A oração é uma força em nossa vida
e pode tornar melhor a humanidade
THIAGO BERNARDES
A principal obra da doutrina espírita dedica um capítulo especial à lei de adoração e à prece, definindo esta como um legítimo ato de adoração ao Criador da vida, o qual tem para nós, seres humanos, uma importância muito grande e bem superior à que geralmente imaginamos. “Orar a Deus – ensina o Espiritismo – é pensar n’Ele; é aproximar-se d’Ele; é pôr-se em comunicação com Ele.” (“O Livro dos Espíritos”, item 659.)
Ensinada por Jesus e pelos Espíritos Superiores, a prece é
uma manifestação da alma em busca da Presença Divina ou de seus prepostos; é
uma conversa com o Criador ou com seus emissários e, por isso, deve ser despida
de todo e qualquer formalismo.
A prece não pode ser paga, porque “é um
ato de caridade, um lance do coração". A prece deve ser secreta, não
precisa ser longa e deve ser antecedida do ato do perdão. A prece deve ser
espontânea, objetiva, robusta de sentimentos elevados, que precisam ser
cultivados sempre, porque não aparecem como por encanto só nos momentos de
oração.
Requisitos
da prece - A forma da prece nada
vale, mas sim o conteúdo. A atitude daquele que ora é íntima, eminentemente
espiritual. Atitudes convencionais, posição externa e rituais são vestes
dispensáveis ao ato de orar. Pela força do pensamento, após estarmos
concentrados, procuramos traduzir nossa vontade com o melhor dos nossos
sentimentos por uma prece, que não deve ser formulada segundo um esquema
pré-fabricado. A prece deve traduzir o que realmente estamos sentindo, pensando
e querendo naquele momento, de uma forma precisa, sem que isso constitua uma
repetição de termos que, na maioria das vezes, são ininteligíveis para quem os
profere.
A prece deve ser o primeiro ato no nosso retorno às
atividades de cada dia e, por isso, precisa ser cultivada diariamente. O
Espírito de Monod assim o recomenda expressamente em lição constantes do
capítulo 27, item 22, de "O
Evangelho segundo o Espiritismo".
O exemplo da prece do fariseu e a do publicano, narrado no
Evangelho, é expressivo e mostra que a humildade e a sinceridade são requisitos
fundamentais na oração. O outro requisito essencial é o esquecimento e o perdão
que devemos conceder aos que nos tenham prejudicado. Jesus recomenda
reconciliar-nos com os adversários, antes de orarmos.
Mecanismo
e tipos de prece - O mecanismo da
prece é este: estamos engolfados no fluido universal que ocupa o espaço. Esse
fluido, que é o veículo dopensamento, recebe a impulsão da vontade. Quando o
pensamento é dirigido a um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de um encarnado
a um desencarnado, ou vice-versa, estabelece-se uma corrente fluídica que liga
um e outro. É dessa maneira que os Espíritos podem ouvir-nos o apelo e transmitir,
pelas vias do pensamento, sua resposta.
Como se sabe e a experiência comprova, os Espíritos
podem não apenas ler, mas, de certa forma, ouvir nossos pensamentos. Não é
preciso dizer que, com relação aos desencarnados, é vã toda tentativa de iludi-los,
porque o que nos vai na alma não lhes pode ser ocultado.
Três coisas podemos fazer por meio da prece: louvar,
pedir e agradecer (O Livro dos Espíritos,
item 659). Louvar é reconhecer e enaltecer a Deus por tudo o que Ele criou.
Significa aceitar com alegria tudo o que nos rodeia, que, no tocante à
participação do Senhor em nossa vida, é sempre justo, equilibrado e perfeito.
Exemplo de prece de louvor é o Salmo 23 de Davi:
"O Senhor é o meu Pastor,
Nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
Guia-me mansamente
A águas mui tranqüilas.
Refrigera minh'alma,
Guia-me nas veredas da justiça
Por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse
Pelo vale das sombras da morte,
Não temeria mal algum
Porque Tu estás comigo...
A tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas-me o banquete do amor.
Na presença dos meus inimigos,
Unges de perfume a minha cabeça..."
A prece nas reuniões espíritas - Allan Kardec nos ensina: "É, sem dúvida, não apenas útil, porém necessário rogar, através de uma invocação especial, por uma espécie de prece, o concurso dos bons Espíritos. Essa prática predispõe ao recolhimento, condição especial a toda a reunião séria" ("Viagem Espírita em 1862", cap. XI, pág. 144).
No início e no
término das reuniões espíritas fazemos a
prece para que o ambiente espiritual seja favorável e tenhamos a presença de
Espíritos elevados, que a prece atrai, o que será uma garantia de proteção
contra o mal. No decurso da sessão mediúnica, a oração será utilizada em
benefício dos companheiros e dos Espíritos, pelo potencial de forças fluídicas
que a prece consegue aglutinar.
A prece, contudo, será sempre mais
poderosa se partir de uma alma elevada, de um Espírito de conduta ilibada, de
uma criatura de bons sentimentos. Há pessoas que, por haverem conseguido libertar-se
das paixões animalizantes e dos interesses egoísticos da Terra, fazem de sua
vida uma prece permanente. A prece nelas é cultivada com naturalidade e
eficiênciaextraordinária, enquanto que nós temos ainda que nos esforçar para
que nossa rogativa atinja o objetivo colimado.
Despojados da ignorância e da perturbação que o mal engendra em nós, iremos aos poucos descobrindo que pela prece muita coisa pode ser conseguida em nosso benefício espiritual e das pessoas que nos cercam. Entenderemos então que a prece é uma manifestação espontânea e pura da alma, e não apenas uma repetição formal de termos alinhados convencionalmente, como se fosse uma fórmula mágica para afastar o sofrimento e os problemas. (Leia nos artigos ao lado uma síntese dos ensinamentos espíritas sobre a prece e a opinião do dr. Alexis Carrel a respeito da importância da prece em nossa vida.)
A mais bela prece da literatura espírita
Todas as pessoas, salvo uma ou outra exceção, formulam
preces de pedido, mas são poucos os que sabem realmente orar e, por isso, pedem
às vezes o que não se deve. Não devemos pedir, por exemplo, o afastamento da
dor, mas as forças e a compreensão para suportá-la.
Emmanuel nos dá, a propósito disso, em "Recados do Além", um modelo
extraordinário de prece de pedido:
"Jesus! Reconheço que a Tua
vontade é sempre o melhor para cada um de nós; mas se me permites algo
pedir-Te, rogo me auxilies a ser uma bênção para os outros."
Outro exemplo notável de prece de
pedido é esta, muito utilizada pelos voluntários do C.V.V. – Centro de
Valorização da Vida, com o nome de Oração da Serenidade, de autoria
desconhecida:
"Concedei-nos, Senhor, a
serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar; coragem
para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das
outras."
A
prece feita por Estêvão, o mártir do Cristianismo - Várias preces são conhecidas e enaltecidas por sua
beleza e profundidade. A Oração Dominical, modelo de concisão, diz tudo o que
precisamos dizer numa prece. A Oração de São Francisco de Assis e a prece de
Cáritas, também. Mas, é impressionante a beleza da prece que Abigail fez na
agonia e morte de seu pai Jochedeb e, depois, de seu irmão Estêvão ("Paulo e Estêvão", págs. 42 e
162), beleza que advém não só da poesia, mas da elevação e robustez de
sentimentos de que a prece se reveste:
"Senhor Deus, pai dos que choram,
Dos tristes, dos oprimidos
Fortaleza dos vencidos,
Consolo de toda a dor,
Embora a miséria amarga
Dos prantos de nosso erro,
Deste mundo de desterro,
Clamamos por vosso amor!
Nas aflições do caminho,
Na noite mais tormentosa
Vossa fonte generosa
É o bem que não secará...
Sois, em tudo, a luz eterna
Da alegria e da bonança
Nossa porta de esperança
Que nunca se fechará.
Quando tudo nos despreza
No mundo da iniqüidade,
Quando vem a tempestade
Sobre as flores da ilusão!
Ó Pai, sois a luz divina,
O cântico da certeza,
Vencendo toda aspereza,
Vencendo toda aflição.
No dia da nossa morte,
No abandono ou no tormento,
Trazei-nos o esquecimento
Da sombra, da dor, do mal!
Que nos últimos instantes,
Sintamos a luz da vida
Renovada e redimida
Na
paz ditosa e imortal".
Para
quem ainda não leu o livro “Paulo e
Estêvão”, de Emmanuel, lembramos que Abigail, irmã de Estêvão, estava
praticamente noiva de Saulo de Tarso quando assistiu o querido irmão nos
derradeiros momentos de sua existência, após o apedrejamento que o levou à
morte. O fato ocasionou o rompimento da relação com Saulo, que mais tarde teria
seu nome inscrito na história do Cristianismo como Paulo de Tarso, o Apóstolo
dos Gentios. (Thiago Bernardes)
As boas ações constituem a melhor prece
Nas questões 658 a 666 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec, os imortais fizeram revelações importantes a respeito da prece. Eis
sinteticamente o que eles nos ensinam:
1) A prece é sempre agradável a Deus,
quando ditada pelo coração. É, assim, preferível ao Senhor a prece vinda do
íntimo à oração lida, por mais bela que seja, se for lida mais com os lábios do
que com o coração.
2) A prece é um ato
de adoração, com o qual podemos propor-nos três coisas: louvar, pedir,
agradecer.
3) A
prece torna melhor o homem, porque aquele que ora com fervor e confiança se faz
mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para
assisti-lo.
4) O essencial não é orar muito, mas orar
bem. Existem pessoas, no entanto, que supõem que todo o mérito está na longura
da prece e fecham os olhos paraos seus próprios defeitos. Essas criaturas fazem
da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca um estudo de si mesmas.
5) Podemos pedir a Deus que nos perdoe as
faltas, mas só obteremos o perdão mudando de proceder, porque as boas ações são
a melhor prece e os atos valem mais que as palavras.
6) As provas por que passamos estão nas
mãos de Deus e há algumas que têm de ser suportadas até o fim; mas Deus leva
sempre em conta a resignação. A prece traz para junto de nós os bons Espíritos,
que nos dão a força de suportá-las corajosamente.
7) A prece nunca é inútil, quando bem
feita, porque fortalece aquele que ora.
8) A prece não pode ter por efeito mudar
os desígnios de Deus, mas a alma por quem oramos experimenta alívio e sente
sempre um refrigério quando encontra pessoas caridosas que se compadecem de
suas dores.
9) Pode-se orar pelos Espíritos e aos bons
Espíritos, porque estes são os mensageiros de Deus e os executores de suas
vontades. O poder deles está, porém, relacionado com a superioridade que tenham
alcançado e dimana sempre do Senhor, sem cuja permissão nada se faz. (Thiago
Bernardes)
O mundo necessita como nunca de orar
Fisiologista e cirurgião francês, o dr. Alexis Carrel (1873-1944), laureado com o Prêmio Nobel de Medicina de 1912, notabilizou-se não apenas por suas experiências sobre enxerto de tecidos e de órgãos e sua sobrevida fora do corpo, mas também por suas obras filosóficas, dentre as quais se destaca “O homem, esse desconhecido”, best-seller na América do Norte em 1935.
Em fevereiro de 1942, a revista Seleções do Reader’s Digest revelou outra faceta do grande médico e pensador: sua fé em Deus e sua crença no valor incomensurável da oração, que ele define como sendo “uma invisível emanação do espírito de adoração do homem, a forma de energia mais poderosa que ele é capaz de gerar”.
Eis, resumidamente, o que diz sobre a prece o notável médico francês:
1) A prece marca com os seus sinais indeléveis as nossas ações e conduta.
2) A oração é uma força tão real como a gravidade terrestre. A influência da prece sobre o corpo e sobre o espírito humano é tão suscetível de ser demonstrada como a das glândulas secretoras.
3) Muitos enfermos têm-se libertado da melancolia e da doença graças à prece. É que, quando oramos, ligamo-nos à inexaurível força motriz que aciona o universo e, no pedir, nossas deficiências humanas são supridas e erguemo-nos fortalecidos e restaurados.
4) Não devemos, no entanto, invocar Deus tendo em vista meramente a satisfação dos nossos desejos. Maior força colhemos da prece quando a empregamos para suplicar-lhe que nos ajude a imitá-lo.
5) Toda vez que nos dirigimos a Deus, melhoramos de corpo e de alma. Não tem, porém, sentido orar pela manhã e viver como um bárbaro o resto do dia.
6) Hoje, mais do que nunca, a prece é uma necessidade inelutável na vida de homens e povos. É a falta de intensidade no sentimento religioso que acabou por trazer o mundo às bordas da ruína. (T.B.)
A PRECE E
SEUS EFEITOS
LIVRO: “OS
MENSAGEIROS”, DE ANDRÉ LUIZ.
13. Os enfermos da Guerra - O
ambiente espiritual na Terra, por causa dos combates que se desenvolviam na
Crosta, era muito pesado. Alfredo sugere que Aniceto e seus companheiros
pernoitem no Posto, porque os aparelhos indicavam aproximação de grande
tempestade magnéticacidade estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de
bombardeio. As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da noite,
destacava-se, porém, à visão espiritual, um farol de intensa luz. Seus raios
faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. O grupo
de Espíritos desceu ao ponto luminoso. Verificou-se então, com surpresa, que
eles se encontravam numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o
olhar humano, mas altamente luminoso para os olhos espirituais. Alguns cristãos
corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O ministrante do culto lera a
passagem dos Atos em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite, na prisão, e as
vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança. Enquanto
as bombas explodiam lá fora, os cristãos cantavam, unidos, em celestial
vibração de fé viva. O chefe do grupo mandou que Alfredo e seus companheiros se
conservassem de pé, diante daquelas almas heróicas, em sinal de respeito e
reconhecimento. E disse "que os políticos construiriam os abrigos
antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na Terra os abrigos
antitrevosos". (Cap. 18, pp. 101 e 102)
Imagem: Marco A. C. Neves
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