Incredulidade e Sofrimento
As
multidões podem ser consideradas como rebanhos complexos e difíceis de comando,
em razão de serem constituídas por indivíduos de diferentes portes e mentalidades,
momentaneamente unidos pelo mesmo paroxismo de uma paixão qualquer e que
arremete irracionalmente em qualquer direção, dependendo da liderança que lhe
apresenta a ideia dominante. Normalmente, ondulante e exagerada muda de roteiro
com facilidade, tornando-se construtiva ou desagregadora, de acordo com o móvel
que a estimula.
Jesus
sempre viveu com as multidões, as massas ansiosas e problemáticas, vitimadas
pela miséria socioeconômica e pelo abandono das autoridades do seu tempo.
Portador
de incomum senso psicológico sabia conduzi-las de maneira pacífica e ordeira, oferecendo
a Sua mensagem de amor, misericórdia e compaixão.
Normalmente
supersticiosa, a multidão não discerne, agindo automaticamente num ou noutro sentido,
tanto em auxílio de um ideal como um rolo compressor que tudo esmaga à frente.
Muitas
vezes, após atender às suas necessidades sempre crescentes, a fim de refazer-se
da tensão promovida pela massa insaciável, Ele desaparecia buscando a solidão,
revigorando os sentimentos, de modo que o amor permanecesse irretocável, mesmo
ante as exigências e ingratidões do povo.
As massas
invariavelmente, não desejam orientação, trabalho, esforço, mas solução miraculosa
para os seus problemas. E porque os problemas residem nos indivíduos, cada qual
sendo a soma das próprias irresponsabilidades, muito difícil torna-se oferecer
segurança aos grupos desarvorados.
Jesus
atendia a todos que o buscavam com a invariável ternura que sempre dedicava a
cada criatura que, isoladamente ou não, se lhe acercava.
Jamais
apresentou tratamento diferenciado em relação aos infelizes de qualquer
natureza.
Por isso,
que, de acordo com a narração do apóstolo João, no seu capítulo 12 do Evangelho,
esclarece que, após a dissertação apresentada após a entrada triunfal em
Jerusalém, tendo-se retirado, escondeu-se deles. (versículo 37).
Insaciável,
a massa devora aqueles que elege para ser-lhe o guia e salvador, pois que, ao
lado da insânia dos atos desarvorados encontra-se a morbidez da comodidade que
não deseja ser alterada.
Normalmente,
as criaturas desejam soluções para os problemas, transferindo os para os demais
e ficando indiferentes aos resultados.
O Mestre
sabia dessa disposição humana, porém desejava que cada qual assumisse a própria
responsabilidade pelo seu destino, esforçando-se para combater a inferioridade
moral, colocando as balizas do Reino de Deus na conduta pessoal.
Aproximavam-se
as horas de tormento, naqueles dias de conturbação.
Era
indispensável que Ele estivesse preparado para dar testemunho de tudo quanto houvera
ensinado, assim fazendo que se cumprissem as profecias.
Tudo
fizera para convidar os ouvintes à crença e à integração nos postulados da paz
e do amor.
Embora, o
acompanhassem, não acreditavam realmente Nele, sempre querendo mais.
O profeta
Isaías houvera anunciado que assim deveria ser, porque cegou lhes os olhos, e endureceu
lhes o coração. Para que não vejam com os seus olhos entendam no coração. E se
convertam.
E eu os
sare.
A incredulidade
resseca as nascentes do coração, de onde promanam os rios dos sentimentos de
nobreza, de amor e de devotamento.
A crença
independe das demonstrações visuais, sendo inata ou adquirida pela razão, pela reflexão
e análise dos fatos observados.
Quando se
deseja ver para crer, aumenta-se a incredulidade, porque sempre surge a suspeita
da fraude, da intrujice.
Ante o
deslumbramento de alguns gregos que o haviam visto entrar sob aplausos em Jerusalém,
esses o buscaram, recorrendo aos discípulos amados. Como, porém, acercava-se a hora
do holocausto, Jesus referiu-se:- É chegada a hora de ser glorificado o Filho
do Homem. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo caindo, na
terra, não morrer, fica só; mas, se morrer,
dá muito
fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á; mas quem aborrece a sua vida neste
mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me servir, siga-me, e onde
eu estou, estará aquele que me serve; se alguém me servir o Pai honrará.
A dúlcida
melodia da Sua voz penetrava os ouvintes, que se encontravam aturdidos sem entenderem
o significado da sua oração profunda.
Foi então
que Ele enunciou:
- Agora
está perturbada a minha alma e que direi? Pai, livra-me desta hora. Mas para
isso foi que vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu está
voz: - Eu já O glorifiquei, e outra vez O glorificarei.
Todos os
presentes ouviram a resposta celeste, e logo procuraram uma forma de
justificá-la ou negá-la informando ser o trovão, ou talvez, um anjo que falara.
Ele então afirmou:
- Não foi
por minha causa, mas sim, por vossa causa que veio essa voz.
E quando
eu for levantado da terra, atrairei todos a mim.
Chegara o
momento de preparar os discípulos ingênuos e iludidos com o poder temporal, informando-os
que se acercavam os momentos do testemunho. Primeiro, Ele seria erguido como um
trapo numa cruz, para que, depois, os demais fossem convidados ao holocausto
por amor.
A crença
nutre-se dos esforços morais daquele que se deixa empolgar pelo conteúdo da mensagem
que aceita, sustentando a fidelidade em toda e qualquer circunstância.
Por isso,
não teme, não diminui de intensidade.
Antes
pelo contrário, vitaliza-se com as energias da coragem e da abnegação,
aformoseia-se com o sacrifício e permanece com a entrega total de si mesmo.
Ainda
hoje é assim.
Todo
aquele que abraça um ideal é convidado a viver conforme os padrões estabelecidos
pela força do pensamento, que o emula ao avanço contínuo.
O mundo
daquela época não podia entender Jesus, nem conceder-lhe outro título, senão o
de solucionador de problemas, ou de profeta, ou de novo messias para as
necessidades humanas.
Ele
viera, no entanto, para o trabalho de remoção das paixões inferiores das paisagens
humanas, substituindo-as pelas claridades refulgentes do Seu amor e da Sua
abnegação.
O Seu
sacrifício de conviver com a ignorância sem irritar-se, com, perversidade sem perturbar-se,
com a cizânia sem tomar partido, com as mesquinharias humanas sem envolver-se
nas suas questiúnculas, demonstra a grandeza de que é constituído.
O seu
ministério hoje, é ainda o mesmo, porque as diferenças entre as duas épocas - o
ontem e o agora - estão em algumas conquistas da inteligência, nos labores
grandiosos da ciência e da tecnologia, sem que houvessem sido realizadas as incomparáveis
transformações do sentimento do ser humano para melhor, instalando-se nas
consciências as propostas libertadoras do amor e da caridade, o interesse pela auto
iluminação, pela libertação dos fantasmas ancestrais e o estabelecimento da
lídima fraternidade entre as criaturas, a princípio, e por fim, entre as
nações.
Ao
cristão decidido destes dias de lutas ásperas, bem semelhantes àquelas
terríveis dificuldades do passado, cabe a indeclinável tarefa de viver Jesus,
de glorificá-lo pelo exemplo, de entregar-se lhe em regime de totalidade.
A incredulidade
que se demora nas mentes e nos comportamentos é a responsável infeliz pelo sofrimento
que se abate sobre a moderna e presunçosa sociedade da comunicação virtual e da
nanotecnologia, que ensoberbece e deixa vazia de significado a existência humana...
Amélia Rodrigues
(Página
psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 6 de março de
2011, na Mansão do Caminho.)
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