Desigualdade das Riquezas
Sérgio Biagi Gregório
1.
INTRODUÇÃO
Por que uns
são ricos e outros são pobres? Por que uns ganham 5.000 dólares ao ano enquanto
outros 500? Por que a sorte sorri para uns e fecha a cara para os outros? Por
que uns nascem em berço de ouro e outros numa choupana? Estas são algumas, das
muitas questões, que ainda não encontramos uma resposta satisfatória. Nosso
propósito é, pois, refletir sobre estas questões, analisando-as sob a ótica
espírita.
2.
CONCEITO
Riqueza - de rico, que vem da raiz
gótica riks. É o conjunto de bens, materiais ou imateriais, exteriores
ao homem, que contribuem para o seu bem-estar, individual ou coletivo, direta
ou indiretamente, para que é indispensável que sejam possuídos, ou, pelo menos,
usados pelo homem. (Polis Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)
Em sentido
lato é tudo quanto pode satisfazer uma necessidade ou um desejo.
Em sentido
restrito, são os bens ou riquezas, que têm um valor econômico,
que são, por isso, chamados de bens econômicos.
Diz-se mais restritamente
a abundância de riquezas. (Santos, 1965)
3.
HISTÓRICO
Ao longo do
tempo histórico e até o limiar da época moderna, só era tida como riqueza a
posse de bens materiais (como casas, terras e certos objetos mais úteis); com o
incremento da atividade comercial dos princípios da Idade Média, o dinheiro
adquiriu, também e definitivamente, o estatuto de riqueza a ponto de se tornar
o seu sinônimo para a generalidade das pessoas, passando a sua acumulação
a ser um dos principais objetivos das atividades econômicas e que mais
caracterizou o fenômeno capitalista. É que o dinheiro ganhou uma autonomia de
movimento, produtora de toda a espécie de mais-valia, conducentes ao
enriquecimento. Em economia, no entanto, nem só o dinheiro e os outros bens
materiais são englobados no conceito de riqueza; nela são incluídos, ainda,
todos os fatores de produção e o produto acabado, as reservas acumuladas, os
recursos naturais, as infra-estruturas etc. (Polis Enciclopédia Verbo da
Sociedade e do Estado)
Os primeiros
economistas davam ao termo riqueza um sentido muito geral. Turgot
intitulou o seu tratado Reflexões sobre a Formação e a Distribuição de
Riquezas; Adam Smith deu à sua célebre obra (1776) a designação de Pesquisa
sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. No tempo de Turgot e
Adam Smith tinha-se em mente enriquecer o povo e formar estados opulentos;
modernamente, foi-se substituindo o termo riqueza pelo de
"bens".
Assim, o
tema a que os antigos economistas chamavam "distribuição de riquezas"
é aquilo de que mais tarde se ocuparam os cultores da ciência sob a designação
de "distribuição de rendimentos". (Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira)
4.
DOUTRINA COMUNISTA E IGUALDADE DE RENDA
Marx, em seu
materialismo histórico, prevê o surgimento do comunismo como a síntese perfeita
da evolução materialista da sociedade, onde não haverá barreiras de classe,
onde não haverá exploração do homem pelo homem, nem mesmo poder estatal sobre o
indivíduo; em que os recursos produtivos serão de posse comum; onde a escassez
será superada e haverá uma abundância de riqueza material. Em termos do nosso
estudo, pressupõe a igualdade da renda.
Mas, será
possível essa igualdade absoluta? Ela já existiu?
Auxiliemo-nos,
porém, da utilidade marginal da renda para aclarar nossas idéias. De acordo com
essa teoria, a igualdade de utilidade marginal não implica rendas iguais.
Importa apenas a maximização da utilidade social. Isso significa que cada um de
nós, por sermos diferentes, precisamos de diferentes níveis de renda. Para que
quer renda o eremita no deserto?
As rendas
deveriam ser iguais somente se todos os homens fossem semelhantes. Mas como
isso é impossível, precisamos encontrar um grau ótimo de desigualdade, pois à
medida que nos afastamos deste ideal imaginário em outra direção, no sentido de
maior desigualdade, perdemos a democracia, a fraternidade, o interesse e
responsabilidade de todos por todos, que é o que faz a organização tolerável.
Em termos
monetários, o princípio evangélico "àquele que tem dar-se-lhe-á"
deveria ser substituído por "aquele que mais desfruta o que tem, mais se
lhe dará". Numa sociedade em que os indivíduos são dessemelhantes em face
das inclinações das curvas de sua utilidade marginal, presumindo que as
utilidades marginais de indivíduos diferentes sejam mais ou menos as mesmas
para níveis de subsistência de renda, então um aumento na renda total da
sociedade resultaria em distribuição mais desigual, visto como o aumento de
rendia iria principalmente para aqueles que mais desfrutarão. (Bouding, 1967,
p. 107 a 111)
5.
ESTATÍSTICA SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Os dados
abaixo relacionados (referentes ao período de outubro de 1990 a outubro de
1991) revelam a disparidade de renda existente no Brasil e no mundo:
- o salário
no Brasil varia de 1/100; no Japão, de 1/10;
- a renda per
capita no Brasil é US$ 2.550; na Suíça é US$ 30.270;
- 20% dos
mais ricos, no Brasil, ganham 26 vezes mais do que os 20% mais pobres;
- o Brasil é
a 8ª economia em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e 70ª quanto ao Índice
de Desenvolvimento Humano;
- os 10%
mais ricos, no Leste Europeu, recebem 7 vezes mais do que os 10% mais pobres.
(Estado de São Paulo, 1992, p.12)
6.
DESIGUALDADE E REENCARNAÇÃO
De que
maneira a Doutrina Espírita pode auxiliar-nos na compreensão da desigualdade de
renda apontada acima? O princípio da reencarnação, adotado pelo Espiritismo, é
um forte argumento, que pode oferecer-nos alguma pista. É possível que os
Espíritos que ora estão encarnados neste país já tenham vivido nos outros
países mais desenvolvidos. Como não souberam utilizar a riqueza em favor do
próximo, foram enviados para esta região para se reequilibrarem na lei do amor,
passando pela prova da pobreza.
A
reencarnação mostra a justiça divina. No que tange à riqueza, todos passaremos
por ela, quer seja nesta vida ou em outras.
7.
DESIGUALDADE E DIVERSIDADE DE APTIDÕES
"A
desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver,
se não se considera senão a vida atual. A primeira questão que se apresenta é
esta: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Não o são por uma razão
muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e
laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar.
Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente
repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que, supondo-se
essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela
diversidade de caracteres e das aptidões.'' (Kardec, 1984, p. 210)
8. PROVA
DA RIQUEZA E DA POBREZA
Pergunta
815. Qual dessas duas é a mais perigosa para o homem, a da desgraça ou a da
riqueza?
— Tanto uma
quanto a outra. A miséria provoca a lamentação contra a Providência, a riqueza
leva a todos os excessos.
Pergunta
816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe também de mais meios para fazer
o bem?
— É
justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas
necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo.
Comentário
de Kardec: "A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes
são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque quanto mais o
homem for rico e poderoso mais obrigações tem a cumprir, maiores são os meios
de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela
resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder. A riqueza e o
poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da
perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: "Em verdade vos digo,
é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do um rico entrar no
reino dos céus"". (1995, p. 306)
9.
RIQUEZA PARA O CÉU
"Quem
se aflige indebitamente, ao ver o triunfo e a prosperidade de muitos homens
impiedosos e egoístas, no fundo dá mostras de inveja, revolta, ambição e
desesperança. É preciso que assim não seja!
Afinal, quem
pode dizer que retém as vantagens da Terra, com o devido merecimento?
Se
observarmos homens e mulheres, despojados de qualquer escrúpulo moral, detendo
valores transitórios do mundo, tenhamos, ao revés, pena deles.
A palavra do
Cristo é clara e insofismável. — "Amontoa tesouros no Céu" —
disse-nos o Senhor.
Isso quer
dizer "acumulemos valores íntimos para comungar a glória eterna!"
Efêmera será
sempre a galeria de evidência carnal.
Beleza
física, poder temporário, propriedade passageira e fortuna amoedada podem ser
simples atributo da máscara humana, que o tempo transforma, infatigável.
Amealhemos
bondade e cultura, compreensão e simpatia.
Sem o
tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração nos céus, porquanto
estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos da Vida Superior.
Cresçamos na
virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria, porque amanhã serás visitado
pela mão niveladora da morte e possuirás tão somente as qualidades nobres ou
aviltantes que houveres instalado em ti mesmo" (Xavier, cap. 177, s.d.p.)
10.
CONCLUSÃO
Tenhamos
cuidado com o excessivo desejo de posse; reflitamos, primeiro, sobre os
pressupostos espíritas. Eles foram codificados para auxiliar o pensamento do
homem, a fim de que este se liberte das paixões materiais, conduzindo-o à
conquista dos bens espirituais, os únicos que poderá levar ao partir para a
vida dos Espíritos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d.p.
BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo, Meste Jou, 1967.
Jornal o Estado de São Paulo, 18/05/92.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, s.d.p.
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