A RAIVA DESTRUIDORA
O homem aprende à custa de
muita dor e sofrimento a cuidar do corpo, após conhecer (ou ignorar) a
variedade, podemos afirmar, infinita de vermes, bactérias, vírus e micróbios
infelicitadores da sua vestimenta carnal.
Desconhece, no entanto, tudo
quanto infelicita a alma, os “bacilos” pestilenciais, causadores de tantos
males e distúrbios, cuja patogênese se acha nela própria.
Nesta oportunidade, iremos
deter-nos, um pouco que seja, nesse “bacilo” que é tão nosso conhecido,
encontrado com tanta frequência nas camadas nervosas mais sutis do psiquismo
humano. Está alojado lá, e resiste a todos os apelos do bom senso, da medicina
terrena e espiritual, malgrado seja a causa de tantas experiências dolorosas
que infelicitam a condição somática do ser. Queremos referir--nos à raiva.
Antes de prosseguirmos,
notemos onde ela, raiva, se estriba para intoxicar todo o cosmo neurológico da
criatura. A raiva somente assoma à periferia da criatura porque o orgulho,
instalado no seu interior, foi atingido duramente. Fosse ela humilde, a raiva
não teria como se plantar e espraiar-se por toda a sua estrutura.
A raiva tem a sua raiz na
forma de julgar as situações e os fatos. Escolhemos, impomos e também
fantasiamos determinado padrão de comportamento, modelando o de acordo com o
nosso ponto de vista. Se a pessoa tem ou não conhecimento desse padrão, para
nós pouco importa.
Não corresponder às
expectativas das pessoas é motivo para terem raiva de nós, malgrado sejam as
expectativas irreais e irrealizáveis.
A mãe de uma menina tinha-lhe
raiva por ela não ser loura, e um pai exigia que a filha relatasse, com
minúcias, grandes tragédias sem mexer as mãos e sem alterar o tom de voz. Não
ser atendido em seu desejo o deixava raivoso. Estes dois casos foram relatados
pelo Dr. Brian Weiss no seu livro A
Divina Sabedoria dos Mestres, da GMT Editores Ltda. Dois relatos que
mostram até onde chega a doença espiritual motivada pela raiva.
É bem verdade que os casos
acima são mais raros, ou pelo menos somente nos consultórios de psicanalistas,
psiquiatras, psicoterapeutas eles chegam ao conhecimento.
Os demais motivos de
provocação da raiva vividos pelo ser humano são bem conhecidos de todos. A
irritação é o estopim. Aceso, fica incontrolável.
Voltando ao “relacionamento
pais e filhos”, importa que possa existir um reconhecimento recíproco de que
alguém incorreu em erro após se agredirem verbalmente.
Consertar a atitude errada é
próprio de almas enobrecidas pela humildade.
Os pais que são cultivadores
de motivos para sentir raiva, costumam exigir demasiadamente dos filhos,
provocando trauma nestes, mais cedo ou mais tarde. É costume os pais exigirem
de seus filhos que sejam produtivos e inteligentes como eles são, ou, em outros
casos, gostariam de ter sido. Nessas horas, os pais se realizam em cima dos
filhos. É um grande erro porque sabemos, segundo a Doutrina Espírita e a
reencarnação, que nossos filhos são herdeiros de si mesmos, trazem para o hoje
o que foram ontem. Exigir dos filhos o que eles não possuem traumatiza-os,
torna-os insatisfeitos e daí para o conflito no relacionamento é um passo.
Conhecemos certo pai que
chegou ao absurdo de não ir ao casamento da filha, não ajudou nada nas despesas
desse evento, e culminou o seu despreparo paternal quando, ao ser indagado por
alguém da família se iria ao casamento, respondeu com outra pergunta: “Mas que
casamento”? Outro pai obriga o filho de vinte anos a ser tão diligente e
entendido de negócios como ele próprio, chegando ao absurdo de despedir
O filho como se ele fora um
empregado qualquer, deixando-o desempregado e tendo que se sustentar. O salário
que pagava ao filho era um minguado salário mínimo de R$ 130,00.
Espíritas que somos, é muito
importante que olhemos os filhos como Espíritos que na verdade são, estejam em
qualquer fase de crescimento.
Outro motivo de raiva é a
preocupação com o que pensam de nós. Não nos importemos com isso, desde que
estejamos fazendo o que nos parece certo, agindo sem prejudicar ninguém. Assim
procedendo evitamos a instalação da raiva em nós.
Culpar-nos e ficar girando
mentalmente em torno da raiva por havermos errado é uma forma trágica de ter
raiva de nós mesmos. Nunca nos culpemos, doentiamente.
Uma coisa é reconhecer o
erro, prometer não incidir nele; outra, bem diferente, é permitir encharcar-se
do sentimento de culpa, da monoidéia culposa e cultivá-la. A criatura está
sujeitando-se a todas as suas sequelas; uma delas a obsessão, a participação
perniciosa, infecciosa de mentes doentias na casa mental do raivoso.
O desapontamento leva à raiva
de nós mesmos. Duas atitudes existem para o desapontamento: perseverar ou
desistir. Cabe analisar a causa do desapontamento e de forma detalhada,
consciente, sem paixão.
A raiva, como vamos
percebendo, é perniciosa, inútil, destrutiva. Somente pode ser dissolvida pela
compreensão e pelo amor.
O Dr. Brian Weiss narra outro
caso de muita beleza, no livro supracitado, que lhe foi contado por uma avó. A
neta de quatro anos era sistematicamente agredida pela outra mais velha.
Reagia, no entanto, assim: “Não faz isso comigo, não. Eu sou sua irmãzinha e
fico triste com seu modo de me tratar!” Afirmou a avó que, passado algum tempo,
a mais velha de suas netas mudou o comportamento diante da reação amorosa da
mais nova.
Quando sentirmos raiva,
perguntemos se ela resolve a questão que nos aborrece. Veremos sempre que não.
Pelo contrário, sempre prejudica. Por quê? Ora, a raiva é sintoma de estresse
que provoca uma mudança do nosso ritmo cardíaco, da pressão sanguínea e dos
níveis de açúcar no sangue, ocasionando desequilíbrio fisiológico.
É aconselhável que, ao
sentirmos raiva, respiremos profundamente, tentemos descobrir os motivos que a
desencadearam e busquemos como resolver a questão.
Com toda a certeza
desaparecerá o apego à raiva. Isto tem a sua razão de ser porque existem
criaturas que são verdadeiras fomentadoras da raiva, cultivam-na, só sabem
viver sob a sua influência. Agem e falam sempre com raiva. Nestas criaturas a
doença não demora a instalar-se.
Quem ama não sente raiva,
porque o amor é o seu antídoto. A raiva somente se apropria de quem não ama. O
ritmo vibratório de quem ama é eficaz eliminador de qualquer emoção nociva
desequilibrante. Dissolve-a, antes dela instalar-se.
É difícil um sistema imunológico
resistir por muito tempo a quem constantemente se irrita, se enraivece. A
desarmonia vibratória logo explode nas paredes do estômago, nos vasos sanguíneos
do coração e da cabeça e vai por aí afora destruindo toda reserva de
resistência interior do organismo. O ser humano não sabe que é o seu emocional
em desequilíbrio que lhe provoca tanta dor e sofrimento, tanta desarmonia para
viver em paz.
É notório o papel
desempenhado pela mídia: o de projetar para o homem modelos de pessoas
vencedoras, verdadeiros heróis possuidores da “raiva justa”. São eles os
Rambos, os Exterminadores do Futuro, os Ninjas, os Policiais imbatíveis, os
Heróis de Ficção e toda uma gama de falsos modelos. São figuras que se vão
tornando arquetípicas e forjam cada vez mais a raiva, o ódio, a frieza dos
sentimentos diante da dor alheia.
São imagens em desserviço
para a nossa sociedade, principalmente por impressionarem fortemente a formação
das crianças, as quais, em boa maioria, não encontram em seus lares, com raras
exceções, os bons exemplos de amor ao próximo.
No fundo, a raiva só possui
uma função: destruir-nos pelo funcionamento destrambelhado da química do nosso
sistema imunológico ou pela bala disparada por quem for alvo de nossa raiva.
Compreensão e amor, vamos
repetir, destroem a raiva, trazem-nos saúde e bem-estar físico, emocional,
psicológico e espiritual.
O amor é sempre um alívio
para todo e qualquer tipo de dor. Ele vivido, sentido em plenitude imuniza,
cria barreiras intransponíveis contra as causas e os efeitos da raiva.
Amemo-nos
muito, mais um pouco, em nome e por amor a Jesus, Ele que fez do que poderia
ser a sua dor, a sua raiva, um hino de Amor para a Humanidade.
Link: http://oeremitaespirita.blogs.sapo.pt/364677.html
Imagem:http://nunesjanilton.blogspot.com.br/2014/03/a-raiva-destruidora.html
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