Família
Até que
ponto nossos conflitos familiares são tão sérias divergências que trazemos do
passado? Ou será o nosso estado de ânimo o maior responsável pela percepção
positiva ou negativa que possamos alimentar em relação às pessoas e às
circunstâncias?
De acordo com os postulados
espíritas, o lar terrestre é o local onde os espíritos encarnados estão se
encontrando para as necessárias realizações, ou se reencontrando para os
inadiáveis acertos, em virtude de certos compromissos que uns assumiram perante
outros no decorrer das sucessivas encarnações.
Torna-se compreensível, portanto, o
fato de a grande maioria dos relacionamentos familiares carecerem de certa
harmonia, pois cada um de seus componentes pode possuir realidades íntimas
bastante específicas e, nesse ambiente, exteriorizar muito dos conflitos e
necessidades que ainda carrega.
Todavia, aquele que se empenhe por
sustentar o equilíbrio e o bom senso perante as situações difíceis e
desagradáveis, oferece ao conjunto sua contribuição pacificadora. Se, por outro
lado, se julgar no direito de esbravejar e de se impor ante as naturais
divergências de pontos de vista e opiniões, certamente acabará por provocar uma
confusão ainda maior.
Sendo assim, um questionamento se
mostra oportuno: até que ponto os naturais contratempos da vida familiar
referem-se a complicados reajustes que trazemos de vidas pretéritas? Ou,
não será que esses problemas estão sendo agravados, em razão da excessiva
necessidade de certas criaturas em, por exemplo, fazerem prevalecer suas
vontades e pontos de vista, em superdimensionarem as dificuldades, em não
compreenderem e aceitarem as pessoas pelo o que elas conseguem ser, em não
saberem lidar com seus conflitos e expectativas?
Estudiosos do comportamento humano
já constataram que todos os indivíduos, periodicamente, passam por variações de
humor. Assim, quando nos sentimos em paz, até conseguimos encarar as
dificuldades com bastante otimismo. E nesse “alto astral”, como se torna fácil
ter apreço pelo cônjuge e filhos ou ser agradecido pela nossa família e nosso
lar!
Porém, quando nosso estado de ânimo
se encontra em baixa, quantas são as vezes em que não queremos conversa
com ninguém, em que não achamos graça em nada, em que nos aborrecemos com tudo
e com todos? Muito embora amemos imensamente nossos filhos, podemos ficar
incomodados com toda a atenção que eles requerem. E as imperfeições do cônjuge?
Também poderão ser ressaltadas. Não será ele, então, o maior “culpado” pelos
problemas domésticos? O interessante de se notar é que, nesse estado tão
depressivo, a mesma vida, com idênticas circunstâncias, poderá parecer
drasticamente outra, com um peso insuportável!
Logo, é o nosso estado de humor que
mais influência nossa percepção e a maneira de conduzir os naturais problemas
do cotidiano, principalmente quando eles ocorrem em nosso lar,
independentemente dos conflitos anteriores que possam existir entre
alguns familiares.
O escritor espírita Rodolfo
Calligaris, ao ressaltar a relevância da variação de humor, principalmente no
relacionamento conjugal, aconselha:
É
de toda conveniência, portanto, que os esposos aprendam a discernir esses
ciclos temperamentais, no outro e em si mesmo.
No
outro, para desculpar-lhes os amuos, os azedumes, os ‘contras’, as
impertinências, etc., na certeza de que em breve isso passará, e tudo voltará
às boas. Em si mesmo, para ter o cuidado de não tomar nenhuma atitude mais
drástica, da qual, depois, muito terá de arrepender-se.
É
preciso que cada um dos cônjuges, ao perceber o mau-humor do outro, procure
amenizar a situação, evitando, a todo custo, agastar-se também, para não
suceder que, duplicado, esse mau sentimento faça a casa ir pelos ares. [1]
O Espírito Thereza de Brito também
segue semelhante linha de raciocínio e de compreensão e, assim, se expressa:
Ansiando
por crescer, na convivência com os ideais enobrecidos dos Espíritos Luzeiros,
aprenda a dialogar para solucionar problemas, conversando equilibradamente,
para o bem geral; faça o possível para não cobrar afeição dos amores ou
reclamar consideração que, talvez, você ainda não tenha feito, nem esteja
fazendo nada por merecer. Dedique-se a agradecer as coisas mínimas com que seja
beneficiado em casa, e a ser gentil com os entes queridos e com os auxiliares
domésticos, presenteando-os com a sua alegria natural, com a sua fraternidade,
sem a hipocrisia que envenena a linfa da vida.
Se
é correto que no ambiente do lar você tem o território livre para que se mostre
como é, para desenvolver-se, não se pode olvidar, entretanto, que não cabe aos
outros suportar seus impulsos negativos ou sua desastrada invigilância, por
fazerem parte de sua equipe doméstica. [2]
Relaxe. Até certo ponto somos todos
assim, um pouco de Médicos e Monstros. De certa maneira, nosso humor é o ponto
de partida para nossa experiência, não seu efeito. Nosso humor determina a
maneira como vemos e vivenciamos nossas vidas. Quando nos deixamos abater, a
vida parece pior, muito mais difícil. Para reforçar a ideia de quão
significativos seus humores são, tenha em mente como a vida parece diferente,
de uma hora para outra, dependendo do seu clima.
Por mais que pareça simples, aprender
a detectar qual o nosso estado de espírito e aprender a lidar com nossas
alterações de humor pode fazer uma grande diferença na qualidade da vida e pode
baixar o nível de nossa mania de defesa de modo significativo. O mais
importante é aceitar o fato de que as alterações de humor são um dado da vida e
entendê-las como absolutamente inevitáveis, bem como a maneira como você
experimenta seu baixo-astral. Lembre-se, não é a vida que mudou subitamente
para pior na última hora, apenas seu estado de espírito.
Reconhecer isso pode ampliar sua
perspectiva. (...) Pode aprender a culpar seu humor, em vez de sua vida ou
família, por seus problemas. Tenha em mente que se algo fosse realmente
responsável por nossos sentimentos negativos, nos incomodaria o tempo todo.
Nada, no entanto, recai nessa categoria. A verdade é que a grande maioria das
coisas que nos incomodam em nossa depressão são coisas com que conseguimos
lidar perfeitamente em estados mais elevados de espírito. [3]
Seja um exemplo de paz
O ditado ‘faça o que digo, não o que
faço’ não funciona muito bem em casa! O que funciona é o oposto: ‘faça o que
faço, não o que digo’. Quer você viva sozinho, ou com outra pessoa, ou várias,
a maneira mais eficaz de tornar o lar um ambiente pacífico é tornar-se um
exemplo de paz.
O clima emocional no qual você vive
começa em você – como o meu começa em mim. Se você está agitado, nervoso,
frenético e frustrado, é absurdo esperar que as outras pessoas em sua casa
sejam indiferentes. Em vez disso, é provável que elas pisem em ovos para não desagradá-lo.
Qualquer negatividade que você criar afetará em algum nível os outros em sua
casa (sem mencionar você mesmo). Isso não quer dizer que seja sua culpa se sua
casa não tem paz, mas que, na maior parte das circunstâncias, se você esperar
que os outros deem o exemplo que gostaria, vai ter que esperar muito!
Quando você é calmo, paciente,
amoroso, no entanto, você obtém o melhor de tudo o que o cerca. Ao ser um
exemplo de paz, você abre a porta para os outros serem pacientes, compassivos e
graciosos. Em vez de estar aborrecido com os altos e baixos da vida diária,
você cria um ambiente em que não há problemas em seguir o fluxo. E quanto mais
calmo você for, mais fácil fica fazer os necessários ajustes às complicações e
desafios da vida diária. Ao se manter calmo, você elimina os desvios mentais
que interferem com sua sabedoria e julgamento, tornando mais fácil enxergar
soluções em vez de problemas.
O primeiro passo para se acalmar é
perceber essa meta como prioridade em sua existência. Ao invés de esperar que
os outros tomem a dianteira ou culpá-los pelo caos em sua casa, tome a decisão
de tornar a paz sua prioridade – decida que é essa meta que você deseja
alcançar. (...) Creio que descobrirá que quando a paz é a meta principal, todo
o resto encontra o seu lugar e se torna muito mais fácil de lidar. Você estará
acenando com um patamar de vida mais pacífico, o que, por sua vez, reduz o caos
de sua vida ainda mais. Tornar-se mais calmo talvez não aconteça de uma hora
para outra, mas é certamente um objetivo que se deve tentar alcançar. Comece
agora, você pode fazer as coisas que o levem nessa direção. [4]
Silvia
Helena Visnadi Pessenda
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