O
Desperdício
Fui uma criança criada com todo
conforto. Não éramos ricos, mas nunca nos faltou nada. Porém, tinha eu um
péssimo costume: na hora das refeições enchia demais meu prato. Uma boa parte
da comida sobrava e ia pra o lixo. Mamãe sempre me aconselhava para que tirasse
apenas aquilo que iria comer; eu, porém, não dava muita importância aos seus
pedidos.
Vovô todas
as manhãs saia para dar sua caminhada costumeira. Algumas vezes eu o
acompanhava.
Um dia ele
disse que iriamos conhecer um lugar especial.
Saímos da
cidade e fomos andando por uma estrada pouco movimentada. Percebíamos o capim
ainda úmido pelo orvalho da noite e o ar puro vindo do mato nos dava uma
sensação de leveza e bem estar.
De repente
começamos a sentir um cheiro forte e desagradável e logo após vozes de
crianças.
- Que cheiro
ruim é esse? Perguntei.
- Venha ver,
disse vovô.
Caminhamos
mais um pouco e encontramos um terreno coberto de lixo vindo da cidade. Ali
estavam uma senhora de pele morena, rosto cansado e sofrido e algumas crianças
maltrapilhas, revolvendo o lixo e separando o que lhe interessava.
A cena me
chocou muito. Vovô percebendo minha reação disse:
- Sabe minha
neta, você tem a felicidade, de ter um lar feliz e confortável, mas não pode
esquecer que muitas pessoas não têm o mínimo para sua sobrevivência.
“Deus criou
a natureza perfeita! A Terra tem condições de alimentar e sustentar dignamente
os seus filhos. Mas o desperdício é muito grande. Desperdício não é só de
alimento como também de outros recursos que a Terra nos oferece. Se nós nos
amássemos verdadeiramente, iriamos utilizar tudo o que temos em benefício de
todos. Não haveriam pessoas vivendo nestas condições.
“O próprio
lixo se fosse separado em nossas casas, poderia ser reaproveitado
inteligentemente. Se houvesse em nós a consciência de que tudo o que Deus nos
oferece deve ser utilizado em harmonia com a natureza. Não iríamos destruir as
obras de sua criação, poluindo a terra”.
Ficou claro
para mim o que vovô queria dizer. E ele continuou:
- O egoísmo
que existe dentro de nós não nos permite enxergar que a resolução dos grandes
problemas da humanidade está dentro de cada um de nós. Se cada um fizer a sua
parte na construção do bem comum, o mundo caminhará mais rapidamente rumo à
PAZ, pois cada um terá garantido os seus direitos.
Percebi,
naquele momento que as grandes mudanças do mundo deveriam começar dentro de mim
mesma, com pequenas atitudes. Percebi, deste dia em diante, não só não
desperdiçar o que comia, mas estudar mais sobre a natureza, esta magnífica obra
de Deus, conhecendo-a melhor para que tudo o que ela nos ofereça possa ser
usado com inteligência e amor em benefício de todas as criaturas. O sentido da
palavra fraternidade se aplicou dentro de mim.
Fonte:
BOLÇONE, Maria Ida
Bachega. O desperdício. In: ______. A
vida ensinou. 3. ed. Capivari, SP: EME, 1994. cap. 17. p. 59-61.
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