Os Grandes Vultos da
Doutrina:
Pierre Gaetan Leymarie
Paulo Toledo Machado
Pierre-Gaetan Leymarie - 12 de Maio de 1827 - 10 de Abril de
1901
LEYMARIE
reencarnou em Tulle, França, em 2 de Maio de 1827, e desencarnou, em Paris, em
10 de Abril de 1901.
Leymarie
foi, juntamente com Camille Flammarion e Victorien Sardou, um dos mais ardentes
discípulos de Kardec e se tornou uma das mais relevantes figuras do
Espiritismo.
Leymarie foi
Diretor da "Revue Spirite", de Paris, de 1870 a 1901, e gerente da
"Librairie Spirite" (*), de 1870 a 1897.
Descendia de
distinta família. Cedo, porém, para não sobrecarregar as despesas, já
numerosas, da família, interrompeu seus estudos e procurou uma colocação em
Paris, contando com seu próprio trabalho e seus esforços.
Apaixonado
por todas as ideias generosas, fez-se ardente republicano, e foi, à época do
golpe de Estado de 1851, arrolado entre os adversários irredutíveis do
Cesarismo e constrangido ao exílio.
Ele teve,
porém, nesse exílio, a sorte em contatar-se com a elite do partido proscrito, o
que, de certa forma, contribuiu para desenvolver seu espírito de combatividade
e ao mesmo tempo o de proselitismo.
Proclamada a
anistia, retornou à França, casou-se e assumiu a direção de uma casa comercial,
até 1871. E uma autoridade, referindo-se a ele, disse que, se seus negócios não
alcançaram prosperidade, sua probidade foi escrupulosa e que nenhuma reprovação
jamais lhe foi feita.
Ele tinha
paixão dos livros, e, quer eles tratassem de questões políticas, sociais,
científicas, religiosas ou literárias, todos aqueles que lhe caíssem às mãos,
ele os lia e se esforçava em assimilá-los.
Os fenômenos
espíritas e a doutrina
Espiritista,
não poderiam encontrá-lo indiferente. Foi um dos primeiros a se interessar,
vivamente, por essas inquietantes questões; e, quando Allan Kardec começou a
publicação da "Revue Spirite" e de suas obras, e quando inicia as
suas sessões de estudos e de experimentações, ele não tardou em contar com
Leymarie no número de seus mais ardentes discípulos.
Sob a
direção do Mestre os médiuns se desenvolvem e, em dada ocasião, da qual a
história do Espiritismo registrará e conservará fielmente a lembrança, três
jovens, ainda obscuros e desconhecidos, três médiuns sentados à mesma mesa e
voltados - fato estranho e novo que dera causa a zombarias - para essas
experiências, contudo tão antigas, da telegrafia misteriosa entre dois mundos,
o mundo dos Espíritos e o nosso. Estes três experimentadores, cujos destinos
seriam diversos, mas iguais no devotamento, na fidelidade e nos serviços
prestados à Doutrinas, eram Camille Plammarion, Victorien Sardou e
Pierre-Gaetan Leymarie.
Antes de
desencarnar, Allan Kardec, para assegurar o desenvolvimento regular e continuo
do Espiritismo havia fundado uma sociedade anônima e de capital variável à qual
destinou os seus bens; Monsieur Leymarie tornou-se um dos primeiros membros, e
dois anos após a morte do Mestre, foi nomeado administrador ao mesmo tempo em
que passou a redator-chefe e diretor da "Revue Spirite".
Durante
trinta anos, o que quer dizer durante o longo e difícil período em que o
Espiritismo foi quase continuamente alvo de todas zombarias, e de todos
ataques, Leymarie esteve presente, batalhando sem cessar através da palavra e
da pena, oferecendo na "Revue" um terreno livre aos batalhadores de
todas as nuanças, para que defendessem uma causa espiritualista ou de ordem
essencialmente humanitária e moral, expondo-se, assim, às críticas acirradas de
uns, às reprovações ou ao descontentamento de outros. Todavia, Leymarie, jamais
perdeu de vista a divisa do mestre: "Hors la charité pas de salut"
(Fora da caridade não ha salvação), e baniu de todas as discussões as ofensas
pessoais e todas as questões irritantes.
No começo,
Leymarie considera que, para a difusão desta luz que é o Espiritismo, é
necessário preparar os espíritas, instruí-los e esclarecê-los.
E quando seu
amigo, Jean Macé, expõe o projeto de fundar a liga de ensino, Leymarie se
oferece, com entusiasmo, secundá-lo, e, com Mme. Marina Duclos Leymarie, sua
devotada esposa, companheira e colaboradora, contribui, para essa criação, não
somente com o seu concurso ativo e pessoal mas também com a sua casa da rua Vivienne,
de sorte que se pode, justamente, dizer que a casa de Monsieur Leymarie foi o
berço da "Liga de Ensino", da qual o espírita Emmanuel Vauchez seria,
no futuro, o Secretário Geral.
As questões
de ensino se sucedem, nas preocupações de Leymarie, às questões sociais.
Assim, nas
páginas da "Revue", como nas numerosas e eloqüentes conferências, ele
se aplica em revelar a existência e o funcionamento deste estabelecimento,
conhecido no estrangeiro, mas quase ignorado em França - le Familistére de
Guise, no qual são praticados, por seu ilustre fundador, J. B. Godin, de uma
maneira feliz e larga, os princípios da associação do Capital e do Trabalho.
Leymarie se associa com o Sr. Godin, e, enquanto lhe propaga os escritos, não
negligencia os interesses propriamente ditos da doutrina.
Divulga as
experiências de William Crookes e assiná-la os primeiros ensaios da fotografia
espírita. Ele mesmo faz experiências com um médium-fotógrafo e obtém uma série
de manifestações reais as quais pública na "Revue". Mas chega um
momento em que foi iludido na sua boa-fé.
O fotógrafo
Édouard Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de
Espíritos, é processado pelo Ministério Público.
Os inimigos
do Espiritismo, à espreita de tudo que pudesse entravar o movimento ascendente
da Doutrina, aproveitam-se, com empenho, da ocasião de um processo, para dar,
ao Espiritismo, um grande golpe e acabá-lo com a possante arma do ridículo. E
de fato, foi menos um processo contra as fotografias que mesmo contra os espíritas.
A 16 de
Junho de 1875, Leymarie e Alfred E. Firman foram também envolvidos no processo,
em virtude dos laços de amizade que mantinham com Édouard Buguet, e, assim,
julgados coniventes na fraude.
Depoimentos
falsos, inclusive do próprio Édouard Buguet, originaram a condenação dos três.
Recorrendo-se, então, para instâncias superiores, Édouard Buguet e Alfred E.
Firman conseguiram a liberdade. O primeiro passando para a Bélgica, e o segundo
graças a influências de altas autoridades. Leymarie, por sua vez, preparou
notável "Memória" à Corte Suprema, protestando, perante sua
consciência e seus filhos, sua inocência e mostrando-se confiante nas decisões
daquele alto tribunal.
Édouard
Buguet traído pelo remorso escreve ao Ministro da justiça que Leymarie é inteiramente
inocente. Que, embora muitas das fotografias fossem reais, devido ao
desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude quando não
as conseguia com a sua mediunidade. Na carta ele assevera: "Lastimo, pois,
haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu a
minha mediunidade, peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele
serviu para incriminar um homem estimável, cuja boa fé se tornou suspeita com
minhas afirmações".
Apesar das
cartas de solidariedade vindas das mais diferentes partes do mundo, inclusive
do Brasil, Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular.
Um pouco
mais tarde, anulada a sentença condenatória, o incansável discípulo de Kardec
retomava a administração e direção da "Société" e da "Revue
Spirite"
Leymarie
retorna à luta.
Em 1878,
Leymarie organiza também a "Sociedade Científica de Estudos
Psicológicos", congregando, em torno dela, homens respeitáveis, para o
estudo e experimentações. Em torno da mediunidade e do magnetismo animal, e
análise das obras de Cahagnet, de Roustaing, da doutrina de Swedenborg e outras
pertinentes a outras ideias.
As obras de
Kardec são traduzidas, por iniciativa de Leymarie, para todas as línguas do
mundo civilizado; conferências são programadas; Leymarie visita outros países,
e percorre cidades da Bélgica, da Itália e da Espanha, propagando os postulados
doutrinários do Espiritismo.
Leymarie
esteve presente no I Congresso Espírita de Bruxelas; em 1888 participou do
Congresso Espírita de Barcelona, tendo sido escolhido para uma das
presidências. No decurso deste Congresso foi lida uma belíssima moção de
gratidão enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos
forçados, convertidos à fé espírita.
Em 1889,
Leymarie organizou o I Congresso Espírita na França, esquivando-se de cargos,
mas, por insistência, acaba aceitando o de uma das vice-presidências.
A
administração da Sociedade se torna mais exigente, com a liberalidade de um dos
seus membros, o Sr. Guérin. Ele, tal como procedera Allan Kardec, antes do seu
desencarne, tomou todas as providências para assegurar o benefício de seus bens
à Sociedade, o que vem suscitar, logo a seguir, uma disputa com os herdeiros.
Os processos passam a se suceder e, quando acreditava ter chegado ao fim, os
herdeiros de Allan Kardec, apoiados no processo dos herdeiros de Guérin, fazem
sua reivindicação, e a desenvolvem, até que, apesar de uma resistência
vigorosa, a sociedade, representada e administrada por Leymarie, sucumbe.
Librairie
Leymarie
Em 1897,
Leymarie funda a "Librairie Leymarie Édite-URS" (**)., estabelecida
no 42, rue Saint-Jacques, Paris, e a dirigiu até 1903, e, com o seu desencarne,
por sua esposa Madame Marina Duclos Leymarie, e, posteriormente, por seu filho,
Paul Leymarie.
Com a
liquidação da "Librairie Spirite", continuou a editoração das obras
de Allan Kardec, fazendo do prédio da "Librairie Leymarie" sede da
redação da "Revue Spirite", até a fundação da "Maison des
Spirites", por Jean Meyer, inaugurada em 25 de Novembro de 1923.
Uma das suas
primeiras publicações foi "Au pays de l'ombre", de Madame
D'Esperance.
Não obstante
tantas provas, Leymarie não se abate. Ele prossegue a sua luta, em meio dos
maiores aborrecimentos, e torna conhecidos os trabalhos e as obras principais
de escritores espíritas, com os quais, em sua maior parte, ele se acha em
constante contato, tais como, na França, com Eugene Nus, Léon Denis, Ernesto
Bosc, Encause (Papus), Gibier, Baraduc, Comandante Cournes, Sras. Noeggerath e
Annie Besant, Gabriel Delanne, Strada e outros; na Inglaterra, com Wallace; na
Rússia, com Aksacoff; na América, com Van der Nailen; na Itália, com Chiaia e
Falcomer.
São de sua
autoria:
• "Histoire du Spiritisme et
biographie d'Allan Kardec". Trabalho apresentado nos Congressos Espíritas
de 1888 e 1889.
• "Oeuvres Posthumes d'Allan
Kardec". Paris, 1890, Librairie Spirite. Obra por ele compilada, com documentos
inéditos deixados por Allan Kardec.
• "L'Évoiution et ia
Révélation". Trabalho por ele compilado e enviado, em 1898, ao Congresso
Internacional Espiritualista, em Londres.
A
"Librairie Spirite" tornou-se conhecida sob diversos nomes, como
sejam:
• "Société de Librairie
Spirite" (1869);
• "Librairie de ia Revue
Spirite" (1875);
• "Librairie Spirite des Sciences
Psychoiogiques et Spirites" (1880); entre outros, devendo-se admitir,
ainda, como antecedente, o ativo serviço de livraria que se desenvolveu a
partir de 1868, como "bureau de ia Revue Spirite"
Nas nossas
referências, porém, as citaremos sempn como "Librairie Spirite".
Foram suas publicações:
• "Catalogue Raisonné des ouvrages
pouvant servir à fonder une Bibiiotheque Spirite":
• 1a. ed. Paris, s.d. (1869),
"in" 12. 30 pp.;
• 2a. ed. Paris, s.d. (1869, Setembro),
"in" 12, 30 pp.; outra ed. Paris, s.d. (1873), "in" 12, 24
pp.
________________________________________
(*) "Librairie Spirite" (Livraria Espírita).
Kardec, que tinha projetado a publicação de um catálogo minucioso das obras,
hoje raro, que interessavam ao Espiritismo, o "Catalogue raisonné des
ouvrages pouvant servir à fonder une bibliotheque spirite" (2éme. édition:
Paris, s.d. 1869, Librairie Spirite des Science Psychologique, "in"
12, 30 pp.; 3e. édition. Paris. s.d. 1873, Librairie de Ia Revue Spirite ou
Librairie Spirite e des Sciences Psychologiques, in, 12, 24 pp.), recebeu, no
intervalo, a sugestão de um projeto para criar um casa especial para as obras
desse gênero, concebida e executada por uma sociedade espírita, o que admitiu
fundando, assim, a "Librairie Spirite" (1869), desti nada, conforme
projetada, para atender à promoção do livro espírita e ramos da cultura que se
relacionam com o Espiritismo. Pierre Gaetan Leymarie foi seu diretor de 1870 a
1897.
(**) A "Librairie Leymarie" continua aberta até os
dias de hoje, onde aliás estivemos numa das nossas visitas a Paris, e onde
adquirimos um exemplar de "Les Pionniers du Spiritisme", por J.
Malgras, Paris, Librairie des Sciences Psychologiques, 1906, 478 pp.
(Texto que fará parte da Enciclopédia Espírita, a ser
publicada pelo ICESP e publicado originalmente através da Revista do ICESP nº
06, 2º trimestre 2003)
(Retirado do Boletim GEAE Número 478 de 15 de julho de 2004)
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