O OBSESSOR
Todo o capítulo 23 de “O Livro
dos Médiuns” é dedicado a o problema da obsessão, que Kardec considera, com a
lucidez que o caracteriza, um dos maiores problemas decorrentes do exercício da
mediunidade.
Define ele como obsessão “o
domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas”. Em artigo
para “Reformador” (1), escrevi o seguinte: “... a palavra obsessão é termo
genérico de um fenômeno que pode desdobrar-se em três principais variedades: a
obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
A primeira delas é a menos
perniciosa porque, usualmente,
o médium — pois todo obsidiado
tem forte componente mediúnico — está consciente das manobras e dissimulações
do Espírito, o que certamente o incomoda, mas não o perturba a ponto de
provocar desarranjos mentais.”
Esse artigo prossegue comentando
Kardec, para dizer que a
fascinação é bem mais grave,
“porque o agente espiritual atua diretamente sobre o pensamento de sua vítima,
inibindo-lhe o raciocínio e levando-a à perigosa convicção de que as ideias que
expressa, por mais fantásticas que sejam,
provêm de um Espírito de elevado
gabarito intelectual e moral. Seu engano é evidente a todos, menos a ele
próprio, que segue, fascinado e servil, o Espírito que se apoderou sutilmente
de sua mente”.
“Na subjugação” — diz ainda o
artigo, “Kardec distingue dois aspectos: a moral e a corporal. No primeiro
caso, o ser encarnado é constrangido a tomar atitudes absurdas, como se
estivesse completamente privado do seu próprio senso crítico. No segundo caso,
o obsessor “atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários”,
obrigando a sua vítima a gestos de dramático e lamentável ridículo.”
Acha, por isso, o Codificador,
“que o termo subjugação é mais apropriado do que possessão, de uso mais
antigo”. Nessa linha de raciocínio, portanto, o que conhecemos por possessão
não seria senão um caso grave e extremo de obsessão.
Ao reexaminar o problema, em “A
Gênese”, Kardec chama a obsessão de “ação persistente que um Espírito mau
exerce sobre um indivíduo”, enquanto que na possessão, “em vez de agir
exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito
encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja
abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão,
conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito
desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão
de que a união molecular do períspirito e do corpo só se pode operar no momento
da concepção”. (Os destaques são desta transcrição.)
“Ensina Kardec” — prossegue o
artigo — “que, na obsessão grave, o obsidiado fica envolto e impregnado de
fluídos perniciosos que cumpre dispersar pela aplicação “de um fluído melhor”,
ou seja, por processos magnéticos, através de passes, por exemplo.”
“Nem sempre, porém” — adverte
Kardec —, “basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser
inteligente (destaque do original) ao qual é preciso se possua o direito de
falar com autoridade que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade
moral. Quanto maior estafor, tanto maior também será aquela.” E acrescenta: “Mas,
ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna
que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se
faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio
de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o
objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de
libertar um encarnado e de converter um
Espírito imperfeito.” (Destaques
desta transcrição.)
Ninguém poderia descrever melhor,
em tão poucas palavras,
o programa — síntese do processo
de desobsessão: o obsessor não deve ser arrancado à força ou expulso. Ele
precisa ser convencido a abandonar seus propósitos e levado ao arrependimento.
Isto se faz buscando com ele um entendimento, um diálogo, pelo qual procure nos
educá-lo moralmente, mas sem a arrogância do mestre petulante, e sim com o
coração aberto do companheiro que procura compreender as suas razões, o núcleo
de sua problemática, o
porquê da sua revolta, do seu
ódio. Por mais violento e agressivo que seja, é invariavelmente um Espírito que
sofre, ainda que não o reconheça. A argumentação que utilizarmos tem que ser
convincente.
A obsessão é, amiúde, um processo
de vingança. Deseducado moralmente, como diz Kardec, o Espírito perseguidor
busca alívio para o seu sofrimento fazendo sofrer aquele que o feriu,
tornando-se ambos infelizes e envolvendo ainda outros nas tramas das suas
desgraças. É preciso observar, no entanto,
que tudo está previsto nas leis
divinas, que, ao mesmo tempo em que permitem a cobrança de nossas faltas, nos
liberam, pelo resgate. A obsessão é impotente diante de Espíritos redimidos.
Voltaremos a cuidar do problema,
quando tivermos de conversar, mais adiante, acerca das técnicas e recursos
sugeridos para o trabalho.
(1) “Reformador” de maio de 1074,
artigo “Possessão e
Exorcismo”.
Fonte: Livro DIÁLOGO COM AS SOMBRAS - HERMÍNIO C. MIRANDA
Imagem: https://www.google.com.br/search?q=obsessor&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiTqdPK__3LAhWFIpAKHSNeCucQ_AUIBygB&biw=1280&bih=890#imgdii=V-R8xesFj8JO5M%3A%3BV-R8xesFj8JO5M%3A%3BhfV2fof5q1_eLM%3A&imgrc=V-R8xesFj8JO5M%3A
Nenhum comentário:
Postar um comentário