A Paz Interior
julho/2012 - Por Antônio Moris Cury
Embora não
disponhamos de dados estatísticos oficiais ou oficiosos para afirmá-lo,
desconfiamos que a palavra mais pronunciada atualmente no mundo é paz.
Ao que parece, não há quem não deseje paz. Paz na família, paz para trabalhar e
progredir, paz para refletir, paz para poder tomar as melhores decisões sobre
questões simples ou complexas, paz entre as nações, paz para desfrutar
realmente de momentos de tranquilidade, paz íntima ou interior, enfim.
Embora as
aparências indiquem o contrário, principalmente diante da enxurrada de notícias
sobre violência, de variada espécie, veiculadas diariamente pelos meios globais
de comunicação, há, sim, por outra parte, um contingente enorme
de pessoas trabalhando silenciosamente, sem alarde, para obter
a paz possível na Terra, um planeta de provas e de expiações, ainda.
Nem sempre é
fácil admitir, mas o que se passa na sociedade, de um modo geral, é apenas
reflexo do que ocorre em nossas casas, em nossas próprias famílias, a ponto de
ser considerada corriqueira a expressão: a família é a célula-mãe da
sociedade.
O que esse
pequeno preâmbulo significa ou, melhor, pretende significar? Simplesmente que a
paz é passível de construção, de nossa construção, diga-se de passagem, como,
por exemplo, com a mudança de nosso comportamento, de nossa postura, com a
ampliação de nossa consciência, com o nosso melhor e cada vez mais esclarecido
entendimento, com a nossa verdadeira vontade de alcançá-la, quanto possível,
devagarinho, a pouco e pouco, tal como ocorre com qualquer conquista, visto que
nem mesmo a Natureza dá saltos.
Sabe-se que
qualquer caminhada, por mais longa que seja, começa pelo primeiro passo.
Tudo pode
iniciar em nossas casas, portanto. Façamos uma experiência: comecemos por
tratar os integrantes de nossa própria família com mais respeito, atenção,
carinho, gentileza e principalmente com mais amor na mente e no coração.
Procuremos fazer em casa, em termos de tratamento, o que costumamos fazer com
os outros fora de casa. A diferença será gigante, para melhor, e para
todos.
Ao contrário
do que aparenta, não será tarefa difícil, especialmente por já sabermos, de cor
e salteado, que: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (O
Evangelho segundo o Espiritismo, 111ª edição FEB, 1995, página 276).
A expressão
reproduzida é bastante clara, mas não custa relembrar, enfatizando: o espírita,
ou o simpatizante do Espiritismo, não é um ser angelical, não é perfeito, até
mesmo porque vive em um planeta de categoria inferior no Universo, de expiações
e de provas, onde ainda prevalecem o mal e a imperfeição. Todavia, é importante
que não se perca de vista que é o mesmo ser que busca, de forma continuada e
permanente, a sua transformação moral, para melhor, evidentemente, e que
emprega os seus melhores esforços para domar suas más inclinações, oriundas de
passado recente ou remoto.
E, como
muito bem salientado pelo Espírito Camilo, através da psicografia do
médium Raul Teixeira: “Ninguém usufrui de paz quando não compreende.
Ninguém pode oferecer paz ao mundo, se não a desenvolve no próprio âmago, no
próprio mundo íntimo” (encontrável no livro “A Carta Magna da Paz”,
2ª edição Fráter, 2002, página 141).
Neste passo
convém registrar que uma das bandeiras do Espiritismo é a reforma íntima.
Reforma íntima para melhor, com a substituição gradual do ser velho que
insiste em permanecer conosco, em nossa intimidade, e, mais grave, insiste em
prevalecer em nossas decisões. É preciso, pois, que coloquemos em prática o que
aprendemos com a abençoada Doutrina Espírita e que já retemos de modo
consolidado, ou seja, é indispensável que nos esforcemos por nossa
transformação moral, que combatamos de forma constante as nossas más
inclinações e que procuremos substituí-las por ações positivas, notadamente por
ações no Bem.
Um bom
começo é procurar realizar a nossa parte, a parte que nos compete, seja qual
for o campo de atividade, do melhor modo possível, com qualidade, com capricho,
com zelo e com amor. Aliás, como é fácil observar, tudo o que é feito com amor
produz ótimo resultado. Como vivemos em regime de interdependência, e bem ao
contrário do que alguns pensam, todas as tarefas são importantes.
Ninguém
se arrependerá por agir no Bem, por optar pelo Bem sempre, sem hesitação, em qualquer
situação e em qualquer circunstância. E, como já o dissemos em outro artigo,
fazer o Bem não tem contraindicação. Fazer o Bem faz bem.
Em texto
atribuído ao filósofo grego Aristóteles [360 anos antes de Cristo]
intitulado “Revolução da Alma”, entre outras coisas, lê-se que: “A tua
paz interior é a tua meta de vida. Quando sentires um vazio na alma, quando
acreditares que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remete teu
pensamento para os teus desejos mais íntimos e busque a divindade que existe em
você”.
A propósito,
é oportuno relembrar que as Leis Divinas ou Naturais estão escritas em nossa
consciência (questão 621 de O Livro dos Espíritos, a obra
fundamental do Espiritismo), de tal modo que cada um de nós sabe, bem no
íntimo, se agiu ou não com correção. Não é preciso, portanto, que alguém nos
diga, aponte, avalie ou julgue para que cheguemos a essa conclusão.
Também é
conveniente reproduzir aqui o ensinamento de Emmanuel, Espírito, pela
psicografia de Francisco Cândido Xavier: “Quanto puderes, como
puderes e onde puderes, guardando a consciência tranquila, trabalha servindo
sempre. Assim agindo, ainda que não percebas, desde agora, estarás,
imperturbavelmente, nos domínios da paz” (encontrável no livro “Busca e
Acharás”).
Por último,
entendemos que a paz interior está umbilicalmente ligada à prática do Bem. Por
isso, quem age no Bem, quem bem cumpre a parte que lhe cabe, quem pratica o Bem
sempre, em qualquer situação ou circunstância, sentirá como decorrência a
alegria de ter a tão anelada paz interior.
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