sábado, 11 de junho de 2016

José Bonifácio e Ruy Barbosa

José Bonifácio e Ruy Barbosa
19 — 7 — 1951


  


“(...) Não estive com o nosso confrade (...) se no decurso de uma sessão pública no “Luiz Gonzaga”. A luta, em diversos setores, não me permitiu reencontrá-lo. A reunião contava com muita gente, de várias procedências, e ele foi um dos oradores. Notei-o com pregação cheia de azedume e revolta contra tudo. Que Jesus o ampare. Pareceu-me descontente comigo por não lhe poder oferecer mais tempo para conversação mais demorada.
Fiquei satisfeito por haveres identificado a personalidade de José Bonifácio em Ruy Barbosa. Já me achava de posse dessa informação. Quando José Bonifácio partiu levou grande amor e reconhecimento à Bahia e reencarnou-se lá, quase que de imediato, para prosseguir no trabalho de libertação do País. Antes era a Independência e, em seguida, a Abolição do cativeiro e a República. Como vemos, as tarefas continuam... (...)
O Ismael me disse que planejas remeter-me o “Falando...” para que eu visse os pequenos reajustes feitos, mas peço-te não mandar. Dar-me-ei por satisfeito com o que fizeres, pois o assunto é de amor à causa e esse amo está sempre mais vivo em teu coração. (...)
Recebeste o “processo”? Aguardarei tuas notícias com referência à chegada de Pietro Ubaldi ao nosso País. (...)”
Chico se vê às voltas com um confrade que se aborrece por não conseguir dele maior tempo para uma conversação.
Wantuil de Freitas identifica a personalidade de José Bonifácio em Ruy Barbosa. E Chico esclarece a respeito.
Esta identificação feita por Wantuil se tornou possível graças à mensagem de Ruy Barbosa, “Oração ao Brasil”, psicografada por Chico Xavier e que consta no livro “Falando à Terra”. No belíssimo texto em que se pode identificar o estilo característico de Ruy Barbosa, este faz referências à sua encarnação anterior:
“Ouvi o cântico das três raças, que o trabalho, a simplicidade e o sofrimento consagraram para sempre em teu nascedouro, e recebi a honra de compartir o esforço de quantos te prelibaram a independência.
Por ti, em minha frágil estrutura de homem, amarguei os tormentos do operário e as angústias do orientador. E, enquanto te acompanhava os vagidos no berço da emancipação que conquistaste sem sangue, por ti fui quinhoado com a graça do desfavor e do exílio, para voltar, depois, à cabeceira do infante que te guiaria os destinos, durante meio século de probidade e sacrifício (*).”
(A nota de rodapé esclarece: (*) Referência a D. Pedro II.)
O autor espiritual refere-se então à sua morte e ao retorno quase imediato:
“Eu, que desfrutara o privilégio de sentar-me nas assembleias que te planejavam o grito libertador, assomei à tribuna de quantos te defendiam os ideais republicanos, filiando-te na legião dos povos cultos e determinadores.”
Se analisarmos a vida de José Bonifácio de Andrade e Silva e em seguida a de Ruy
Barbosa veremos a trajetória de um mesmo Espírito, com todas as suas aquisições morais e culturais. Como Ruy Barbosa, ele (o Espírito) dá sequência a uma mesma e fundamental missão: a de trabalhar e contribuir para o engrandecimento do Brasil. Com uma outra personalidade ele se projeta na História da Pátria pela prestação de relevantes serviços nos quais pontifica pela probidade, pela cultura e pela dignidade.
Com esse tópico de sua carta, Chico abre-nos uma janela para a História. E isso é tão bonito — a possibilidade que só o conhecimento da reencarnação nos faculta— que chega a ser emocionante!
*
Chico refere-se em seguida ao livro que estamos mencionando, o “Falando à Terra”.
Diz confiar nos reajustes feitos por Wantuil. E arremata: “o assunto é de amor à causa e esse amor está sempre vivo em teu coração.”

Fonte: Schubert, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier. 2. ed. Brasília: FEB, c1986.
Imagem: Marco A. C. Neves



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