domingo, 16 de outubro de 2016

O Desperdício

O Desperdício





                Fui uma criança criada com todo conforto. Não éramos ricos, mas nunca nos faltou nada. Porém, tinha eu um péssimo costume: na hora das refeições enchia demais meu prato. Uma boa parte da comida sobrava e ia pra o lixo. Mamãe sempre me aconselhava para que tirasse apenas aquilo que iria comer; eu, porém, não dava muita importância aos seus pedidos.
Vovô todas as manhãs saia para dar sua caminhada costumeira. Algumas vezes eu o acompanhava.
Um dia ele disse que iriamos conhecer um lugar especial.
Saímos da cidade e fomos andando por uma estrada pouco movimentada. Percebíamos o capim ainda úmido pelo orvalho da noite e o ar puro vindo do mato nos dava uma sensação de leveza e bem estar.
De repente começamos a sentir um cheiro forte e desagradável e logo após vozes de crianças.
- Que cheiro ruim é esse? Perguntei.
- Venha ver, disse vovô.
Caminhamos mais um pouco e encontramos um terreno coberto de lixo vindo da cidade. Ali estavam uma senhora de pele morena, rosto cansado e sofrido e algumas crianças maltrapilhas, revolvendo o lixo e separando o que lhe interessava.
A cena me chocou muito. Vovô percebendo minha reação disse:
- Sabe minha neta, você tem a felicidade, de ter um lar feliz e confortável, mas não pode esquecer que muitas pessoas não têm o mínimo para sua sobrevivência.
“Deus criou a natureza perfeita! A Terra tem condições de alimentar e sustentar dignamente os seus filhos. Mas o desperdício é muito grande. Desperdício não é só de alimento como também de outros recursos que a Terra nos oferece. Se nós nos amássemos verdadeiramente, iriamos utilizar tudo o que temos em benefício de todos. Não haveriam pessoas vivendo nestas condições.
“O próprio lixo se fosse separado em nossas casas, poderia ser reaproveitado inteligentemente. Se houvesse em nós a consciência de que tudo o que Deus nos oferece deve ser utilizado em harmonia com a natureza. Não iríamos destruir as obras de sua criação, poluindo a terra”.
Ficou claro para mim o que vovô queria dizer. E ele continuou:
- O egoísmo que existe dentro de nós não nos permite enxergar que a resolução dos grandes problemas da humanidade está dentro de cada um de nós. Se cada um fizer a sua parte na construção do bem comum, o mundo caminhará mais rapidamente rumo à PAZ, pois cada um terá garantido os seus direitos.
Percebi, naquele momento que as grandes mudanças do mundo deveriam começar dentro de mim mesma, com pequenas atitudes. Percebi, deste dia em diante, não só não desperdiçar o que comia, mas estudar mais sobre a natureza, esta magnífica obra de Deus, conhecendo-a melhor para que tudo o que ela nos ofereça possa ser usado com inteligência e amor em benefício de todas as criaturas. O sentido da palavra fraternidade se aplicou dentro de mim.

Fonte:
BOLÇONE,  Maria Ida Bachega. O desperdício. In: ______. A vida ensinou. 3. ed. Capivari, SP: EME, 1994. cap. 17. p. 59-61.

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