As Provas da Miséria e da Riqueza
Antônio Moris Cury
A Terra é um
planeta de provas e de expiações e, por isso, de categoria inferior no
Universo, superando apenas os mundos primitivos, razão pela qual é impossível
nela encontrar-se a perfeição, conquanto nos caiba a todos buscar com
determinação e disciplina o auto-aperfeiçoamento, intelectual e moral.
Quando nos
encontramos na erraticidade, em fase de estudos e de trabalho em variados
campos, na condição de Espíritos propriamente ditos, fora do corpo físico
portanto, participamos, muitas vezes, do planejamento de nossa próxima
reencarnação, escolhendo as provas pelas quais desejamos passar na existência
seguinte, dentre as quais se encontram as da miséria e da riqueza.
A análise
superficial dessa questão pode levar-nos à conclusão de que, se assim é, ninguém,
nenhuma criatura, escolherá a prova da miséria.
Ledo engano,
ledo equívoco.
Com efeito,
desvestido do corpo físico, o ser humano, quando mais evoluído, tem outro grau
de percepção, não ficando adstrito exclusivamente aos cinco sentidos que
conhecemos (visão, audição, tato, olfato e paladar), vislumbrando com
considerável facilidade o que é melhor e mais conveniente fazer para alcançar
níveis de progresso e evolução cada vez maiores.
Às vezes,
chega até a exagerar na escolha de provas de difícil consecução a um só tempo,
em uma só existência, a tal ponto que, não raro, os Espíritos, que participam
do planejamento e que avalizam a reencarnação, aconselham a redução das
provações, a fim de que não haja sucumbimento, sobretudo precocemente.
Assim, bem
ao contrário do que à primeira vista possa parecer, a tendência prevalecente é
a da escolha das piores provas, das mais árduas e difíceis, com o objetivo de a
elas forrar-se o mais breve e completamente possível, daí a intervenção dos
Espíritos Superiores no planejamento, eliminando o exagero e o excesso
eventualmente existentes, com opção pelo equilíbrio e pelo bom senso sempre e,
com isso, tornando factível a reencarnação, de molde a torná-la proveitosa,
quanto possível.
Ambas as
provas, da miséria e da riqueza, são deveras fortes, como não é difícil
inferir.
A miséria
pode provocar a queixa, a revolta e a imprecação contra a Providência Divina,
quando, em verdade, se suportada devidamente, pode servir para o crescimento e
a evolução morais da criatura, que naquelas circunstâncias não se encontra por
acaso, uma vez que muitas vezes pediu essa difícil prova.
A miséria ou
a pobreza extrema pode, por outro lado, servir também de excelente alavanca de
progresso individual, na medida em que o indivíduo consiga não ter reclamações
ou, se as tiver, consiga sobre elas impor silêncio, optando pela resignação e
pela humildade, tendo a certeza de poder confiar em Deus, que sabe muitíssimo
bem o que está fazendo, escrevendo certo por linhas certas.
Tal
comportamento, com certeza, não exclui a necessidade de lutar por melhorar
sempre, em todos os sentidos, porquanto a aceitação pura e simples da situação,
sem qualquer esforço, sem qualquer luta, equivale a inaceitável acomodação, que
tantas vezes se confunde com preguiça.
Neste passo,
é importante relembrar que todas as criaturas humanas, sem exceção,
independentemente de condições financeiras, sociais, culturais, étnicas, etc.,
estão sujeitas às lutas, às dificuldades, aos tropeços, aos equívocos, muito
próprios dos seres que estão matriculados nesta escola chamada Terra, onde não
há perfeição e em que prevalece o mal, ainda.
De outra
parte, também ao contrário do que possa aparentar, a prova da riqueza é de
extrema dificuldade, pois que pode incitar a todos os excessos.
Estando o
rico sujeito a maiores tentações, pode tornar-se, exatamente por isso, egoísta,
orgulhoso e insaciável, sendo que, com a riqueza, suas necessidades aumentam e
ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente (o texto integral sobre
as provas de riqueza e de miséria está contido nas questões 814 a 816 de O
Livro dos Espíritos, a obra fundamental do Espiritismo).
O egoísmo e
o orgulho, como se sabe, continuam a ser as duas maiores chagas da Humanidade e
a ambição desmedida, de todo insaciável, de seu lado, é altamente maléfica
porque a nada conduz, verdadeiramente, a não ser ao desrespeito pelo
semelhante, em todos os níveis, já que para prevalecer e atingir seu objetivo o
ser humano dela contagiado não se importa em prejudicar quem quer que seja.
O dinheiro,
que por si só, em última análise, pode representar a riqueza, é neutro,
absolutamente neutro.
Assim, se
for mal empregado será péssimo. Se for bem aplicado será ótimo, poderá ser
muito útil e ajudar um sem-número de pessoas, e não apenas quem o detém.
De maneira
que o rico, que bem empregue os bens que lhe foram confiados, poderá tornar-se
um excelente administrador, oferecendo oportunidades de emprego, de trabalho,
de estudo, de progresso aos outros, com o que estará se saindo airosamente
desta igualmente difícil provação e demonstrando, direta ou indiretamente, que
tem exata noção do que representa esse adiantamento que lhe foi feito, uma vez
que os bens da Terra na Terra ficarão, revelando saber que nada é levado para o
outro lado da vida, a não ser o conhecimento obtido e as virtudes conquistadas.
Que tenhamos
bom ânimo e coragem para vencer as provas que nos cabem, seja na miséria, seja
na riqueza.
(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 1999)
Link: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/mundo-espirita/as-provas-da-miseria.html
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