domingo, 14 de fevereiro de 2016

A LIBERDADE DO PERDÃO



A LIBERDADE DO PERDÃO

 
 

                                                João Carvalho Neto
Muito se fala sobre a necessidade do perdão dentro das concepções filosóficas cristãs, contudo, também se reconhece a dificuldade em exercê-lo, talvez porque ele nos venha sendo imposto como uma obrigação e não construído através de uma verdadeira convicção.
Em minhas atividades profissionais tenho podido constatar como a sua falta limita as possibilidades de vida dos seres humanos, isso porque conflitos não resolvidos passam a ser referencial para a observação de novos conflitos, fazendo com que eles se tornem
potencializados. Ou seja, se você não se libertou de um conflito no passado, recente ou remoto, a chance de resolver satisfatoriamente novos conflitos se torna significativamente menor, pois a reação não elaborada quanto ao primeiro evento passa a alimentar reações cada vez mais fortes diante dos eventos subsequentes.
Afirmo com isso que, se você ainda guarda raiva contra alguém de algo passado, diante de um fato novo com outra pessoa que possivelmente não seria tão significativo, você tenderá a potencializar o fato novo com as emoções reprimidas do passado.
Talvez por isso Jesus tenha dito: “Concerta-te sem demoras com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não suceda que ele te entregue ao juiz, e que o juiz te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá, enquanto não pagares o último ceitil”. (MT, V: 25-26)
Esta passagem tem sido interpretada na nossa visão “taliônica” da Lei de Causa e Efeito como: se eu errar contra alguém vou ser punido, situação que hoje não me parece tão objetiva e direta assim. Prefiro então interpretar essa passagem de Jesus como se você não perdoar aquele que te ofendeu tua percepção das situações futuras ficará prisioneira deste fato anterior, de tal forma que não veremos o presente tal qual ele é, mas como nosso olhar tendencioso pelos rancores passados vai enquadrá-lo.
Aliás, em passagem muito pertinente a esta interpretação, Emmanuel, no livro “Pão Nosso” afirma: “As situações externas serão retratadas em teu plano interior, segundo o material de reflexão que acolhes na consciência.” Tenho percebido também que, do ponto de vista energético, durante um conflito fabricamos matéria mental que fica registrada no éter cósmico, em uma memória cósmica, a que os orientais chamam de Registros Akáshicos. Pois esses registros são um sistema de energia sustentado pelas emoções das partes envolvidas no conflito, mas que passa a retroalimentar essas mesmas partes, de tal forma de que enquanto o sistema não for dissolvido pelo perdão, energeticamente essas pessoas permanecem presas àquela memória, exigindo reencontros encarnatórios sucessivos até que a matéria mental ali fixada seja diluída para a libertação final.
Vejamos, então, como a falta do perdão nos aprisiona a modelos de reações e às pessoas. Na verdade o que nos leva a reagir agressivamente contra alguém, ativamente ou de forma reprimida, é a convicção na culpa patológica que, religiosamente nos foi introjetada em correlação com o castigo. Ou seja: quem é culpado merece ser castigado, uma convicção plenamente humana e nunca divina.
Por nos acreditarmos culpados é que tendemos a atribuir culpas exacerbadas nos outros, vivenciando a necessidade de castigá-los, ativamente ou em pensamentos reprimidos.
Temos dificuldades em nos percebermos alunos na escola da vida, passíveis de erros uns contra os outros nos exercícios que ela nos propõe e, portanto, necessitados de tolerância com nossos próprios erros e com os dos demais. Quando nos damos conta de que o outro que nos feriu o fez porque era o que podia fazer diante de sua compreensão limitada da vida, de que ele erra porque não sabia fazer melhor, e que, muitas vezes  se não em todas  ele é um agente do nosso próprio aprendizado, ficaria muito mais fácil perdoá-lo e, até mesmo, agradecer-lhe a oportunidade de realizarmos nosso crescimento.
Por tudo isso, perdoar é um imenso exercício de libertação, nos possibilitando sermos realmente gratos a Deus por toda e qualquer experiência com que nos confrontamos, vivenciando uma paz que o mundo das competições, dos orgulhos e das honras ainda não conhece.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros: “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”. www.joaocarvalho.com.br 
João Carvalho Neto participará do VII CONGRESSO RAMATIS DO BRASIL.       
Imagem:

http://www.frasesparaface.com.br/frases-perdao/

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