quarta-feira, 6 de julho de 2016

TEMPESTADES NO CORAÇÃO

TEMPESTADES NO CORAÇÃO

 

A região, na sua simplicidade, fascinava, e ainda sensibiliza todos aqueles que a visitavam.
Conhecida pela pobreza dos seus humildes habitantes pescadores, vinhateiros, camponeses, mercadores e desocupados na miséria era menosprezada pelos eruditos e ridicularizada pelos soberbos compatriotas.
A Natureza, porém, fora-lhe pródiga em beleza.
O mar-espelho, refletindo o céu azul claro e transparente, era cercado, de um lado, pelas praias recobertas de pedras miúdas e terra marrom, onde medravam velhas árvores próximas à gramínea verde exuberante.
Do outro lado, era defendido pelas montanhas de Decápolis, com as suas formações vulcânicas enegrecidas e ameaçadoras.
Casarios de aldeias e cidades famosas como Magdala, Dalmanuta e outras adornavam-no com um colar de luzes bruxuleantes nas noites estreladas.
Jesus elegera a Galileia e o seu mar, que transformou na pauta gigantesca onde escreveu sem palavras e através da vivência, a mais notável sinfonia de vida, que é o Evangelho.
Convivendo com os excluídos da sociedade, para os quais viera, não desprezou os párias morais que chafurdavam no luxo e na extravagância do poder.
Todas as criaturas eram-Lhe motivação para o Cântico sublime que as embalava com as lições de paz e de iluminação interior.
Mas não se detinha apenas entre aqueles que O cercavam.
Sabia que o seu, era um rebanho imenso, constituído por todos os indivíduos da Terra, e, por essa razão, ampliava o Seu círculo de realizações, indo além dos limites onde viviam os tristemente denominados eleitos.
Ele conhecia os sentimentos dos gentios, que aspiravam a plenitude e sentiam se impedidos de penetrar nos mistérios do Deus Único.
Nas praias abertas no cenário da Natureza, Ele modulava as canções de esperança e de vida eterna, enquanto os ouvintes, ora deslumbrados, ora aflitos pelas necessidades que os estigmatizava, sorriam e choravam dominados pela expectativa de também serem felizes.
O mar atraente e convidativo era a paisagem rica de alimentos e a vida que facultava acesso a outros lugares distantes uns dos outros.
Ele havia transformado aquele mar piscoso numa harpa de cordas líquidas e as dedilhava com ternura, produzindo poemas de musicalidade ímpar.
Mas também dele se utilizava para outros labores.
Em um entardecer rico de luzes multicoloridas, Ele tomou o barco de Pedro e, com outras embarcações rumou para o outro lado, que sempre contemplava à distância. Era a primeira vez que se deslocava naquela direção, conhecido o lugar como constituído por adversários dos judeus, pois que os seus habitantes, remanescentes gregos, viviam do negócio de suínos...
Enquanto o barco deslizava ligeiro sobre as águas mansas, eis que os céus escureceram-se subitamente e os ventos sopraram com vigor, levantando altas as ondas agora encrespadas, que ameaçavam os viajantes.
Face à localização geográfica, esse fenômeno era comum naquele lugar, abaixo do Mediterrâneo quase duzentos metros, dando ensejo às tempestades bruscas e calamitosa.
Ele dormia, ou parecia dormir em paz, enquanto rugiam as forças desgovernadas que se chocavam na tormenta feroz.
Receando o pior, assustados e trêmulos, os discípulos despertaram-no e apresentaram o seu receio na frágil embarcação jogada de um para outro lado pelas ondas e ventos furiosos...
Ele ergueu-se, semelhante a um raio de sol, e reclamou com a tormenta, impondo a Sua vontade.
Suave calmaria sucedeu à agitação das ondas e o entardecer ressurgiu sereno e colorido como um leque de plumas em tonalidades variadas.
Os Seus, que com Ele conviviam, mas na sua simplicidade, não O conheciam, tomados de perplexidade, indagaram: - Quem é Este que os ventos respeitam e as tormentas se Lhe submetem?(*)
...E ancoraram na outra margem, galgando os penhascos íngremes e pontiagudos na direção de Gadara ou Gerseza.
Jesus tinha e tem poder sobre as tempestades da Natureza, muitas vezes provocadas por seres espirituais.
Também preocupava-se com as tempestades do coração, esses tormentos que envelhecem o ser humano e o levam a situações lamentáveis.
No lago ou mar da Galileia fora-lhe fácil aplacar as fúrias, ordenando aos seus agentes que as fizessem cessar, o que logo aconteceu.
Para as tormentas do coração, propôs inúmeras diretrizes de segurança moral capazes de as superar. Nenhuma porém, mais expressiva e difícil, do que essa que se encontra na Lei de Amor, propondo o mergulho nas águas geladas dos sentimentos primários para deles libertar-se adquirindo paz.
Ofereceu, igualmente, o equipamento apropriado para a imersão no abismo de si mesmo, que é o escafandro do esforço pessoal.
É muito fácil a vitória externa, aquela que diz respeito à relação com os outros indivíduos, nada obstante, o audacioso empenho para descobrir as imperfeições e trabalha-las, eis os desafios que todos enfrentam.
O Seu propósito - desde aqueles já algo remotos tempos - é a conquista da paz do coração.
Enquanto as boninas medravam adornando a relva abundante e a Natureza em exuberância de luz e de estesia, o Canto do Evangelho soava aos ouvidos das multidões atormentadas.
Ouviam-no, todos aqueles que O seguiam, mas não entendiam, mantendo os hábitos mentais e morais viciosos, isto porque, não queriam compreender. Encontravam-se sobrecarregados das paixões primitivas, doenças físicas, transtornos emocionais e distúrbios mentais.
A miséria econômica e a falta de objetivos relevantes jugulavam-nos às mesquinhezes, nos combates exaustivos dos vícios e da degradação...
Ele oferecia a cura da alma para sempre, e todos optavam pela recuperação do corpo, mesmo que sofrendo o retorno das enfermidades dilaceradoras, cujas causas encontravam-se no ser profundo.
Ele amava e sacrificava-se, ensinando a libertação do mal através da transformação moral, no entanto, os que O buscavam prosseguiam na luta para manter-se na ilusão tormentosa do cotidiano.
Ele era a luz que podia anular a treva interior da ignorância, porém as massas infelizes, sedentas de prazer, beneficiavam-se um pouco, e logo atiravam-se nos calabouços da demorada prisão em que se compraziam, povoada de crimes.
Ele propunha a paz e quase todos esperavam a guerra contra os outros, olvidando os inimigos reais que se encontravam no mundo íntimo de cada um.
Apesar disso, Ele prosseguiu estoico e perseverante até o momento da morte infamante, procurando aplacar as tempestades dos corações...
...E voltou, aureolado de ternura e carinho, confirmando o Seu amor por todos aqueles que são colhidos pelas tormentas internas, no mar proceloso das reencarnações purificadoras.


Amélia Rodrigues(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão da noite de 11 de julho de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia).
(*) Lucas: 8: 22-25; Mateus: 8: 23-27; Marcos: 3: 35-41
Nota da autora espiritual.

Imagem:http://obloggus.blogspot.com.br/2011/03/o-arquiteto-e-chuva.html


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário