Conversas
familiares de além-túmulo » Goethe
SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS,
25 DE MARÇO DE 1856.
1.
(Evocação).
─ Estou
convosco.
2. ─ Qual a
vossa situação como Espírito: errante ou reencarnado?
─ Errante.
3. ─ Sois
mais feliz do que quando vivo?
─ Sim, pois
estou desvencilhado do corpo grosseiro e vejo o que não via antes.
4. ─
Parece-me que em vida não tínheis uma situação infeliz. Onde, pois, a
superioridade de vossa situação atual?
Acabo de
dizê-lo. Vós, adeptos do Espiritismo, deveis compreender tal situação.
5. ─ Qual a
vossa opinião atual sobre o Fausto?
─ É uma obra
que tinha por objetivo mostrar a vaidade e o vazio da Ciência humana e, por
outro lado, exaltar o sentimento do amor, naquilo que ele tinha de belo e de
puro, e condená-lo no que tinha de imoral e de mau.
6. ─
Foi por uma espécie de intuição do Espiritismo que descrevestes a influência
dos maus Espíritos sobre o homem? Como fostes levado a fazer uma tal descrição?
─ Eu tinha a
recordação quase exata de um mundo onde via exercer-se a influência dos
Espíritos sobre os seres materiais.
7. ─
Tínheis, então, a recordação de uma existência precedente?
─ Sim, por
certo.
8. ─
Poderíeis dizer se essa existência se passou na Terra?
─ Não,
porque aqui não se veem os Espíritos agindo. Foi mesmo num outro mundo.
9. ─ Mas,
então, já que podíeis ver os Espíritos em ação, deveria ser um mundo superior à
Terra. Como é que viestes depois para um mundo inferior? Caístes? Tende a
bondade de explicar.
─ Era um mundo
superior até certo ponto, mas não como o entendeis. Nem todos os mundos têm a
mesma organização, sem que, por isto, tenham uma grande superioridade.
Além do mais, sabeis muito bem que entre vós eu cumpria uma missão que não
podeis ignorar, pois ainda representais as minhas obras. Não houve queda, desde
que servi, e ainda sirvo para a vossa moralização. Eu aplicava aquilo que podia
haver de superior naquele mundo precedente para melhorar as paixões dos meus
heróis.
10. ─ Sim,
vossas obras ainda são representadas. Agora mesmo o Fausto acaba de ser
adaptado para ópera. Assististes à sua representação?
─ Sim.
11. ─ Podeis
dar-nos a vossa opinião sobre a maneira por que o Sr. Gounod interpretou o
vosso pensamento através da música?
─ Gounod
evocou-me sem o saber. Compreendeu-me muito bem. Como músico alemão eu não
teria feito melhor. Talvez ele pense como músico francês.
12. ─ Que
pensais do Werther?
─ Agora lhe
reprovo o desenlace.
13. ─ Não
teria essa obra feito muito mal, exaltando paixões?
─ Fez, e
causou desgraças.
14. ─ Foi a
causa de muitos suicídios. Sois por isso responsável?
─ Desde que
houve uma influência maléfica espalhada por mim, é exatamente por isso que
sofro ainda e de que me arrependo.
15. ─
Parece-me que em vida tínheis grande antipatia pelos franceses. Ainda a tendes
hoje?
─ Sou muito
patriota.
16. ─ Ainda
vos ligais mais a um país do que a outro?
─ Amo a
Alemanha por seu pensamento e por seus costumes quase patriarcais.
17. ─
Quereis dar-nos a vossa opinião sobre Schiller?
─ Somos
irmãos pelo Espírito e pelas missões. Schiller tinha uma grande e nobre alma,
de que eram reflexos as suas obras. Fez menos mal do que eu. É-me superior,
porque era mais simples e mais verdadeiro.
18. ─
Poderíeis dar-nos a vossa opinião sobre os poetas franceses em geral,
comparando-os aos alemães? Não se trata de vão sentimento de curiosidade, mas
de nossa instrução. Consideramos os vossos sentimentos muito elevados para nos
privarmos de vos pedir imparcialidade, deixando de lado qualquer preconceito
nacional.
─ Sois
curiosos, mas quero satisfazer-vos. Os franceses modernos escrevem muitas vezes
belos poemas, mas empregam mais palavras bonitas do que boas ideias. Deveriam
aplicar-se mais ao sentimento do que à mente. Falo em geral, mas faço exceções
em favor de alguns: um grande poeta pobre, entre outros.
19. Um nome
é sussurrado na assembleia. ─ É deste que falais?
─ Pobre, ou
que simula pobreza.
20. ─
Gostaríamos de obter uma vossa dissertação sobre assunto de vossa escolha, para
nossa instrução. Teríeis a bondade de nos ditar alguma coisa?
─ Fá-lo-ei
mais tarde, por outros médiuns. Evocai-me em outra ocasião.
(Revista Espírita 1859 » Junho » Conversas familiares de
além-túmulo » Goethe)
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