Nas
Coisas Simples, Grandes Lições
Em
Patrocínio de Minas, na década de 50, o juiz de Direito da comarca era José
Pereira Brasil, espírita, estudioso e também, nas horas vagas, excelente pintor
e poeta. Tanto no Direito, nas artes e igualmente nas atividades da Doutrina
Espírita, ele se houve com esmero e cuidado.
Numa
oportunidade em que ele ia a Coromandel, cidade distante pouco mais de 50
quilômetros, onde também exercia o cargo de juiz, estava dirigindo o seu carro,
por sinal novo e sob um calor escaldante muito próprio daquela região, quando
surgiu um defeito na embreagem. Ele era um excelente juiz, mas de mecânica não
entendia nada.
O problema
maior era o fato de ele ter uma audiência na cidade vizinha e o remédio era
esperar socorro de outros motoristas que porventura passassem por ali, o que
era difícil. O tempo foi passando e nada de socorro. “Vou perder a audiência, o
que muito me prejudicará”, pensou. E começou a enervar-se, a embravecer, a se
revoltar e a praguejar!
No auge do
desespero, ouviu uma voz, bem ao longe, de uma pessoa que cantava uma toada
caipira, própria daquela região. Como não viu ninguém que estaria cantando
àquela hora, saiu do carro e se aproximou da beira da estrada. Lá embaixo,
encravado num vale, viu um pequeno e rústico barraco, sem nada à sua volta. Só
um barraco! Ninguém ao seu redor! Mas, dentro dele, tinha dentro uma pessoa que
cantava!
Tomou um
choque emocional! Ele, juiz de Direito em duas comarcas, bem-sucedido, carro do
ano, espírita, ainda jovem, por um simples defeito mecânico em seu veículo
estava perdendo a calma, se enervando e até praguejando! E, no entanto, lá
embaixo, um barraco e, dentro dele, uma pessoa que cantava…
Ele disse:
“Como sou injusto! Como sou ingrato! Tenho tudo o que desejo… e estou
revoltado! Logo ali, no entanto, um barraco – nem casebre era – abrigando uma
pessoa que canta, distante de tudo! Quanto estou aprendendo! Perdão, Jesus!”
Ao retornar
ao seu carro, sentiu o desejo de retratar o que presenciara e, sentado, pegou
seu caderno de notas e escreveu:
Barraco de
estrada
Barraco de
estrada, da porta sem trinco, que o sol da chapada reflete no zinco, da cor
deste chão.
Quem é que
te habita e canta com alegria, sem lume ou visita, na vida vazia, da tua
solidão?
Barraco, és
tu só, largado no ermo, pintado de pó com ares de enfermo, enfeando o lugar.
E, no
entanto, agasalhas no teu desconforto quem faz das migalhas de um sítio tão
morto, um mundo a cantar.
É voz de
quem sabe que a vida feliz em bem pouco cabe e nada maldiz, amando o que tem.
É por isso
que vemos palácios calados e às vezes nós cremos que neles, coitados, não mora
ninguém!
Será que
ainda existe alguém que te queira, bem longe, tão triste, com tanta poeira, marasmo
ou calor?
Não vejo
sina de planta ou fumaça, não tens no quintal nem aves sem raça, sequer uma
flor!
Barraco,
essa voz tão simples e humana que chega até nós, a mim não engana, eu sei de
quem é.
Só canta com
tristeza pisando no mundo quem vive em riqueza, buscando no fundo das arcas da
fé!
Altamirando Carneiro
PAZ, MUITA PAZ!
Nenhum comentário:
Postar um comentário