versa. Você pode mudar
suas ações, mas isso não o tornará mais consciente. Quando você se tornar mais
consciente, é que suas ações vão mudar...Isso é absolutamente simples e científico.
Você estava fazendo algo estúpido; à medida que você se tornar mais alerta e
mais consciente, não poderá mais fazê-lo” (Osho, Autobiografia de um místico
espiritualmente incorreto, p. 13/16 da versão eletrônica).
Osho acerta em cheio na
importância da meditação para o despertar da consciência e, diferentemente da
maioria, ensina que meditar não é simplesmente aplicar algumas técnicas de
respiração e de limpar a mente. Para ele, meditar é estar consciente e isso
pode ser feito de forma ativa, observando a sua volta sem ficar verbalizando,
ou seja, é sentir a realidade sem deixar a mente ser barulhenta, ficar trazendo
inúmeros pensamentos. A verbalização mental é, então, ligada e desligada
durante o dia. Apenas é usada quando necessário para se comunicar, por
exemplo.
Na visão de meditação
ativa de Osho, a pessoa pode estar nesse estado durante todo o dia, pois ela
não depende de um local sem barulho, nem de mantras. O que amplia a
consciência, segundo ele, é praticar o estar consciente, alerta, com a mente
silenciosa, o máximo de tempo, e isso faz muito sentido.
Não estamos a dizer que as
técnicas de meditação não ajudam. O próprio Osho criou algumas específicas para
os ocidentais. Há vasta comprovação científica de que elas alteram o cérebro para
melhor e provocam inúmeros benefícios às pessoas, mas, como concluíram Daniel
Goleman e Richard J. Davidson no livro A Ciência da Meditação, há diversos
outros aspectos importantes a serem integrados à prática meditativa para que a
pessoa sinta resultados mais palpáveis.
Osho também acerta ao
afirmar que é a consciência se despertando o que vai alterando as ações, não
sendo possível exigir que alguém mude se ela continua vendo as coisas da mesma
forma. Isso reforça a ideia de que impor nunca é a solução. É preciso utilizar
de artifícios argumentativos e práticos, como a meditação e terapias, para que
a pessoa desperte daquele sono de consciência no qual se encontra.
“Quando a consciência
torna-se assentada, todos os padrões de vida mudam. O que as religiões chamam
de pecado desaparece, e o que chamam de virtude automaticamente flui de seu
ser, de suas ações. Mas as religiões têm feito exatamente o contrário, tentando
mudar primeiro os atos. É como se as pessoas estivessem numa casa escura,
tropeçando nos móveis e nos objetos, e dissessem a elas que não terão luz a
menos que parem de tropeçar. O que estou dizendo é: traga a luz e os tropeços
desaparecerão” (Osho, Autobiografia de um místico espiritualmente incorreto, p.
14/16 da versão eletrônica).
Não se deve achar que a
meditação irá necessariamente tornar a pessoa feliz de uma hora para a outra e
para sempre, apesar de que, se já estiver pronta, isso pode acontecer. A
meditação, os estudos sem limitações religiosas, as terapias para
autoconhecimento, a busca por compreender tudo e todos com amor incondicional
são passos que tendem a levar ao despertar da consciência, mas há muitos
degraus.
Não é incomum olharmos
para o ano anterior e percebermos que não entendíamos certas coisas as quais
estão mais claras agora ou que cometíamos erros que não cometemos mais. Isso é
uma ascensão na escada da consciência, um passo no despertar. A cada momento em
que reconhecemos mais dos nossos equívocos, lança-se luz sobre as sombras e, a
partir dali, fica muito mais fácil de se dominar e de até usar as sombras em
nosso favor.
“Se houver luz, por que
você tropeçaria nas coisas? Toda vez que tropeça, toda vez que bate a cabeça na
parede, dói. Isto é em si uma punição, um ato errado é em si uma punição, não
há ninguém registrando os seus atos. E toda bela ação é em si uma recompensa.
Mas primeiro traga luz para sua vida” (Osho, Autobiografia de um místico
espiritualmente incorreto, p. 14/16 da versão eletrônica).
Se perceber, aceitar e
reconhecer as nossas ilusões e limitações, que é o mesmo que lançar luz sobre
as nossas sombras, é o caminho para estar consciente do que se faz de negativo
e transmutar isso em positivo, as pessoas precisam parar de se auto sabotar, de
jogar para debaixo do tapete aquilo que incomoda, de se ferir quando alguém lhe
mostrar um erro.
Quanto mais à luz
estiverem as sombras, mais iluminadas estarão e mais fácil será lidar com elas.
É por isso que é útil fazer boas terapias (psicanálise, thetahealing, consultas
com guias espirituais etc.) e lançar luz sobre as sombras a partir de um
terceiro, assim como é útil procurar sozinho a erupção das sombras, trazê-las à
luz, por meio de medicinas de cura xamânicas, por exemplo.
Quanto mais se segue
dogmas, quanto menos se questiona, quanto mais alguém se julga perfeito ou
próximo da perfeição, quanto mais entende ter sido salvo por alguém ou por uma
religião, mais ele ou ela irá deixar de buscar o autoconhecimento, o auto
melhoramento e um conhecimento mais diverso, amplo.
O momento é de
encontrarmos o mestre em nós mesmos, e não de continuarmos seguindo. Como
fizeram os chamados mestres ascensionados no programa Diálogo com os Espíritos,
um verdadeiro mestre tem esse princípio como um dos seus primordiais e deixa
isso muito claro para os seus discípulos. Não é mais tempo de seguir gurus que
estão prontos para dizer o que os outros devem pensar, sentir e fazer a
respeito de tudo, mesmo quando não têm conhecimento ou não viveram aquilo na
prática.
A religião tradicional
torna as pessoas seguidoras, fieis, adoradoras, mas a religiosidade, a
espiritualidade, torna-as buscadoras, questionadoras, pesquisadoras,
sensitivas, conscientes.
Marcos de Aguiar
Villas-Bôas é terapeuta holístico, espiritualista universalista, reikiano usui,
reikiano xamânico, estudante de psicanálise, praticante de meditação e amante
do todo e de todos. Deixou a sociedade de um dos maiores escritórios de
advocacia do país, sediado em São Paulo/SP, para seguir seu sonho de realizar
pesquisas em Harvard e em outras universidades estrangeiras, mas, após atingir
muitos dos seus objetivos materiais, percebeu, por meio da Yoga, de estudos e
práticas espiritualistas sem restrições religiosas, que seus sonhos e suas
missões iam muito além das vaidades acadêmica e profissional. Hoje busca
despertar a consciência, o mestre dentro de si, e ajudar os outros a fazerem o
mesmo.
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