TER ÉTICA
É AMAR
Quem tem amor em seu coração por
seu semelhante, tem ética.
Não adianta buscar um conceito
cerebral para a ética, pois ela só é possível quando não pensamos apenas em nós
mesmos.
A senda da Ética é repleta de
desafios. Não basta ter boas intenções, é preciso boa vontade e obstinação para
segui-la. Faz-se mister estar imbuído do sentimento certo ou todo esforço será
vão.
Pode-se falar muito sobre Ética.
Mas uma Ética só de palavras nada significa.
A Ética é uma afirmação das ações
e não das palavras. Ela é uma possibilidade humana: a de reconhecer o outro
como alguém importante e de, ao mesmo tempo, reconhecer-se nele.
Reconhecer o outro como importante
quer dizer imputar-lhe valor. Isso se dá quando percebemos que as outras
pessoas, assim como nós mesmos, têm medos, angústias, necessidades, aspirações
e esperanças; quando identificamos, em outras palavras, sentimentos semelhantes
aos nossos no outro. Nesse instante, descobrimos o outro como semelhante.
Tomamos consciência de que ele está próximo de nós, pois tem limitações e
potencialidades parecidas com as nossas.
Quando vemos isso com clareza,
passamos a nos reconhecer no outro.
Contudo, ter ética é muito mais do
que se dizer ético. Para sintetizar o que significa possuir um comportamento
rigorosamente ético é preciso recorrer a uma pequena frase: ter ética é amar.
Ninguém se tornará ético por
seguir um código, um manual ou uma receita. Pois estes até podem ser reflexos
da ética, mas nunca a causa, pois a causa é o amor. O amor desinteressado,
puro, penitente, generoso, leal, bondoso. Simplesmente o amor.
Nenhum treinamento pode conferir o
título de “ético” ao indivíduo. Nem isso e nem mil leituras, ou diplomas, ou
cursos, ou reconhecimentos de qualquer tipo.
Quem não entende a ética como
amor, jamais entenderá a ética. Podemos entendê-la como a “ciência do bem
agir”. Desde que entendamos e sintamos o que é isso. “Bem agir” significa fazer
o que se deseja. Mas para que se possa fazer o que se deseja, é preciso saber o
que efetivamente se deseja.
Para que os nossos desejos sejam
justos e corretos precisamos amar.
Porém, antes de usarmos o “amor”
como justificativa para atitudes desastradas é necessário conhecermos a sua
natureza. E isso requer muita disciplina ou, como diria Vinícius de Morais,
muita “seriedade”.
O amor não é um jogo. Nós podemos
até senti-lo como algo agradável e ameno, como uma brincadeira, mas é ele que
nos escolhe e nos manipula e não o contrário. Da nossa parte é preciso muita
reverência, dedicação e honestidade com o amor. O amor é que dita as regras.
Sendo ele suave, precisamos aprender a sua suavidade; se ele é puro, é
fundamental que também o sejamos; sendo fiel, sem fidelidade não nos
aproximaremos dele; sendo perene e tranqüilo, tranqüilidade e paciência é o que
ele nos pede. Sem isso o amor não é possível.
De acordo com a máxima latina
“agere sequitur esse”, nossos atos só serão amorosos se manifestarmos neles a
essência do que somos. E essa essência é o amor. Sem ele, é impossível agir
corretamente. Sem ação correta não há boa ação. E sem boas ações não existe
Ética. Santo Agostinho sintetizou isso com genialidade: “Ama e faze o que
quiseres”. Portanto, antes de fazer qualquer coisa é preciso amar. Tolstoi já
dizia: “Não faça nada que contrarie o amor”.
A mais alta sabedoria das mais
elevadas tradições religiosas aponta para um fato: ninguém que ame
verdadeiramente é capaz de ferir o seu próximo. E o bom senso também nos
comunica o mesmo. Quem descobriu o amor se torna incapaz da agressão ao seu
semelhante. E quem não usa de violência e nem quer prejudicar os outros, mas,
ao contrário, quer ajudá-los no que for possível, está, indiscutivelmente,
credenciado como indivíduo ético. Para alguém assim, cada instante é o momento
certo de dar um testemunho de amor...
André Luís nos diz que a “virtude
não é voz que fala, é luz que irradia”. A ética é a síntese de todas as
virtudes aplicadas à vida prática. Só tem sentido, pois, quando vivenciada,
quando “irradiada”.
A ética corresponde à capacidade
humana de agir de conformidade com valores superiores. Ela é o contraste que
revela, através das ações, o melhor do ser humano. Uma teorização excessiva
sobre a ética pode, todavia, desvirtuar completamente o seu sentido maior: ser
feliz fazendo os outros felizes, minimizando o sofrimento alheio e ajudando as
pessoas a superarem as suas dificuldades transitórias.
Parafraseando André Gide, podemos
dizer que quando certos “especialistas” concluem a explicação do que seja a
“ética”, não é mais possível identificar qual foi mesmo a pergunta, de tão
estranha, confusa e rebuscada que é a resposta. Mas nada disso é necessário,
porque o real sentido da ética está dentro de nós mesmos. Ela é a inclinação
que temos para o bem. Quando deixamos que se manifeste, quando permitimos que
se atualize, que abra as suas asas e voe em liberdade, realizamos o propósito
supremo da nossa própria existência: a felicidade sustentável, alicerçada na
paz interior, na consciência de nossas próprias responsabilidades e no amor ao
outro. Abandonamos, então, a velha idéia de “sucesso” baseada em nossa própria
imagem, nome, prestígio, reputação, interesses mesquinhos e outras muletas
sociais e psicológicas.
A ética é, tão somente, um
epifenômeno. É a conseqüência da paz e do amor que entregamos a todos que
encontramos. O amor é luz, sendo a ética luminosa, a sua fonte é o amor. Se
manifestássemos todo o amor potencial que há em nós, seríamos deuses. Se
observarmos bem, o que queremos dizer quando cumprimentamos os outros é que nos
importamos com eles, com a sua felicidade. Quando os tocamos, gostaríamos de
abraçá-los, quando os abraçamos, temos vontade de beijá-los, quando os
beijamos, nosso desejo, na verdade, é o de levá-los em nossos braços pelas
veredas da vida, como Deus faz conosco, sem que, muitas vezes, nos apercebamos
disso. Queremos expressar que os amamos. Só não o fazemos melhor porque temos
medo de assumir este sentimento que nos constitui intimamente. Mas como o amor
é a nossa mais profunda natureza, não adianta fugir dele. Só seremos plenamente
felizes quando o expressarmos totalmente. Como? Sendo úteis, compreendendo,
abençoando e perdoando radicalmente todos os nossos semelhantes e amando todas
as criaturas de Deus. Cada um de nós deveria emanar só amor para o mundo. Se
não fazemos isso, só pode ser porque estamos doentes. Porém, quem disse que a ignorância não tem cura?
Haverá quem diga que a humanidade
nunca foi assim. Que somos o produto do que nossos antepassados foram, que
repetiremos sempre os mesmos erros de antes, que não andamos para frente. Só
será assim se acreditarmos nessas tolices! Houve sim muitos seres humanos que
foram expressões vivas do amor. Gente conhecida e gente anônima. Porque não
podemos ser assim também? Claro que podemos! As desilusões só atingem as
ilusões, não os sonhos. Podemos sim viver com a consciência tranqüila, sem os
deslumbramentos e as alucinações que se confundem com a felicidade, ter sonhos
de paz e de amor e trabalhar pela sua realização. Se o nosso coração está no lugar
certo, ninguém poderá parti-lo. Podemos, desde agora, levar tranqüilidade,
gentileza e carinho a todos os outros caminhantes da jornada da vida. Podemos
sim fazer a diferença. Se a maioria não agiu assim antes, se não age assim
ainda, não tem importância alguma. Seremos, nós mesmos, o ponto de mutação! Se
ninguém liga para como agimos, tampouco interessa! Podemos olhar para uma flor
ou para uma nuvem, que não querem ser nada mais do que eles mesmos. Não estão
buscando resultado algum, assim como nós, quando temos amor. Somente devemos
cultivar o amor e o respeito em nosso coração, sem nos preocupar com mais nada.
O amor é o maior patrimônio divino que há dentro de nós, ninguém pode acabar
com ele. É o nosso traço mais perene. Quando sentimos, profundamente, que há
oceanos de amor dentro de nós e, sobre eles, arco-íris de amor, não temos mais
receio algum e, assim, a ética torna-se uma realidade viva em nós, e, também,
nos outros, através de nós.
Nada disso é ingenuidade. Tolice é
pensar que a vaidade e a astúcia podem conquistar alguma coisa que preste. Que
proveito há em condenar o coração à paralisia? O que pode acrescentar a alguém
desdenhar da virtude? Pautar a própria conduta por sentimentos elevados é sinal
de prudência e não de pieguismo, como poderiam imaginam algumas inteligências
doentes, pervertidas no cuidado de seus próprios interesses e envenenadas pelo
excessivo amor-próprio. Perdidas nos labirintos de si mesmas, nem sequer
suspeitam que é o amor que irriga o coração, fazendo com que a linda flor da
ética desabroche no multicolorido jardim da nossa alma.
Aquele que ama, logo sente os
efeitos do amor. Quem age com ética tem, em seu próprio modo de agir, a sua
maior recompensa. Na linha do que disse também André Luis: “Quem acende uma luz
é o primeiro a se iluminar”.
Ter ética é amar. Ponto.
Link: http://www.mundoespiritual.com.br/artigos.ter.etica.e.amar.htm
Imagem: http://cbiblica.blogspot.com.br/2011/04/blog-post.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário