Há Provas Científicas da Existência
dos Espíritos? Parte II
por Marcos Villas-Bôas
No texto passado, iniciamos uma busca por provas científicas da
existência dos Espíritos e começamos utilizando uma obra de Carl Gustav Jung,
um dos principais estudiosos da Psicologia em toda a história humana, e outra
de Camille Flammarion, um dos principais estudiosos da Astronomia em toda a
história humana. Em comum, suas obras tinham o estudo científico dos Espíritos
e a conclusão de que eles existem.
A seriedade com que esses dois e outros estudiosos empreenderam seus
estudos afasta a acusação de que a Ciência Espírita seria misticismo, uso de
pseudociência para justificar uma religião. Jung e Flammarion se questionaram,
ao longo de toda a vida, sobre a realidade dos fenômenos que enfrentavam e
observavam.
Flammarion, por exemplo, criticava aberta e diretamente parte dos
espíritas por sua falta de método científico e muitos médiuns que eram
embusteiros:
“A respeito desses fenômenos, tem-se falado muito em espiritismo. Alguns
dos seus defensores acreditam tê-lo consolidado, apoiando-o em uma base também
frágil. Os opositores acreditam tê-lo excluído definitivamente e o enterrado
sob o desmoronamento de um armário. Ora, os primeiros mais o comprometeram do
que o serviram; os segundos, não conseguiram derrubá-lo, apesar de tudo. Mesmo
que seja demonstrado que no espiritismo não exista senão truques de
prestidigitação, a crença na existência de almas separadas do corpo não será
absolutamente atingida. Além disso, as trapaças dos médiuns não provam que eles
trapaceiam sempre. Elas apenas nos põem de sobreaviso e nos convidam a ser
muito severos em nossas observações. Quanto à questão psicológica da alma e à
análise das forças espirituais, estamos ainda hoje no ponto em que a química
encontrava-se no tempo de Alberto, o Grande, ignoramos! Portanto, não podemos
ficar num justo meio-termo, entre a negação que recusa tudo e a credulidade que
aceita tudo? É razoável negarmos tudo o que não compreendemos, ou acreditarmos
em todas as loucuras que imaginações doentias dão à luz umas após as outras?
Não podemos possuir ao mesmo tempo a humildade que convém aos fracos e a
dignidade que convém aos fortes?” (As forças naturais desconhecidas, p. 20).
Nas páginas seguintes do seu livro, Flammarion conta sobre experimentos
que realizou com a médium Eusapia Palladino, de Nápoles, que foi a Paris a
convite do Instituto Geral de Psicologia (IGP). Entre os diversos cientistas
que a estudaram, ele destaca Pierre Curie, vencedor do Prêmio Nobel juntamente
com sua esposa Marie Curie, que foi a primeira mulher a ganhar tal prêmio duas
vezes e também adepta da teoria da existência dos Espíritos:
“Entre esses cientistas, citarei Pierre Curie, eminente químico, com o
qual conversei alguns dias antes de sua morte tão infeliz e tão horrível. Essas
experiências eram para ele um novo capítulo do grande livro da natureza, e
também ele estava convencido que existem nelas forças ocultas, a cuja
investigação não é anticientífico se consagrar” (As forças naturais
desconhecidas, p. 22).
Outro que estudou a mesma médium citada, além de muitos outros
paranormais, foi Charles Richet, também vencedor do Prêmio Nobel,
comprovando-se que houve repetidos experimentos científicos, realizados pela
mentes mais brilhantes do mundo, que chegaram a conclusões semelhantes. Isso
não faria prova científica? Então, o que faria? Fotografias? Os incrédulos
dirão que foram alteradas ou que não mostram exatamente aquilo que está lá
registrado.
Flammarion e o IGP tiravam fotografias de alguns de seus experimentos,
como, por exemplo, o realizado com a médium Eusapia Palladino de levantamento
de uma mesa por ter as mãos espalmadas nela e até mesmo sem sequer tocá-la:
“Eis o caso de uma mesinha redonda. Eu vi, muitas vezes, uma mesa
bastante pesada elevar-se a quatro, vinte, trinta e quarenta centímetros de
altura, e dela tirei fotografias bem incontestáveis. Constatei, por tantas
vezes, que a suspensão desse móvel com as mãos de quatro ou cinco pessoas
colocadas sobre dele, produzia o efeito de flutuação de uma tina cheia de água
ou de um fluido de plástico, que, para mim, a levitação dos objetos não é mais
duvidosa do que a de um par de tesouras levantado com a ajuda de um imã. Mas,
desejo de examinar sem pressa como a coisa se operava, uma tarde em que me
encontrava quase sozinho com Eusápia (29 de março de 1906, nós éramos, nos
total, quatro), pedi que ela pusesse, juntamente comigo, as mãos sobre a
mesinha redonda, sendo que as duas outras pessoas mantiveram-se à distância. O
móvel foi, bem-depressa, suspenso a trinta ou quarenta metros do assoalho,
enquanto nós dois estávamos de pé. No momento da produção do fenômeno, a
médium, colocando uma de suas mãos sobre uma das minhas, apertou-a
energicamente, e a outra mão de cada um de nós ficou próxima uma da outra.
Houve, aliás, tanto de sua parte, como da minha, um ato de vontade expresso por
palavras, por comandos ao ‘espírito’: Vamos! Levante a mesa! Ânimo! Vejamos!
Faça um esforço! etc. Constatamos imediatamente que havia dois elementos
presentes. De um lado, os experimentadores dirigindo-se a uma entidade
invisível. De outro, a médium sofre uma fadiga nervosa e muscular, e seu peso
aumenta em proporção ao do objeto levantado (mas não em proporção exata).
Devemos agir como se lá houvesse, realmente, um ser que estivesse ouvindo.
[...] Não seria possível que ao nos esforçarmos, originássemos uma liberação de
forças que agiriam exteriormente aos nossos corpos? Mas não há, nestas
primeiras páginas, lugar para começarmos a imaginar hipóteses. Naquele dia, a
experiência que acabo de citar foi repetida três vezes consecutivas, em plena
luz de um lustre a gás, e nas mesmas condições de evidência absoluta. Uma
mesinha redonda, pesando cerca de seis quilos, foi suspensa por essa força
desconhecida. [...] Devo acrescentar que, muito amiúde, a levitação do móvel
prossegue, mesmo que os experimentadores param de tocar a mesa. Há aí um movimento
sem contato”.
Vide foto de experimentos realizados em 6 de julho de 1905, dos quais
participaram Camile Flammarion, Pierre Curie, Eusapia Palladino e outros. Há
outras fotos na Internet que retratam experimentos de levitação de mesas com
ajuda espiritual, fenômeno amplamente conhecido do final do século XIX para o
início do século XX, documentado de diferentes formas, inclusive em inúmeros
jornais, e abertamente discutido pelas pessoas.
Para constituir prova científica robusta, precisaríamos de outros
estudiosos, como Jung, Flammarion e o casal Curie, com vasto conhecimento,
enorme inteligência e respeitabilidade bem acima da média, que comprovassem
experimentos de cunho espiritual e fossem capazes de explicá-los. Também seria
prudente considerar o “uso” de outros médiuns, partindo do pressuposto,
pouquíssimo crível por conta das características descritas, de que qualquer um
poderia ter fraudado os experimentos.
Voltemos, então, ao vencedor do Nobel de Medicina Charles Richet, que
também realizou experimentos com Eusapia Palladino e outros diferentes médiuns,
sofrendo diversas críticas dos incrédulos, o que lhe levou a afirmar o seguinte:
“Pois quê! Tudo o que até aqui temos visto não passa de fraude! Essa
fraude começou com as meninas Fox, que extravagantemente imaginaram ser
divertido produzirem pancadas. Daí pra cá milhares de indivíduos, muito
crédulos, não há que ver, porém a maioria imbuída de fé sincera, obtém, nas
suas sessões particulares, tão só para se acomodarem aos caprichos das meninas
Fox, fenômenos de pancadas. Um dia Home teve o desplante de produzir uma mão
fantasmática. Por causa disso, Slade, Stainton Moses, produziram também mãos
fantasmáticas. Um dia Eva teve vontade de velhaquear e fez cair ectoplasmas de
sua boca. Por causa disso, Stanislawa, Willy, a Srta. Goligher, resolveram
também velhaquear como Eva. Esse amontoado de embustes, tendo desafiado todos
os controles, é de uma inverossimilhança igual pelo menos àquela da
ectoplasmia. O futuro – um futuro mesmo muito próximo – julgará o litígio”.
Para negar a existência de prova científica após tantos experimentos
documentados, seria necessário que outros muitíssimos experimentos fossem
realizados hoje com médiuns e que se encontrasse outras razões, que não as
espirituais, para as dezenas de tipos de diferentes fenômenos gerados por eles
com ajuda de inteligências espirituais. Ficar apenas acusando todos de embusteiros
ou de delirantes revela baixeza.
Conforme afirma também Richet:
“Não posso, num prefácio, entrar numa discussão que mais para adiante
será exposta com brevidade. Contentar-me-ei em dizer que as experiências
negativas, a não ser que o sejam em número enorme – e ainda bem! – nada provam
contra uma experiência positiva.
Uma única experiência positiva – com a condição, claro está, de ser feita
corretamente – tudo leva de vencida. Por exemplo, tenho entre as minhas mãos as
de Eusápia, levanto-as para cima, separando-as, e nesse meio tempo outra mão me
acaricia. Eis aí uma experiência positiva: não sei como podem infirmá-la,
alegando: ‘Cem vezes separei as mãos de Eusápia e jamais percebi uma terceira
mão’. Esta negação nada prova e fica um terceiro obrigado a demonstrar como
pude, assim como Fred. Myers e Olivier Lodge, ser enganado desta maneira.
Na verdade, novas experiências com pessoas assim tão caprichosas, tão
desconfiadas, serão sempre necessárias, porque indiscutivelmente a metapsíquica
objetiva não está ainda construída em bases fortes como metapsíquica subjetiva,
o que se deve à extrema raridade de médiuns de efeitos físicos e à facilidade
(relativa) de fraude”.
Tenha-se em mente que o IGP realizou dezenas de pesquisas com diferentes
médiuns, não apenas com Eusapia Palladino. O foco de vários cientistas sobre
ela, por longo período, se devia ao fato de que conseguia produzir de modo
claro as bem menos comuns manifestações físicas.
Em carta datada de 17 de setembro de 1894, Pierre Curie diz o seguinte a
sua esposa Marie:
“Devo confessar que esses fenômenos me intrigam muito. Acredito que haja
temas intimamente relacionados com a física. [...] Há algum agente desconhecido
responsável por estes fenômenos? Seria apenas puro magnetismo?”.
O IGP havia criado uma sala no número 14 da Rua Condé, em Paris, com o
aparato tecnológico mais avançado da época para registrar em fotos os
experimentos e controlar os efeitos provocados e sentidos por Eusapia durante
eles. Segundo Pierre Curie, os controles eram “de excelente qualidade durante
toda a sessão”.
Havia uma vela para clarear Eusapia e não permitir que realizasse
qualquer ação mecânica sobre a mesa. Pierre chegou a controlar seus joelhos e
diferentes controles eram exercidos ao longo dos experimentos. Na sessão seguinte,
ele levou sua esposa Marie para que pudesse tornar as experimentações ainda
menos dependentes da subjetividade dele. Seguiam-se controles, como amarrar a
médium, segurar membros do seu corpo, fazer com suas mãos ou uma delas não
tocasse a mesa etc.
Todos esses experimentos estão fartamente documentados, como no relatório
de Jules Courtier intitulado “Rapport sur les seances d’Eusapia Palladino”
(Relatório sobre as reuniões de Eusapia Palladino).
Parece que há sobras de provas científicas acerca da existência de
“forças naturais desconhecidas”. Se unirmos as pesquisas de Allan Kardec, às de
Camile Flammarion, Pierre Curie, Marie Curie, Charles Richet, Carl Jung e
muitos outros, não ficam dúvidas para um sujeito racional e aberto ao novo
acerca da existência de Espíritos, médiuns e suas manifestações, todas muito
bem explicadas – apesar de ser possível desenvolvê-las, aprofundá-las – por
Allan Kardec no Livro dos Médiuns.
Apesar disso, a pouca divulgação que se deu a esses estudos e a sua pouca
repetição nas últimas décadas culminou numa baixa disseminação da fundamental
e, no nosso modo de ver, comprovada hipótese da natureza de que Espíritos
existem e se comunicam com os humanos encarnados a todo momento, informações
suficientes para dar uma completa guinada em nossas vidas.
Aos que aceitam essas provas científicas, cabe, dentro de suas
possibilidades, continuar os estudos, as experimentações daqueles grandes
cientistas e difundir ao máximo esse conhecimento, para que, aceitando a
existência dos Espíritos, os humanos possam estudar seus ensinamentos morais,
sobretudo, e intelectuais, de modo a construir uma nova humanidade no Planeta
Terra.
No texto seguinte, veremos mais detalhes sobre os experimentos aqui
comentados a partir das obras dos estudiosos referidos e de outros, colaborando
para que cada um possa tirar suas próprias conclusões acerca da existência ou
não de Espíritos, mas de modo bem fundamentado, olhando para diversos
experimentos, teorias e acontecimentos singulares que ajudam na racionalização
do problema.
Imagem: http://pesquisandoespiritismo.tumblr.com/post/124697365896/texto-quem-foi-nicolas-camille-flammarion
Nenhum comentário:
Postar um comentário