OS
MÉDIUNS
(CAPÍTULO XIV de O Livro
dos Médiuns - Allan Kardec)
Todo aquele que sente, num
grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade
é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso
mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois,
dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só
se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada
e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de
uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além disso, que essa
faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm
uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta
que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações.
As principais são: a dos
médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos
audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos
pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos.
1. Médiuns de efeitos físicos
Os médiuns de efeitos
físicos são particularmente aptos a produzir fenômenos materiais, como os
movimentos dos corpos inertes, ou ruídos, etc. Podem dividir-se em médiuns
facultativos e médiuns involuntários. (Veja-se a 2ª parte, caps. II e IV.)
Os médiuns facultativos
são os que têm consciência do seu poder e que produzem fenômenos espíritas por
ato da própria vontade. Conquanto inerente à espécie humana, conforme já
dissemos, semelhante faculdade longe está de existir em todos no mesmo grau.
Porém, se poucas pessoas há em quem ela seja absolutamente nula, mais raras
ainda são as capazes de produzir os grandes efeitos tais como a suspensão de
corpos pesados, a translação aérea e, sobretudo, as aparições. Os efeitos mais
simples são a rotação de um objeto, pancadas produzidas mediante o levantamento
desse objeto, ou na sua própria substância. Embora não demos importância
capital a esses fenômenos, recomendamos, contudo, que não sejam desprezados.
Podem proporcionar ensejo a observações interessantes e contribuir para a
convicção dos que os observem. Cumpre, entretanto, ponderar que a faculdade de
produzir efeitos materiais raramente existe nos que dispõem de mais perfeitos
meios de comunicação, quais a escrita e a palavra. Em geral, a faculdade
diminui num sentido à proporção que se desenvolve em outro.
Os médiuns involuntários
ou naturais são aqueles cuja influência se exerce a seu mau grado. Nenhuma
consciência tem do poder que possuem e, muitas vezes, o que de anormal se passa
em torno deles não se lhes afigura de modo algum extraordinário. Isso faz parte
deles, exatamente como se dá com as pessoas que, sem o suspeitarem, são dotadas
de dupla vista. São muito dignos de observação esses indivíduos e ninguém deve
descuidar-se de recolher e estudar os fatos deste gênero que lhe cheguem ao
conhecimento. Manifestam-se em todas as idades e, frequentemente, em crianças
ainda muito novas.
Tal faculdade não
constitui, em si mesma, indício de um estado patológico, porquanto não é
incompatível com uma saúde perfeita. Se sofre aquele que a possui, esse
sofrimento é devido a uma causa estranha, donde se segue que os meios
terapêuticos são impotentes para fazê-la desaparecer. Nalguns casos, pode ser consequente
de uma certa fraqueza orgânica, porém, nunca é causa eficiente. Não seria,
pois, razoável tirar dela um motivo de inquietação, do ponto de vista
higiênico. Só poderia acarretar inconveniente, se aquele que a possui abusasse
dela, depois de se haver tornado médium facultativo, porque então se
verificaria nele uma emissão demasiado abundante de fluido vital e, por
conseguinte, enfraquecimento dos órgãos.
A razão se revolta à
lembrança das torturas morais e corporais a que a ciência tem por vezes
sujeitado criaturas fracas e delicadas, para se certificar da existência de
fraude da parte delas. Tais experimentações, amiúde feitas maldosamente, são
sempre prejudiciais às organizações sensitivas, podendo mesmo dar lugar a
graves desordens na economia orgânica. Fazer semelhantes experiências é brincar
com a vida.
O observador de boa-fé não
precisa lançar mão desses meios. Aquele que está familiarizado com os fenômenos
desta espécie sabe, aliás, que eles são mais de ordem moral, do que de ordem
física e que será inútil procurar-lhes uma solução nas nossas ciências exatas.
Por isso mesmo que tais
fenômenos são mais de ordem moral, deve-se evitar com escrupuloso cuidado tudo
o que possa sobre-excitar a imaginação. Sabe-se que de acidentes pode o medo
ocasionar e muito menos imprudências se cometiam, se se conhecessem todos os
casos de loucura e de epilepsia, cuja origem se encontra nos contos de
lobisomens e papões. Que não será, se se generalizar a persuasão de que o
agente dos aludidos fenômenos é o diabo? Os que espelham semelhantes ideias não
sabem a responsabilidade que assumem: podem matar. Ora, o perigo não existe
apenas para o paciente, mas também para os que o cercam, os quais podem ficar
aterrorizados, ao pensarem que a casa onde moram se tornou um covil de
demônios. Esta crença funesta é que foi causa de tantos atos de atrocidade nos
tempos de ignorância.
Entretanto, se houvesse um
pouco mais de discernimento, teria ocorrido aos que os praticaram que não queimavam
o diabo, por queimarem o corpo que supunham possesso do diabo. Desde que do
diabo é que queriam livrar-se, ao diabo é que era preciso matassem.
Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, a Doutrina
Espírita lhe dá o golpe de misericórdia. Longe, pois, de concorrer para que tal
ideia se forme, todos devem, e este é um dever de moralidade e de humanidade,
combatê-la onde exista.
O que há a fazer-se,
quando uma faculdade dessa natureza se desenvolve espontaneamente num
indivíduo, é deixar que o fenômeno siga o seu curso natural: a Natureza é mais
prudente do que os homens. Acresce que a Providência tem seus desígnios e aos
maiores destes pode servir de instrumento a mais pequenina das criaturas.
Porém, forçoso é convir, o fenômeno assume por vezes proporções fatigantes e
importunas para toda gente (1).
__________
(1) Um dos fatos mais extraordinários desta natureza,
pela variedade e singularidade dos fenômenos, é, sem contestação, o que ocorreu
em 1852, no Palatinado (Baviera renana), em Bergzabern, perto de Wissemburg. É
tanto mais notável, quanto denota, reunidos no mesmo indivíduo, quase todos os
gêneros de manifestações espontâneas: estrondos de abalar a casa, derribamento
dos móveis, arremesso de objetos ao longe por mãos invisíveis, visões e
aparições, sonambulismo, êxtase, catalepsia, atração elétrica, gritos e sons
aéreos, instrumentos tocando sem contacto, comunicações inteligentes, etc. e, o
que não é de somenos importância, a comprovação destes fatos, durante quase
dois anos, por inúmeras testemunhas oculares, dignas de crédito pelo saber e
pelas posições sociais que ocupavam. A narração autêntica dos aludidos
fenômenos foi publicada, naquela época, em muitos jornais alemães e,
especialmente, numa brochura hoje esgotada e raríssima. Na Revue Spirite de
1858 se encontra a tradução completa dessa brochura, com os comentários e
explicações indispensáveis. Essa, que saibamos, é a única publicação feita em
francês do folheto a que nos referimos. Além do empolgante interesse que tais
fenômenos despertam, eles são eminentemente instrutivos, do ponto de vista do
estudo prático do Espiritismo.
Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos
sensíveis, são, em geral, Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados
pelo ascendente moral. A aquisição deste ascendente é o que se deve procurar.
Para alcançá-lo, preciso é que o indivíduo passe do
estado de médium natural ao de médium voluntário. Produz-se, então, efeito
análogo ao que se observa no sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural
cessa geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se
suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se lhe outra diretriz.
O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de pôr óbices ao
fenômeno, coisa que raramente se consegue e que nem sempre deixa de ser
perigosa, o que se tem de fazer é concitar o médium a produzi-los à sua
vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio, chega o médium a sobrepujá-lo
e, de um dominador às vezes tirânico, faz um ser submisso e, não raro, dócil.
Fato digno de nota e que a experiência confirma é que, em tal caso, uma criança
tem tanta e, por vezes, mais autoridade que um adulto: mais uma prova a favor
deste ponto capital da Doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo; que
tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação
atual, desenvolvimento que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são
inferiores.
A moralização de um Espírito, pelos conselhos de uma
terceira pessoa influente e experiente, não estando o médium em estado de o
fazer, constitui frequentemente meio muito eficaz. Mais tarde voltaremos a
tratar dele.
Nesta categoria parece, à primeira vista, se deviam
incluir as pessoas dotadas de certa dose de eletricidade natural, verdadeiros
torpes dos humanos, a produzirem, por simples contato, todos os efeitos de
atração e repulsão. Errado, porém, fora considerá-las médiuns, porquanto a vera
mediunidade supõe a intervenção direta de um Espírito. Ora, no caso de que falamos,
concludentes experiências hão provado que a eletricidade é o agente único
desses fenômenos. Esta estranha faculdade, que quase se poderia considerar uma
enfermidade, pode às vezes estar aliada à mediunidade, como é fácil de
verificar-se na história do Espírito batedor de Bergzabern.
Porém, as mais das vezes, de todo independe de qualquer
faculdade mediúnica. Conforme já dissemos, a única prova da intervenção dos
Espíritos é o caráter inteligente das manifestações. Desde que este caráter não
exista, fundamento há para serem atribuídas a causas puramente físicas. A
questão é saber se as pessoas elétricas estarão ou não mais aptas, do que
quaisquer outras, a tornar-se médiuns de efeitos físicos. Cremos que sim, mas
só a experiência poderia demonstrá-lo.
2. Médiuns sensitivos, ou impressionáveis
Chamam-se assim às pessoas
suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão vaga, por uma
espécie de leve roçadura sobre todos os seus membros, sensação que elas não
podem explicar. Esta variedade não apresenta caráter bem definido. Todos os
médiuns são necessariamente impressionáveis, sendo assim a impressionabilidade
mais uma qualidade geral do que especial. É a faculdade rudimentar
indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da
impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual preciso é não seja
confundida, porquanto, pessoas há que não têm nervos delicados e que sentem
mais ou menos o efeito da presença dos Espíritos, do mesmo modo que outras,
muito irritáveis, absolutamente não os pressentem.
Esta faculdade se
desenvolve pelo hábito e pode adquirir tal sutileza, que aquele que a possui
reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do
Espírito que lhe está ao lado, mas até a sua individualidade, como o cego
reconhece, por um certo não sei quê, a aproximação de tal ou tal pessoa.
Torna-se, com relação aos Espíritos, verdadeiro sensitivo. Um bom Espírito
produz sempre uma impressão suave e agradável; a de um mau Espírito, ao
contrário, é penosa, angustiosa, desagradável. Há como que um cheiro de
impureza.
3. Médiuns audientes
Estes ouvem a voz dos
Espíritos. É, como dissemos ao falar da pneumatofonia, algumas vezes uma voz
interior, que se faz ouvir no foro íntimo; doutras vezes, é uma voz exterior,
clara e distinta, qual a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes podem, assim,
travar conversação com os Espíritos. Quando têm o hábitode se comunicar com
determinados Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pela natureza da voz.
Quem não seja dotado desta faculdade pode, igualmente, comunicar com um
Espírito, se tiver, a auxiliá-lo, um médium audiente, que desempenhe a função
de intérprete.
Esta faculdade é muito
agradável, quando o médium só ouve Espíritos bons, ou unicamente aqueles por quem
chama. Assim, entretanto, já não é, quando um Espírito mau se lhe agarra,
fazendo-lhe ouvir a cada instante as coisas mais desagradáveis e não raro as
mais inconvenientes. Cumpre-lhe, então, procurar livrar-se desses Espíritos,
pelos meios que indicaremos no capítulo da Obsessão.
4. Médiuns falantes (Psicofônicos - nota nossa)
Os médiuns audientes, que
apenas transmitem o que ouvem, não são, a bem dizer, médiuns falantes. Estes
últimos, as mais das vezes, nada ouvem. Neles, o Espírito atua sobre os órgãos
da palavra, como atua sobre a mão dos médiuns escreventes. Querendo
comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que se lhe depara mais flexível no
médium. A um, toma da mão; a outro, da palavra; a um terceiro, do ouvido. O
médium falante geralmente se exprime sem ter consciência do que diz e muitas
vezes diz coisas completamente estranhas às suas ideias habituais, aos seus
conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. Embora se ache
perfeitamente acordado e em estado normal, raramente guarda lembrança do que
diz. Em suma, nele, a palavra é um instrumento de que se serve o Espírito, com
o qual uma terceira pessoa pode comunicar-se, como pode com o auxílio de um
médium audiente.
Nem sempre, porém, é tão
completa a passividade do médium falante. Alguns há que têm a intuição do que
dizem, no momento mesmo em que pronunciam as palavras. Voltaremos a ocupar-nos
com esta espécie de médiuns, quando tratarmos dos médiuns intuitivos.
5. Médiuns videntes
Os médiuns videntes são
dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em
estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam lembrança precisa do
que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico, ou próximo do
sonambulismo. Raro é que esta faculdade se mostre permanente; quase sempre é
efeito de uma crise passageira. Na categoria dos médiuns videntes se podem
incluir todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de ver em
sonho os Espíritos resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade, mas
não constitui, propriamente falando, o que se chama médium vidente. Explicamos
esse fenômeno em o capítulo VI - Das manifestações visuais.
O médium vidente julga ver
com os olhos, como os que são dotados de dupla vista; mas, na realidade, é a
alma quem vê e por isso é que eles tanto veem com os olhos fechados, como com
os olhos abertos; donde se conclui que um cego pode ver os Espíritos, do mesmo
modo que qualquer outro que tem perfeita a vista. Sobre este último ponto
caberia fazer-se interessante estudo, o de saber se a faculdade de que tratamos
é mais frequente nos cegos. Espíritos que na Terra foram cegos nos disseram
que, quando vivos, tinham, pela alma, a percepção de certos objetos e que não
se encontravam imersos em negra escuridão.
Cumpre distinguir as aparições
acidentais e espontâneas da faculdade propriamente dita de ver os Espíritos. As
primeiras são frequentes, sobretudo no momento da morte das pessoas que aquele
que vê amou ou conheceu e que o vêm prevenir de que já não são deste mundo. Há
inúmeros exemplos de fatos deste gênero, sem falar das visões durante o sono.
Doutras vezes, são, do mesmo modo, parentes, ou amigos que, conquanto mortos há
mais ou menos tempo, aparecem, ou para avisar de um perigo, ou para dar um
conselho, ou, ainda, para pedir um serviço.
O serviço que o Espírito
pode solicitar é, em geral, a execução de uma coisa que lhe não foi possível
fazer em vida, ou o auxílio das preces. Estas aparições constituem fatos
isolados, que apresentam sempre um caráter individual e pessoal, e não efeito
de uma faculdade propriamente dita. A faculdade consiste na possibilidade,
senão permanente, pelo menos muito frequente de ver qualquer Espírito que se
apresente, ainda que seja absolutamente estranho ao vidente. A posse desta
faculdade é o que constitui, propriamente falando, o médium vidente.
Entre esses médiuns,
alguns há que só veem os Espíritos evocados e cuja descrição podem fazer com
exatidão minuciosa. Descrevem-lhes, com as menores particularidades, os gestos,
a expressão da fisionomia, os traços do semblante, as vestes e, até, os
sentimentos de que parecem animados. Outros há em quem a faculdade da vidência
é ainda mais ampla: veem toda a população espírita ambiente, a se mover em
todos os sentidos, cuidando, poder-se-ia dizer, de seus afazeres.
Assistimos uma noite à
representação da ópera Oberon, em companhia de um médium vidente muito bom.
Havia na sala grande número de lugares vazios, muitos dos quais, no entanto,
estavam ocupados por Espíritos, que pareciam interessar-se pelo espetáculo. Alguns
se colocavam junto de certos espectadores, como que a lhes escutar a
conversação. Cena diversa se desenrolava no palco: por detrás dos atores muitos
Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando-lhes os
gestos de modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e
fazer esforços por lhes dar energia. Um deles se conservava sempre junto de uma
das principais cantoras.
Julgando-o animado de
intenções um tanto levianas e tendo-o evocado após a terminação do ato, ele acudiu
ao nosso chamado e nos reprochou, com severidade, o temerário juízo: "Não
sou o que julgas, disse; sou o seu guia e seu Espírito protetor; sou
encarregado de dirigi-la." Depois de alguns minutos de uma palestra muito
séria, deixou-nos, dizendo: "Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que
vá vigiá-la." Em seguida, evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe
perguntamos o que pensava da execução da sua obra. "Não de todo má; porém,
frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não há inspiração. Espera, acrescentou, vou
tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado." Foi visto, daí a nada, no
palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava
sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de energia.
Outro fato que prova a
influência que os Espíritos exercem sobre os homens, à revelia destes:
Assistíamos, como nessa noite, a uma representação teatral, com outro médium
vidente. Travando conversação com um Espírito espectador, disse-nos ele: "Vês aquelas duas damas sós, naquele
camarote da primeira ordem? Pois bem, estou esforçando-me por fazer que deixem
a sala." Dizendo isso, o médium o viu ir colocar-se no camarote em questão
e falar às duas. De súbito, estas, que se mostravam muito atentas ao
espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente. Depois, vão-se
e não mais voltam. O Espírito nos fez
então um gesto cômico, querendo significar que cumprira o que dissera. Não o
tornamos a ver, para pedir-lhe explicações mais amplas. Assim que muitas vezes
fomos testemunha do papel que os Espíritos desempenham entre os vivos.
Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes, concertos, sermões,
funerais, casamentos, etc., e por toda parte os encontramos atiçando paixões
más, soprando discórdias, provocando rixas e rejubilando-se com suas proezas.
Outros, ao contrário, combatiam essas influências perniciosas, porém, raramente
eram atendidos.
A faculdade de ver os
Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das de que convém esperar
o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da
própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta
de si mesma. Em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos outorgou,
sem procurarmos o impossível, por isso que, pretendendo ter muito, corremos o
risco de perder o que possuímos.
Quando dissemos serem frequentes
os casos de aparições espontâneas (n. 107), não quisemos dizer que são muito
comuns. Quanto aos médiuns videntes, propriamente ditos, ainda são mais raros e
há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidores dessa faculdade. E
prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas.
Não aludimos sequer aos
que se dão à ilusão ridícula de ver os Espíritos glóbulos, que descrevemos no
n. 108; falamos apenas dos que dizem ver os Espíritos de modo racional. E fora
de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se de boa-fé, porém, outras podem
também simular esta faculdade por amor-próprio, ou por interesse. Neste caso, é
preciso, muito especialmente, levarem conta o caráter, a moralidade e a
sinceridade habituais; todavia, nas particularidades, sobretudo, é que se
encontram meios de mais segura verificação, porquanto algumas há que não podem
deixar suspeita, como, por exemplo, a exatidão no retratar Espíritos que o
médium jamais conheceu quando encamados. Pertence a esta categoria o fato
seguinte:
Uma senhora, viúva, cujo
marido se comunica frequentemente com ela, estava certa vez em companhia de um
médium vidente, que não a conhecia, como não lhe conhecia a família. Disse-lhe
o médium, em dado momento: - Vejo um Espírito perto da senhora. - Ah! disse
esta por sua vez: E com certeza meu marido, que quase nunca me deixa. - Não,
respondeu o médium, é uma mulher de certa idade; está penteada de modo
singular; traz um bandó branco sobre a fronte. Por essa particularidade e
outros detalhes descritos, a senhora reconheceu, sem haver possibilidade de
engano, sua avó, em quem naquele instante absolutamente não pensava.
Se o médium houvesse
querido simular a faculdade, fácil lhe fora acompanhar o pensamento da dama.
Entretanto, em vez do marido, com quem ela se achava preocupada, ele vê uma
mulher, com uma particularidade no penteado, da qual coisa alguma lhe podia dar
ideia. Este fato prova também que a vidência, no médium, não era reflexo de
qualquer pensamento estranho.
6. Médiuns sonambúlicos
Pode considerar-se o
sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens
de fenômenos que frequentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a
influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de
emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele
externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no
estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa
palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário,
é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si
Em resumo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium
exprime o de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também
o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de
emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem
perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns
videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que
dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência
sugerido por outros Espíritos. Aqui está um exemplo notável, em que a dupla
ação do Espírito do sonâmbulo e de outro Espírito se revela e de modo
inequívoco.
Um de nossos amigos tinha
como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de inteligência muito vulgar e
instrução extremamente escassa. Entretanto, no estado de sonambulismo, deu
provas de lucidez extraordinária e de grande perspicácia. Excedia, sobretudo,
no tratamento das enfermidades e operou grande número de curas consideradas
impossíveis. Certo dia, dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com
absoluta exatidão. Não basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o
remédio. Não posso, respondeu, meu anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo
doutor de quem falas? - O que dita os remédios. - Não és tu, então, que vês os
remédios? - Oh! não; estou a dizer que é o meu anjo doutor quem nos dita.
Assim, nesse sonâmbulo, a
ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de
assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro.
Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era apenas
sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era
sonâmbulo-médium.
A lucidez sonambúlica é
uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da
elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. Pode, pois, um
sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas
questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si
próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar
mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau
de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito. A assistência então
de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto
como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou
mesmo mau. AI, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência,
para atraírem os bons Espíritos. (Veja-se: O Livro dos Espíritos,
"Sonambulismo", n. 425, e, aqui, adiante, o capítulo sobre a
"Influência moral do médium".)
7. Médiuns curadores
Unicamente para não deixar
de mencioná-la, falaremos aqui desta espécie de médiuns, porquanto o assunto
exigiria desenvolvimento excessivo para os limites em que precisamos ater-nos.
Sabemos, ao demais, que um de nossos amigos, médico, se propõe a tratá-lo em
obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que este gênero de
mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de
curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de
qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que
magnetismo.
Evidentemente, o fluido
magnético desempenha aí importante papel; porém, quem examina cuidadosamente o
fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetização
ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no caso que
apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso.
Todos os magnetizadores
são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente,
ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a
possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma
potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, se faz manifesta, em
certas circunstâncias, sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que
podem, com razão, ser qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é
uma verdadeira evocação.
Eis aqui as respostas que
nos deram os Espíritos às perguntas que lhes dirigimos sobre este assunto:
1ª - Podem considerar-se
as pessoas dotadas de força magnética como formando uma variedade de médiuns?
"Não há que
duvidar."
2ª - Entretanto, o médium
é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo
em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de
nenhuma potência estranha.
"É um erro; a força
magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos
que ele chama em seu auxilio. Se magnetizas com o propósito de curar, por
exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente,
ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as
qualidades necessárias."
3ª - Há, entretanto, bons
magnetizadores que não creem nos Espíritos?
"Pensas então que os
Espíritos só atuam nos que creem neles? Os que magnetizam para o bem são
auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o desejo do bem os chama,
sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal e pelas más intenções,
chama os maus."
4ª - Agiria com maior
eficácia aquele que, tendo a força magnética, acreditasse na intervenção dos
Espíritos?
"Faria coisas que
consideraríeis milagre."
5ª - Há pessoas que verdadeiramente
possuem o dom de curar pelo simples contato, sem o emprego dos passes
magnéticos?
"Certamente; não tens
disso múltiplos exemplos?"
6ª- Nesse caso, há também ação magnética, ou
apenas influência dos Espíritos?
"Uma e outra coisa.
Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob a influência dos
Espíritos; isso, porém, não quer dizer que sejam quais médiuns curadores,
conforme o entendes."
7ª- Pode transmitir-se esse poder?
"O poder, não; mas o
conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o possua. Não falta quem
não suspeite sequer de que tem esse poder, se não acreditar que lhe foi
transmitido."
8ª - Podem obter-se curas
unicamente por meio da prece?
"Sim, desde que Deus
o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem do doente esteja em sofrer por
mais tempo e então julgais que a vossa prece não foi ouvida."
9ª - Haverá para isso
algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
"Somente a
superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente
Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias,
prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de
pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente
espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes infundir
confiança. Neste caso, porém, não é na fórmula que está a eficácia, mas na fé,
que aumenta por efeito da ideia ligada ao uso da fórmula."
8. Médiuns pneumatógrafos
Dá-se este nome aos
médiuns que têm aptidão para obter a escrita direta, o que não é possível a
todos os médiuns escreventes. Esta faculdade, até agora, se mostra muito rara.
Desenvolve-se, provavelmente, pelo exercício; mas, como dissemos, sua utilidade
prática se limita a uma comprovação patente da intervenção de uma força oculta
nas manifestações. Só a experiência é capaz de dar a ver a qualquer pessoa se a
possui. Pode-se, portanto, experimentar, como também se pode inquirir a
respeito um Espírito protetor, pelos outros meios de comunicação. Conforme seja
maior ou menor o poder do médium, obtêm-se simples traços, sinais, letras,
palavras, frases e mesmo páginas inteiras. Basta de ordinário colocar uma folha
de papel dobrada num lugar qualquer, ou indicado pelo Espírito, durante dez
minutos, ou um quarto de hora, às vezes mais. A prece e o recolhimento são
condições essenciais; é por isso que se pode considerar impossível a obtenção
de coisa alguma, numa reunião de pessoas pouco sérias, ou não animadas de
sentimentos de simpatia e benevolência. (Veja-se a teoria da escrita direta,
capítulo VIII, Laboratório do mundo invisível, n. 127 e seguintes, e capítulo
XII, Pneumatografia.) Trataremos de modo especial dos médiuns escreventes nos
capítulos que se seguem.
DOS MÉDIUNS ESCREVENTES OU PSICÓGRAFOS
Médiuns mecânicos, intuitivos,
semimecânicos, inspirados ou involuntários; de pressentimentos.
De todos os meios de
comunicação, a escrita manual é o mais simples, mais cômodo e, sobretudo, mais
completo. Para ele devem tender todos os esforços, porquanto permite se
estabeleçam, com os Espíritos, relações tão continuadas e regulares, como as
que existem entre nós. Com tanto mais afinco deve ser empregado, quanto é por
ele que os Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau do seu
aperfeiçoamento, ou da sua inferioridade. Pela facilidade que encontram em
exprimir-se por esse meio, eles nos revelam seus mais íntimos pensamentos e nos
facultam julgá-los e apreciar-lhes o valor. Para o médium, a faculdade de
escrever é, além disso, a mais suscetível de desenvolver-se pelo exercício.
Médiuns
mecânicos
Quem examinar certos
efeitos que se produzem nos movimentos da mesa, da cesta, ou da prancheta que
escreve não poderá duvidar de uma ação diretamente exercida pelo Espírito sobre
esses objetos. A cesta se agita por vezes com tanta violência, que escapa das
mãos do médium e não raro se dirige a certas pessoas da assistência para nelas
bater. Outras vezes, seus movimentos dão mostra de um sentimento afetuoso. O
mesmo ocorre quando o lápis está colocado na mão do médium; frequentemente é
atirado longe com força, ou, então, a mão, bem como a cesta, se agitam
convulsivamente e batem na mesa de modo colérico, ainda quando o médium está
possuído da maior calma e se admira de não ser senhor de si Digamos, de
passagem, que tais efeitos demonstram sempre a presença de Espíritos
imperfeitos; os Espíritos superiores são constantemente calmos, dignos e
benévolos; se não são escutados convenientemente, retiram-se e outros lhes
tomam o lugar. Pode, pois, o Espírito exprimir diretamente suas ideias, quer movimentando
um objeto a que a mão do médium serve de simples ponto de apoio, quer acionando
a própria mão.
Quando atua diretamente
sobre a mão, o Espírito lhe dá uma impulsão de todo independente da vontade
deste último. Ela se move sem interrupção e sem embargo do médium, enquanto o
Espírito tem alguma coisa que dizer, e para, assim ele acaba.
Nesta circunstância, o que
caracteriza o fenômeno é que o médium não tem a menor consciência do que
escreve. Quando se dá, no caso, a inconsciência absoluta; têm-se os médiuns
chamados passivos ou mecânicos. E preciosa esta faculdade, por não permitir
dúvida alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve.
Médiuns
intuitivos
A transmissão do
pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou, melhor, de sua
alma, pois que por este nome designamos o Espírito encarnado. O Espírito livre,
neste caso, não atua sobre a mão, para fazê-la escrever; não a toma, não a
guia. Atua sobre a alma, com a qual se identifica. A alma, sob esse impulso,
dirige a mão e esta dirige o lápis.
Notemos aqui uma coisa
importante: é que o Espírito livre não se substitui à alma, visto que não a
pode deslocar. Domina-a, mau grado seu, e lhe imprime a sua vontade. Em tal
circunstância, o papel da alma não é o de inteira passividade; ela recebe o
pensamento do Espírito livre e o transmite. Nessa situação, o médium tem
consciência do que escreve, embora não exprima o seu próprio pensamento. E o
que se chama médium intuitivo. Mas, sendo assim, dir-se-á, nada prova seja um
Espírito estranho quem escreve e não o do médium. Efetivamente, a distinção é
às vezes difícil de fazer-se, porém, pode acontecer que isso pouca importância
apresente. Todavia, é possível reconhecer-se o pensamento sugerido, por não ser
nunca preconcebido; nasce à medida que a escrita vai sendo traçada e, amiúde, é
contrário à idéia que antecipadamente se formara. Pode mesmo estar fora dos
limites dos conhecimentos e capacidades do médium.
O papel do médium mecânico
é o de uma máquina; o médium intuitivo age como o faria um intérprete. Este, de
fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele,
de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse pensamento não é
seu, apenas lhe atravessa o cérebro. Tal precisamente o papel do médium
intuitivo.
Médiuns
semi-mecânicos
No médium puramente
mecânico, o movimento da mão independe da vontade; no médium intuitivo, o
movimento é voluntário e facultativo. O médium semi-mecânico participa de ambos
esses gêneros. Sente que à sua mão uma impulsão é dada, mau grado seu, mas, ao
mesmo tempo, tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se
formam. No primeiro o pensamento vem depois do ato da escrita; no segundo,
precede-o; no terceiro, acompanha-o. Estes últimos médiuns são os mais numerosos.
Médiuns
inspirados
Todo aquele que, tanto no
estado normal, como no de êxtase, recebe, pelo pensamento, comunicações
estranhas às suas idéias preconcebidas, pode ser incluído na categoria dos
médiuns inspirados. Estes, como se vê, formam uma variedade da mediunidade
intuitiva, com a diferença de que a intervenção de uma força oculta é aí muito
menos sensível, por isso que, ao inspirado, ainda é mais difícil distinguir o
pensamento próprio do que lhe é sugerido. A espontaneidade é o que, sobretudo,
caracteriza o pensamento deste último gênero. A inspiração nos vem dos
Espíritos que nos influenciam para o bem, ou para o mal, porém, procede,
principalmente, dos que querem o nosso bem e cujos conselhos muito amiúde
cometemos o erro de não seguir. Ela se aplica, em todas as circunstâncias da
vida, às resoluções que devamos tomar. Sob esse aspecto, pode dizer-se que
todos são médiuns, porquanto não há quem não tenha seus Espíritos protetores e
familiares, a se esforçarem por sugerir aos protegidos salutares idéias. Se
todos estivessem bem compenetrados desta verdade, ninguém deixaria de recorrer
com freqüência à inspiração do seu anjo de guarda, nos momentos em que se não
sabe o que dizer, ou fazer. Que cada um, pois, o invoque com fervor e
confiança, em caso de necessidade, e muito freqüentemente se admirará das
idéias que lhe surgem como por encanto, quer se trate de uma resolução a tomar,
quer de alguma coisa a compor. Se nenhuma idéia surge, é que é preciso esperar.
A prova de que a idéia que sobrevém é estranha à pessoa de quem se trate esta
em que, se tal idéia lhe existira na mente, essa pessoa seria senhora de, a
qualquer momento, utilizá-la e não haveria razão para que ela se não
manifestasse à vontade. Quem não é cego nada mais precisa fazer do que abrir os
olhos, para ver quando quiser. Do mesmo modo, aquele que possui idéias próprias
tem-nas sempre à disposição. Se elas não lhes vêm quando quer, é que está
obrigado a buscá-las algures, que não no seu intimo. Também se podem incluir
nesta categoria as pessoas que, sem serem dotadas de inteligência fora do comum
e sem saírem do estado normal, têm relâmpagos de uma lucidez intelectual que
lhes dá momentaneamente desabitual facilidade de concepção e de elocução e, em
certos casos, o pressentimento de coisas futuras. Nesses momentos, que com
acerto se chamam de inspiração, as idéias abundam, sob um impulso involuntário
e quase febril. Parece que uma inteligência superior nos vem ajudar e que o
nosso espírito se desembaraçou de um fardo.
Os homens de gênio, de
todas as espécies, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos
adiantados, capazes de compreender por si mesmos e de conceber grandes coisas.
Ora, precisamente porque os julgam capazes, é que os Espíritos, quando querem
executar certos trabalhos, lhes sugerem as idéias necessárias e assim é que
eles, as mais das vezes, são médiuns sem o saberem. Têm, no entanto, vaga
intuição de uma assistência estranha, visto que todo aquele que apela para a
inspiração, mais não faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido,
por que exclamaria, tão freqüentemente: meu bom gênio, vem em meu auxílio?
As respostas seguintes
confirmam esta asserção:
a) Qual a causa primária
da inspiração?
"O Espírito que se
comunica pelo pensamento."
b) A revelação das grandes
coisas não é que constitui o objeto único da
inspiração?
"Não, a inspiração se
verifica, muitas vezes, com relação às mais comuns circunstâncias da vida. Por
exemplo, queres ir a alguma parte: uma voz secreta te diz que não o faças,
porque correrás perigo; ou, então, te diz que faças uma coisa em que não
pensavas. É a inspiração. Poucas pessoas há que não tenham sido mais ou menos
inspiradas em certos momentos."
c) Um autor, um pintor, um
músico, por exemplo, poderiam, nos momentos de inspiração, ser considerados
médiuns?
"Sim, porquanto,
nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que desprendida da
matéria; recobra uma parte das suas faculdades de Espírito e recebe mais
facilmente as comunicações dos outros Espíritos que a inspiram."
Médiuns de
pressentimentos
O pressentimento é uma
intuição vaga das coisas futuras. Algumas pessoas têm essa faculdade mais ou
menos desenvolvida. Pode ser devida a uma espécie de dupla vista, que lhes
permite entrever as conseqüências das coisas atuais e a filiação dos
acontecimentos. Mas, muitas vezes, também é resultado de comunicações ocultas
e, sobretudo neste caso, é que se pode dar aos que dela são dotados o nome de
médiuns de pressentimentos, que constituem uma variedade dos médiuns
inspirados.
Nota da Editora (FEB) - No
original francês está no grifo. "Torpilles humaines” (Vide página 208).
Torpille é um peixe semelhante à raia, ou arraia, que tem órgãos capazes de
emitir descargas elétricas. É o peixe-torpedo, à seme1hança das denominações que
damos, de "enguia-elétrica" ou "peixe-elétrico", ao peixe
poraquê amazônico.
DOS MÉDIUNS ESPECIAIS
Aptidões especiais dos
médiuns. Quadro sinóptico das diferentes espécies de médiuns.
Além das categorias de
médiuns que acabamos de enumerar, a mediunidade apresenta uma variedade
infinita de matizes, que constituem os chamados médiuns especiais, dotados de
aptidões particulares, ainda não definidas, abstração feita das qualidades e
conhecimentos do Espírito que se manifesta.
A natureza das
comunicações guarda sempre relação com a natureza do Espírito e traz o cunho da
sua elevação, ou da sua inferioridade, de seu saber, ou de sua ignorância. Mas,
em igualdade de merecimento, do ponto de vista hierárquico, há nele
incontestavelmente uma propensão para se ocupar de uma coisa preferentemente a
outra. Os Espíritos batedores, por exemplo, jamais saem das manifestações
físicas e, entre os que dão comunicações inteligentes, há Espíritos poetas,
músicos, desenhistas, moralistas, sábios, médicos, etc. Falamos dos Espíritos de
mediana categoria, por isso que, chegando eles a um certo grau, as aptidões se
confundem na unidade da perfeição. Porém, de par com a aptidão do Espírito, há
a do médium, que é, para o primeiro, instrumento mais ou menos cômodo, mais ou
menos flexível e no qual descobre ele qualidades particulares que não podemos
apreciar.
Façamos uma comparação: um
músico muito hábil tem ao seu alcance diversos violinos, que todos, para o
vulgo, são bons instrumentos, mas que são muito diferentes uns dos outros para
o artista consumado, o qual descobre neles matizes de extrema delicadeza, que o
levam a escolher uns e a rejeitar outros, matizes que ele percebe por intuição,
visto que não os pode definir. O mesmo se dá com relação aos médiuns. Em
igualdade de condições quanto às forças mediúnicas, o Espírito preferirá um ou
outro, conforme o gênero da comunicação que queira transmitir. Assim, por
exemplo, indivíduos há que, como médiuns, escrevem admiráveis poesias, sendo
certo que, em condições ordinárias, jamais puderam ou souberam fazer dois
versos; outros, ao contrário, que são poetas e que, como médiuns, nunca puderam
escrever senão prosa, mau grado ao desejo que nutrem de escrever poesias. Outro
tanto sucede com o desenho, com a música, etc. Alguns há que, sem possuírem de
si mesmos conhecimentos científicos, demonstram especial aptidão para receber
comunicações eruditas; outros, para os estudos históricos; outros servem mais
facilmente de intérpretes aos Espíritos moralistas.. Numa palavra, qualquer que
seja a maleabilidade do médium, as
comunicações que ele com
mais facilidade recebe trazem geralmente um cunho especial; alguns existem
mesmo que não saem de uma certa ordem de idéias e, quando destas se afastam, só
obtêm comunicações incompletas, lacônicas e não raro falsas. Além das causas de
aptidão, os Espíritos também se comunicam mais ou menos preferentemente por tal
ou qual intermediário, de acordo com as suas simpatias. Assim, em perfeita
igualdade de condições, o mesmo Espírito será muito mais explícito com certos
médiuns, apenas porque estes lhe convêm mais.
Laboraria, pois, em erro
quem, simplesmente por ter ao seu alcance um bom médium, ainda mesmo com a
maior facilidade para escrever, entendesse de querer obter por ele boas
comunicações de todos os gêneros. A primeira condição é, não há contestar,
certificar-se a pessoa da fonte donde elas promanam, isto é, das qualidades do
Espírito que as transmite; porém, não é menos necessário ter em vista as
qualidades do instrumento oferecido ao Espírito. Cumpre, portanto, se estude a
natureza do médium, como se estuda a do Espírito, porquanto são esses os dois
elementos essenciais para a obtenção de um resultado satisfatório. Um terceiro
existe, que desempenha papel igualmente importante: é a intenção, o pensamento
íntimo, o sentimento mais ou menos louvável de quem interroga. Isto facilmente
se concebe. Para que uma comunicação seja boa, preciso é que proceda de um
Espírito bom; para que esse bom Espírito a POSSA transmitir indispensável lhe é
um bom instrumento; para que QUEIRA transmiti-la, necessário se faz que o fim
visado lhe convenha. O Espírito, que lê o pensamento, julga se a questão que
lhe propõem merece resposta séria e se a pessoa que lha dirige é digna de
recebe-la. A não ser assim, não perde seu tempo em lançar boas sementes em cima
de pedras e é quando os Espíritos levianos e zombeteiros entram em ação,
porque, pouco lhes importando a verdade, não a encaram de muito perto e se
mostram geralmente pouco escrupulosos, quer quanto aos fins, quer quanto aos
meios.
Vamos fazer um resumo dos
principais gêneros de mediunidade, a fim de apresentarmos, por assim dizer, o
quadro sinóptico de todas, compreendidas as que já descrevemos nos capítulos
precedentes, indicando o número onde tratamos de cada uma com mais minúcias.
Grupamos as diferentes
espécies de médiuns por analogia de causas e efeitos, sem que esta
classificação algo tenha de absoluto. Algumas se encontram com facilidade;
outras, ao contrário, são raras e excepcionais, o que teremos o cuidado de
indicar. Estas últimas indicações foram todas feitas pelos Espíritos, que,
aliás, reviram este quadro com particular cuidado e o completaram por meio de
numerosas observações e novas categorias, de sorte que o dito quadro é, a bem
dizer, obra deles. Mediante aspas, destacamos as suas observações textuais,
sempre que nos pareceu conveniente assiná-las. São, na sua maioria, de Erasto e
de Sócrates.
Podem dividir-se os
médiuns em duas grandes categorias:
Médiuns de efeitos
físicos, os que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou manifestações
ostensivas. (N. 160.)
Médiuns de efeitos
intelectuais, os que são mais aptos a receber e a transmitir comunicações
inteligentes. (N. 65 e seguintes.)
Todas as outras espécies
se prendem mais ou menos diretamente a uma ou outra dessas duas categorias;
algumas participam de ambas. Se analisarmos os diferentes fenômenos produzidos
sob a influência mediúnica, veremos que, em todos, há um efeito físico e que
aos efeitos físicos se alia quase sempre um efeito inteligente. Difícil é muitas
vezes determinar o limite
entre os dois, mas isso nenhuma conseqüência apresenta. Sob a denominação de
médiuns de efeitos intelectuais abrangemos os que podem, mais particularmente,
servir de intermediários para as comunicações regulares e fluentes. (N. 133.)
Espécies comuns a todos os
gêneros de mediunidade
Médiuns sensitivos:
pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos, por uma impressão geral
ou local, vaga ou material. A maioria dessas pessoas distingue os Espíritos
bons dos maus, pela natureza da impressão. (N. 164.)
"Os médiuns delicados
e muito sensitivos devem abster-se das comunicações com os Espíritos violentos,
ou cuja impressão é penosa, por causa da fadiga que daí resulta."
Médiuns naturais ou
inconscientes: os que produzem espontaneamente os fenômenos, sem intervenção da
própria vontade e, as mais das vezes, à sua revelia. (N. 161.)
Médiuns facultativos ou
voluntários: os que têm o poder de provocar os fenômenos por ato da própria
vontade. (N. 160.) "Qualquer que seja essa vontade, eles nada podem, se os
Espíritos se recusam, o que prova a intervenção de uma força estranha."
Variedades especiais para
os efeitos físicos
Médiuns tiptólogos:
aqueles pela influência dos quais se produzem os ruídos, as pancadas. Variedade
muito comum, com ou sem intervenção da vontade.
Médiuns motores: os que
produzem o movimento dos corpos inertes. Muito comuns. (N. 61.)
Médiuns de translações e
de suspensões: os que produzem a translação aérea e a suspensão dos corpos
inertes no espaço, sem ponto de apoio. Entre eles há os que podem elevar-se a
si mesmos. Mais ou menos raros, conforme a amplitude do fenômeno; muito raros,
no último caso. (Ns. 75 e seguintes; n. 80.) Médiuns de efeitos musicais:
provocam a execução de composições, em certos instrumentos de música, sem
contacto com estes. Muito raros. (N. 74, perg. 24.)
Médiuns de aparições: os
que podem provocar aparições fluídicas ou tangíveis, visíveis para os
assistentes. Muito excepcionais. (N. 100, perg. 27; n. 104.)
Médiuns de transporte: os que
podem servir de auxiliares aos Espíritos para o transporte de objetos
materiais.
Variedade dos médiuns
motores e de translações: Excepcionais. (N. 96.)
Médiuns noturnos: os que
só na obscuridade obtêm certos efeitos físicos. É a seguinte a resposta que nos
deu um Espírito à pergunta que fizemos sobre se se podem considerar esses
médiuns como constituindo uma variedade: "Certamente se pode fazer disso
uma especialidade, mas esse fenômeno é devido mais às condições ambientes do
que à natureza do médium, ou dos Espíritos. Devo acrescentar que alguns escapam
a essa influência do meio e que os médiuns noturnos, em sua maioria, poderiam
chegar, pelo exercício, a operar tão bem no claro, quanto na obscuridade. É
pouco numerosa esta espécie de médiuns. E, cumpre dizê-lo, graças a essa
condição, que oferece plena liberdade ao emprego dos truques da ventriloquia e
dos tubos acústicos, é que os charlatães hão abusado muito da credulidade,
fazendo-se passar por médiuns, a fim de ganharem dinheiro. Mas, que importa? Os
trampolineiros de gabinete, como os da praça pública, serão cruelmente
desmascarados e os Espíritos lhes provarão que andam mal, imiscuindo-se na obra deles. Repito: alguns
charlatães receberão, de modo bastante rude, o castigo que os desgostará do
oficio de falsos médiuns. Aliás, tudo isso pouco durará." - ERASTO.
Médiuns pneumatógrafos: os
que obtêm a escrita direta. Fenômeno muito raro e, sobretudo, muito fácil de
ser imitado pelos trapaceiros. (N. 177.)
NOTA. Os Espíritos
insistiram, contra a nossa opinião, em incluir a escrita direta entre os
fenômenos de ordem física, pela razão, disseram eles, de que: "Os efeitos
inteligentes são aqueles para cuja produção o Espírito se serve dos materiais
existentes no cérebro do médium, o que não se dá na escrita direta. A ação do
médium é aqui toda material, ao passo que no médium escrevente, ainda que
completamente mecânico, o cérebro desempenha sempre um papel ativo."
Médiuns curadores: os que
têm o poder de curar ou de aliviar o doente, pela só imposição das mãos, ou
pela prece. "Esta faculdade não é essencialmente mediúnica; possuem-na
todos os verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não. As mais das vezes, é apenas
uma exaltação do poder magnético, fortalecido, se necessário, pelo concurso de
bons Espíritos." (N. 175.)
Médiuns excitadores:
pessoas que têm o poder de, por sua influência, desenvolver nas outras a
faculdade de escrever. "Aí há antes um efeito magnético do que um caso de
mediunidade propriamente dita, porquanto nada prova a intervenção de um Espírito.
Como quer que seja, pertence à categoria dos efeitos físicos." (Veja-se o
capítulo Da formação dos médiuns.)
Médiuns
especiais para efeitos intelectuais.
Aptidões diversas
Médiuns audientes: os que
ouvem os Espíritos. Muito comuns. (N. 165.) "Muitos há que imaginam ouvir
o que apenas lhes está na imaginação."
Médiuns falantes: os que
falam sob a influência dos Espíritos. Muito comuns. (N. 166.)
Médiuns videntes: os que,
em estado de vigília, vêem os Espíritos. A visão acidental e fortuita de um
Espírito, numa circunstância especial, é muito freqüente; mas, a visão
habitual, ou facultativa dos Espíritos, sem distinção, é excepcional. (N. 167.)
"É uma aptidão a que se opõe o estado atual dos órgãos visuais. Por isso é
que cumpre nem sempre acreditar na palavra dos que dizem ver os
Espíritos."
Médiuns inspirados:
aqueles a quem, quase sempre mau grado seu, os Espíritos sugerem idéias, quer
relativas aos atos ordinários da vida, quer com relação aos grandes trabalhos
da inteligência. (N. 182.)
Médiuns de pressentimentos:
pessoas que, em dadas circunstâncias, têm uma intuição vaga de coisas vulgares
que ocorrerão no futuro. (N. 184.)
Médiuns proféticos:
variedade dos médiuns inspirados, ou de pressentimentos. Recebem, permitindo-o
Deus, com mais precisão do que os médiuns de pressentimentos, a revelação de
futuras coisas de interesse geral e são incumbidos de dá-las a conhecer aos
homens, para instrução destes. "Se há profetas verdadeiros, mais ainda os
há falsos, que consideram revelações os devaneios da própria imaginação, quando
não são embusteiros que, por ambição, se apresentam como tais." (Veja-se,
em O Livro dos Espíritos, o n. 624 - "Características do verdadeiro
profeta".)
Médiuns sonâmbulos: os
que, em estado de sonambulismo, são assistidos por Espíritos. (N. 172.)
Médiuns extáticos: os que,
em estado de êxtase, recebem revelações da parte dos Espíritos. "Muitos
extáticos são joguetes da própria imaginação e de Espíritos zombeteiros que se
aproveitam da exaltação deles. São raríssimos os que mereçam inteira
confiança."
Médiuns pintores ou
desenhistas: os que pintam ou desenham sob a influência dos Espíritos. Falamos
dos que obtêm trabalhos sérios, visto não se poder dar esse nome a certos
médiuns que Espíritos zombeteiros levam a fazer coisas grotescas, que
desabonariam o mais atrasado estudante.
Os Espíritos levianos se
comprazem em imitar. Na época em que apareceram os notáveis desenhos de
Júpiter, surgiu grande número de pretensos médiuns desenhistas, que Espíritos
levianos induziram a fazer as coisas mais ridículas. Um deles, entre outros,
querendo eclipsar os desenhos de Júpiter, ao menos nas dimensões, quando não
fosse na qualidade, fez que um médium desenhasse um monumento que ocupava
muitas folhas de
papel para chegar à altura
de dois andares. Muitos outros se divertiram fazendo que os médiuns pintassem
supostos retratos, que eram verdadeiras caricaturas. (Revue Spirite, agosto de
1858.)
Médiuns músicos: os que
executam, compõem, ou escrevem músicas, sob a influência dos Espíritos. Há
médiuns músicos, mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como os há
para as comunicações literárias. (Veja-se - Médiuns para efeitos musicais.)
VARIEDADES
DOS MÉDIUNS ESCREVENTES
1º - Segundo o modo de
execução
Médiuns escreventes ou
psicógrafos: os que têm a faculdade de escrever por si mesmos sob a influência
dos Espíritos.
Médiuns escreventes
mecânicos: aqueles cuja mão recebe um impulso involuntário e que nenhuma
consciência têm do que escrevem. Muito raros. (N. 179).
Médiuns semimecânicos:
aqueles cuja mão se move involuntariamente, mas que têm, instantaneamente,
consciência das palavras ou das frases, à medida que escrevem. São os mais
comuns. (N. 181.)
Médiuns intuitivos:
aqueles com quem os Espíritos se comunicam pelo pensamento e cuja mão é conduzida
voluntariamente. Diferem dos médiuns inspirados em que estes últimos não
precisam escrever, ao passo que o médium intuitivo escreve o pensamento que lhe
é sugerido instantaneamente sobre um assunto determinado e
provocado. (N. 180.)
"São muito comuns, mas também muito sujeitos a erro, por não poderem,
multas vezes, discernir o que provem dos Espíritos do que deles próprios
emana."
Médiuns polígrafos:
aqueles cuja escrita muda com o Espírito que se comunica, ou aptos a reproduzir
a escrita que o Espírito tinha em vida. O primeiro caso é muito vulgar; o
segundo, o da identidade da escrita, é mais raro. (N. 219.)
Médiuns poliglotas: os que
têm a faculdade de falar, ou escrever, em línguas que lhes são desconhecidas.
Muito raros.
Médiuns iletrados: os que
escrevem, como médiuns, sem saberem ler, nem escrever, no estado ordinário.
"Mais raros do que os precedentes; há maior dificuldade material a
vencer."
2º - Segundo o
desenvolvimento da faculdade
Médiuns novatos: aqueles
cujas faculdades ainda não estão completamente desenvolvidas e que carecem da
necessária experiência.
Médiuns improdutivos: os
que não chegam a obter mais do que coisas insignificantes, monossílabos, traços
ou letras sem conexão. (Veja-se o capítulo "Da formação dos médiuns”.)
Médiuns feitos ou
formados: aqueles cujas faculdades mediúnicas estão completamente
desenvolvidas, que transmitem as comunicações com facilidade e presteza, sem
hesitação. Concebe-se que este resultado só pelo hábito pode ser conseguido,
porquanto nos médiuns novatos as comunicações são lentas e difíceis.
Médiuns lacônicos: aqueles
cujas comunicações, embora recebidas com facilidade, são breves e sem
desenvolvimento.
Médiuns explícitos: as
comunicações que recebem têm toda a amplitude e toda a extensão que se podem
esperar de um escritor consumado. "Esta aptidão resulta da expansão e da
facilidade de combinação dos fluidos. Os Espíritos os procuram para tratar de
assuntos que comportam grandes desenvolvimentos."
Médiuns experimentados: a
facilidade de execução é uma questão de hábito e que muitas vezes se adquire em
pouco tempo, enquanto que a experiência resulta de um estudo sério de todas as
dificuldades que se apresentam na prática do Espiritismo. A experiência dá ao
médium o tato necessário para apreciar a natureza dos Espíritos que se
manifestam, para lhes apreciar as qualidades boas ou más, pelos mais minuciosos
sinais, para distinguir o embuste dos Espíritos zombeteiros, que se acobertam
com as aparências da verdade. Facilmente se compreende a importância desta qualidade,
sem a qual todas as Outras ficam destituídas de real utilidade. O mal é que
muitos médiuns confundem a experiência, fruto do estudo, com a aptidão, produto
da organização física. Julgam-se mestres, porque escrevem com facilidade;
repelem todos os conselhos e se tomam presas de Espíritos mentirosos e
hipócritas, que os captam, lisonjeando-lhes o orgulho. (Veja-se, adiante, o
capítulo "Da obsessão".)
Médiuns maleáveis: aqueles
cuja faculdade se presta mais facilmente aos diversos gêneros de comunicações e
pelos quais todos os Espíritos, ou quase todos, podem manifestar-se,
espontaneamente, ou por evocação. "Esta espécie de médiuns se aproxima
muito da dos médiuns sensitivos."
Médiuns exclusivos:
aqueles pelos quais se manifesta de preferência um Espírito, até com exclusão
de todos os demais, o qual responde pelos outros que são chamados. "Isto
resulta sempre de falta de maleabilidade. Quando o Espírito é bom, pode
ligar-se ao médium, por simpatia, ou com um intento louvável; quando mau, é
sempre objetivando pôr o médium na sua dependência. E mais um defeito do que
uma qualidade e muito próximo da obsessão." (Veja-se o capítulo "Da
obsessão".)
Médiuns para evocação: os
médiuns maleáveis são naturalmente os mais próprios para este gênero de
comunicação e para as questões de minudências que se podem propor aos
Espíritos. Sob este aspecto, há médiuns inteiramente especiais. "As
respostas que dão não saem quase nunca de um quadro restrito, incompatível com
o desenvolvimento dos assuntos gerais."
Médiuns para ditados
espontâneos: recebem comunicações espontâneas de Espíritos que se apresentam
sem ser chamados. Quando esta faculdade é especial num médium, torna-se
difícil, às vezes impossível mesmo, fazer-se por ele urna evocação.
"Entretanto, são mais bem aparelhados que os da classe precedente. Atenta
em que o aparelhamento de que aqui se trata é o de materiais do cérebro, pois
mister se faz, freqüentemente, direi mesmo - sempre, maior soma de inteligência
para os ditados espontâneos, do que para as evocações. Entende por ditados
espontâneos os que verdadeiramente merecem essa denominação e não algumas
frases incompletas ou algumas idéias corriqueiras, que se deparam em todos os
escritos humanos."
3º - Segundo o gênero e a
particularidade das comunicações
Médiuns versejadores:
obtêm, mais facilmente do que outros, comunicações em verso. Muito comuns, para
maus versos; muito raros, para versos bons.
Médiuns poéticos: sem
serem versificadas, as comunicações que recebem têm qualquer coisa de vaporoso,
de sentimental; nada que mostre rudeza. São, mais do que os outros, próprios
para a expressão de sentimentos ternos e afetuosos. Tudo, nas suas
comunicações, é vago; fora inútil pedir-lhes idéias precisas. Muito comuns.
Médiuns positivos: suas
comunicações têm, geralmente, um cunho de nitidez e precisão, que muito se
presta às minúcias circunstanciadas, aos informes exatos. Muito raros.
Médiuns literários: não
apresentam nem o que há de impreciso nos médiuns poéticos, nem o terra-a-terra
dos médiuns positivos; porém, dissertam com sagacidade. Têm o estilo correto,
elegante e, freqüentemente, de notável eloqüência.
Médiuns incorretos: podem
obter excelentes coisas, pensamentos de inatacável moralidade, mas num estilo
prolixo, incorreto, sobrecarregado de repetições e de termos impróprios.
"A incorreção material do estilo decorre geralmente de falta de cultura
intelectual do médium que, então, não é, sob esse aspecto, um bom instrumento
para o Espírito, que a isso, aliás, pouca importância liga. Tendo como
essencial o pensamento, ele vos deixa a liberdade de dar lhe a forma que
convenha. Já assim não é com relação às idéias falsas e ilógicas que uma
comunicação possa conter, as quais constituem sempre um índice da inferioridade
do Espírito que se manifesta."
Médiuns historiadores: os
que revelam aptidão especial para as explanações históricas. Esta faculdade,
como todas as demais, independe dos conhecimentos do médium, porquanto não é
raro verem-se pessoas sem instrução e até crianças tratar de assuntos que lhes
não estão ao alcance. Variedade rara dos médiuns positivos.
Médiuns científicos: não
dizemos sábios, porque podem ser muito ignorantes e, apesar disso, se mostram
especialmente aptos para comunicações relativas às ciências.
Médiuns receitistas: têm a
especialidade de servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos para as
prescrições médicas. Importa não os confundir com os médiuns curadores, visto
que absolutamente não fazem mais do que transmitir o pensamento do Espírito,
sem exercerem por si mesmos influência alguma. Muito
comuns.
Médiuns religiosos:
recebem especialmente comunicações de caráter religioso, ou que tratam de
questões religiosas, sem embargo de suas crenças, ou hábitos.
Médiuns filósofos e
moralistas: as comunicações que recebem têm geralmente por objeto as questões
de moral e de alta filosofia. Muito comuns, quanto à moral. "Todos estes
matizes constituem variedades de aptidões dos médiuns bons. Quanto aos que têm
uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas, médicas e
outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, fica certo de que
possuíram, em anterior existência, esses conhecimentos, que permaneceram neles
em estado latente, fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o
Espírito que se manifesta; são os elementos que a este abrem caminho para a
transmissão de idéias que lhe são próprias, porquanto, em tais médiuns encontra
ele instrumentos mais inteligentes e mais maleáveis do que num ignaro." -
(Erasto.)
Médiuns de comunicações
triviais e obscenas: estas palavras indicam o gênero de comunicações que alguns
médiuns recebem habitualmente e a natureza dos Espíritos que as dão. Quem haja
estudado o mundo espírita, em todos os graus da escala, sabe que Espíritos há,
cuja perversidade iguala à dos homens mais depravados e que se comprazem em
exprimir seus pensamentos nos mais grosseiros termos. Outros,, menos abjetos,
se contentam com expressões triviais. E natural que esses médiuns sintam o
desejo de se verem livres da preferência de que são objeto por parte de semelhantes
Espíritos e que devem invejar os que, nas comunicações que recebem, jamais
escreveram uma palavra inconveniente. Fora necessário uma estranha aberração de
idéias e estar divorciado do bom senso, para acreditar que semelhante linguagem
possa ser usada por Espíritos bons.
4º - Segundo as qualidades
físicas do médium
Médiuns calmos: escrevem
sempre com certa lentidão e sem experimentar a mais ligeira agitação.
Médiuns velozes: escrevem
com rapidez maior do que poderiam voluntariamente, no estado ordinário. Os
Espíritos se comunicam por meio deles com a rapidez do relâmpago. Dir-se-ia
haver neles uma superabundância de fluido, que lhes permite identificarem-se
instantaneamente com o Espírito. Esta qualidade apresenta às vezes seu
inconveniente: o de que a rapidez da escrita a toma muito difícil de ser lida,
por quem quer que não seja o médium. "É mesmo muito fatigante, porque
desprende muito fluido inutilmente."
Médiuns convulsivos: ficam
num estado de sobreexcitação quase febril. A mão e algumas vezes todo o corpo
se lhes agitam num tremor que é impossível dominar. A causa primária desse fato
está sem dúvida na organização, mas também depende muito da natureza dos
Espíritos que por eles se comunicam. Os bons e benévolos produzem sempre uma
impressão suave e agradável; os maus, ao contrário, produzem-na penosa. "É
preciso que esses médiuns só raramente se sirvam de sua faculdade mediúnica,
cujo uso freqüente lhes poderia afetar o Sistema nervoso." (Capítulo
"Da identidade dos Espíritos", diferenciação dos bons e maus
Espíritos.)
5º - Segundo as qualidades morais dos médiuns
Médiuns imperfeitos
Médiuns obsidiados: os que
não podem desembaraçar-se de Espíritos importunos e enganadores, mas não se
iludem.
Médiuns fascinados: os que
são iludidos por Espíritos enganadores e se iludem sobre a natureza das
comunicações que recebem.
Médiuns subjugados: os que
sofrem uma dominação moral e, muitas vezes, material da parte de maus
Espíritos.
Médiuns levianos: os que
não tomam a sério suas faculdades e delas só se servem por divertimento, ou
para futilidades.
Médiuns indiferentes: os
que nenhum proveito moral tiram das instruções que obtêm e em nada modificam o
proceder e os hábitos.
Médiuns presunçosos: os
que têm a pretensão de se acharem em relação somente com Espíritos superiores.
Crêem-se infalíveis e consideram inferior e errôneo tudo o que deles não
provenha.
Médiuns orgulhosos: os que
se envaidecem das comunicações que lhes são dadas; julgam que nada mais têm que
aprender no Espiritismo e não tomam para si as lições que recebem
freqüentemente dos Espíritos. Não se contentam com as faculdades que possuem,
querem tê-las todas.
Médiuns suscetíveis:
variedade dos médiuns orgulhosos, suscetibilizam-se com as críticas de que
sejam objeto suas comunicações; zangam-se com a menor contradição e, se mostram
o que obtêm, é para que seja admirado e não para que se lhes dê um parecer.
Geralmente, tomam aversão às pessoas que os não aplaudem sem restrições e fogem
das reuniões onde não possam impor-se e dominar. "Deixai que se vão pavonear
algures e procurar ouvidos mais complacentes, ou que se isolem; nada perdem as
reuniões que da presença deles ficam privadas." - ERASTO.
Médiuns mercenários: os
que exploram suas faculdades.
Médiuns ambiciosos: os
que, embora não mercadejem com as faculdades que possuem, esperam tirar delas
quaisquer vantagens.
Médiuns de má-fé: os que,
possuindo faculdades reais, simulam as de que carecem, para se darem
importância. Não se podem designar pelo nome de médium as pessoas que, nenhuma
faculdade mediúnica possuindo, só produzem certos efeitos por meio da
charlatanaria.
Médiuns egoístas: os que
somente no seu interesse pessoal se servem de suas faculdades e guardam para si
as comunicações que recebem.
Médiuns invejosos: os que
se mostram despeitados com o maior apreço dispensado a outros médiuns, que lhes
são superiores.
Todas estas más qualidades
têm necessariamente seu oposto no bem.
Bons médiuns
Médiuns sérios: os que
unicamente para o bem se servem de suas faculdades e para fins verdadeiramente
úteis. Acreditam profaná-las, utilizando-se delas para satisfação de curiosos e
de indiferentes, ou para futilidades.
Médiuns modestos: os que
nenhum reclamo fazem das comunicações que recebem, por mais belas que sejam.
Consideram-se estranhos a elas e não se julgam ao abrigo das mistificações.
Longe de evitarem as opiniões desinteressadas, solicitam-nas.
Médiuns devotados: os que
compreendem que o verdadeiro médium tem uma missão a cumprir e deve, quando
necessário, sacrificar gostos, hábitos, prazeres, tempo e mesmo interesses
materiais ao bem dos outros.
Médiuns seguros: os que,
além da facilidade de execução, merecem toda a confiança, pelo próprio caráter,
pela natureza elevada dos Espíritos que os assistem; os que, portanto, menos
expostos se acham a ser iludidos. Veremos mais tarde que esta segurança de modo
'algum depende dos nomes mais ou menos respeitáveis com que os Espíritos se
manifestem. "É incontestável, bem o sentis, que, epilogando assim as
qualidades e os defeitos dos médiuns, isto suscitará contrariedades e até a
animosidade de alguns; mas, que importa? A mediunidade se espalha cada vez mais
e o médium que levasse a mal estas reflexões, apenas uma coisa provaria: que
não é bom médium, isto é, que tem a assisti-lo Espíritos maus. Ao demais, como
já eu disse, tudo isto será passageiro e os maus médiuns, os que abusam, ou
usam mal de suas faculdades, experimentarão tristes conseqüências, conforme já
se tem dado com alguns. Aprenderão à sua custa o que resulta de aplicarem, no
interesse de suas paixões terrenas, um dom que Deus lhes outorgara unicamente
para o adiantamento moral deles. Se os não puderdes reconduzir ao bom caminho,
lamentai-os, porquanto, posso dizê-lo, Deus os reprova." - (ERASTO.)
"Este quadro é de
grande importância, não si para os médiuns sinceros que, lendo-o, procurarem de
boa-fé preservar-se dos escolhos a que estão expostos, mas também para todos os
que se servem dos médiuns, porque lhes dará a medida do que podem racionalmente
esperar. Ele deverá estar constantemente sob as vistas de todo aquele que se
ocupa de manifestações, do mesmo modo que a escala espírita, a que serve de
complemento. Esses dois quadros reúnem todos os princípios da Doutrina e
contribuirão, mais do que o supondes, para trazer o Espiritismo ao verdadeiro
caminho." (SÓCRATES.)
Todas estas variedades de
médiuns apresentam uma infinidade de graus em sua intensidade. Muitas há que, a
bem dizer, apenas constituem matizes, mas que, nem por isso, deixam de ser
efeito de aptidões especiais. Concebe-se que há de ser muito raro esteja a
faculdade de um médium rigorosamente circunscrita a um só gênero. Um médium
pode, sem dúvida, ter muitas aptidões, havendo, porém, sempre uma dominante. Ao
cultivo dessa é que, se for útil, deve ele aplicar-se. Em erro grave incorre
quem queira forçar de todo modo o desenvolvimento de uma faculdade que não
possua. Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça possuir os
germens. Procurar ter as outras é, acima de tudo, perder tempo e, em segundo
lugar, perder talvez, enfraquecer com certeza, as de que seja dotado.
"Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta
sempre por sinais inequívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium
tornar-se excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de todo, nada
de bom obterá.
Notai, de passagem, que o
desejo de ampliar indefinidamente o âmbito de suas faculdades é uma pretensão
orgulhosa, que os Espíritos nunca deixam impune. Os bons abandonam o
presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não é raro
verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por
amor-próprio, ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os
tornarem notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de
médiuns seguros." - (SÓCRATES.)
O estudo da especialidade
dos médiuns não só lhes é necessário, como também ao evocador. Conforme a
natureza do Espírito que se deseja chamar e as perguntas que se lhe quer
dirigir, convém se escolha o médium mais apto ao que se tem em vista.
Interrogar o primeiro que apareça é expor-se a receber respostas incompletas,
ou errôneas. Tomemos aos fatos comuns um exemplo. Ninguém confiará a redação de
qualquer trabalho, nem mesmo uma simples cópia, ao primeiro que encontre,
apenas porque saiba escrever. Suponhamos um músico, que queira seja executado
um trecho de canto por ele composto. Muitos cantores, hábeis todos, se acham à
sua disposição. Ele, entretanto, não os tomará ao acaso: escolherá, para seu
intérprete, aquele cuja voz, cuja expressão, cujas qualidades todas, numa
palavra, digam melhor com a natureza do trecho musical. O mesmo fazem os
Espíritos, com relação aos médiuns, e nós devemos fazer como os Espíritos.
Cumpre, além disso, notar
que os matizes que a mediunidade apresenta e aos quais outros mais se poderiam
acrescentar, nem sempre guardam relação com o caráter do médium. Assim, por
exemplo, um médium naturalmente alegre, jovial, pode obter comumente
comunicações graves, mesmo severas e vice-versa. E ainda uma prova evidente de
que ele age sob a impulsão de uma influência estranha. Voltaremos ao assunto,
no capítulo que trata da influência moral do médium.
Fonte: CAPÍTULO XIV de O Livro dos Médiuns - Allan Kardec
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