segunda-feira, 20 de junho de 2016

Incredulidade e Sofrimento

Incredulidade e Sofrimento

 


As multidões podem ser consideradas como rebanhos complexos e difíceis de comando, em razão de serem constituídas por indivíduos de diferentes portes e mentalidades, momentaneamente unidos pelo mesmo paroxismo de uma paixão qualquer e que arremete irracionalmente em qualquer direção, dependendo da liderança que lhe apresenta a ideia dominante. Normalmente, ondulante e exagerada muda de roteiro com facilidade, tornando-se construtiva ou desagregadora, de acordo com o móvel que a estimula.
Jesus sempre viveu com as multidões, as massas ansiosas e problemáticas, vitimadas pela miséria socioeconômica e pelo abandono das autoridades do seu tempo.
Portador de incomum senso psicológico sabia conduzi-las de maneira pacífica e ordeira, oferecendo a Sua mensagem de amor, misericórdia e compaixão.
Normalmente supersticiosa, a multidão não discerne, agindo automaticamente num ou noutro sentido, tanto em auxílio de um ideal como um rolo compressor que tudo esmaga à frente.
Muitas vezes, após atender às suas necessidades sempre crescentes, a fim de refazer-se da tensão promovida pela massa insaciável, Ele desaparecia buscando a solidão, revigorando os sentimentos, de modo que o amor permanecesse irretocável, mesmo ante as exigências e ingratidões do povo.
As massas invariavelmente, não desejam orientação, trabalho, esforço, mas solução miraculosa para os seus problemas. E porque os problemas residem nos indivíduos, cada qual sendo a soma das próprias irresponsabilidades, muito difícil torna-se oferecer segurança aos grupos desarvorados.
Jesus atendia a todos que o buscavam com a invariável ternura que sempre dedicava a cada criatura que, isoladamente ou não, se lhe acercava.
Jamais apresentou tratamento diferenciado em relação aos infelizes de qualquer natureza.
Por isso, que, de acordo com a narração do apóstolo João, no seu capítulo 12 do Evangelho, esclarece que, após a dissertação apresentada após a entrada triunfal em Jerusalém, tendo-se retirado, escondeu-se deles. (versículo 37).
Insaciável, a massa devora aqueles que elege para ser-lhe o guia e salvador, pois que, ao lado da insânia dos atos desarvorados encontra-se a morbidez da comodidade que não deseja ser alterada.
Normalmente, as criaturas desejam soluções para os problemas, transferindo os para os demais e ficando indiferentes aos resultados.
O Mestre sabia dessa disposição humana, porém desejava que cada qual assumisse a própria responsabilidade pelo seu destino, esforçando-se para combater a inferioridade moral, colocando as balizas do Reino de Deus na conduta pessoal.
Aproximavam-se as horas de tormento, naqueles dias de conturbação.
Era indispensável que Ele estivesse preparado para dar testemunho de tudo quanto houvera ensinado, assim fazendo que se cumprissem as profecias.
Tudo fizera para convidar os ouvintes à crença e à integração nos postulados da paz e do amor.
Embora, o acompanhassem, não acreditavam realmente Nele, sempre querendo mais.
O profeta Isaías houvera anunciado que assim deveria ser, porque cegou lhes os olhos, e endureceu lhes o coração. Para que não vejam com os seus olhos entendam no coração. E se convertam.
E eu os sare.
A incredulidade resseca as nascentes do coração, de onde promanam os rios dos sentimentos de nobreza, de amor e de devotamento.
A crença independe das demonstrações visuais, sendo inata ou adquirida pela razão, pela reflexão e análise dos fatos observados.
Quando se deseja ver para crer, aumenta-se a incredulidade, porque sempre surge a suspeita da fraude, da intrujice.
Ante o deslumbramento de alguns gregos que o haviam visto entrar sob aplausos em Jerusalém, esses o buscaram, recorrendo aos discípulos amados. Como, porém, acercava-se a hora do holocausto, Jesus referiu-se:- É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo caindo, na terra, não morrer, fica só; mas, se morrer,
dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á; mas quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me servir, siga-me, e onde eu estou, estará aquele que me serve; se alguém me servir o Pai honrará.
A dúlcida melodia da Sua voz penetrava os ouvintes, que se encontravam aturdidos sem entenderem o significado da sua oração profunda.
Foi então que Ele enunciou:
- Agora está perturbada a minha alma e que direi? Pai, livra-me desta hora. Mas para isso foi que vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu está voz: - Eu já O glorifiquei, e outra vez O glorificarei.
Todos os presentes ouviram a resposta celeste, e logo procuraram uma forma de justificá-la ou negá-la informando ser o trovão, ou talvez, um anjo que falara. Ele então afirmou:
- Não foi por minha causa, mas sim, por vossa causa que veio essa voz.
E quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim.
Chegara o momento de preparar os discípulos ingênuos e iludidos com o poder temporal, informando-os que se acercavam os momentos do testemunho. Primeiro, Ele seria erguido como um trapo numa cruz, para que, depois, os demais fossem convidados ao holocausto por amor.
A crença nutre-se dos esforços morais daquele que se deixa empolgar pelo conteúdo da mensagem que aceita, sustentando a fidelidade em toda e qualquer circunstância.
Por isso, não teme, não diminui de intensidade.
Antes pelo contrário, vitaliza-se com as energias da coragem e da abnegação, aformoseia-se com o sacrifício e permanece com a entrega total de si mesmo.
Ainda hoje é assim.
Todo aquele que abraça um ideal é convidado a viver conforme os padrões estabelecidos pela força do pensamento, que o emula ao avanço contínuo.
O mundo daquela época não podia entender Jesus, nem conceder-lhe outro título, senão o de solucionador de problemas, ou de profeta, ou de novo messias para as necessidades humanas.
Ele viera, no entanto, para o trabalho de remoção das paixões inferiores das paisagens humanas, substituindo-as pelas claridades refulgentes do Seu amor e da Sua abnegação.
O Seu sacrifício de conviver com a ignorância sem irritar-se, com, perversidade sem perturbar-se, com a cizânia sem tomar partido, com as mesquinharias humanas sem envolver-se nas suas questiúnculas, demonstra a grandeza de que é constituído.
O seu ministério hoje, é ainda o mesmo, porque as diferenças entre as duas épocas - o ontem e o agora - estão em algumas conquistas da inteligência, nos labores grandiosos da ciência e da tecnologia, sem que houvessem sido realizadas as incomparáveis transformações do sentimento do ser humano para melhor, instalando-se nas consciências as propostas libertadoras do amor e da caridade, o interesse pela auto iluminação, pela libertação dos fantasmas ancestrais e o estabelecimento da lídima fraternidade entre as criaturas, a princípio, e por fim, entre as nações.
Ao cristão decidido destes dias de lutas ásperas, bem semelhantes àquelas terríveis dificuldades do passado, cabe a indeclinável tarefa de viver Jesus, de glorificá-lo pelo exemplo, de entregar-se lhe em regime de totalidade.
A incredulidade que se demora nas mentes e nos comportamentos é a responsável infeliz pelo sofrimento que se abate sobre a moderna e presunçosa sociedade da comunicação virtual e da nanotecnologia, que ensoberbece e deixa vazia de significado a existência humana...

Amélia Rodrigues
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 6 de março de 2011, na Mansão do Caminho.)




 



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