sexta-feira, 10 de junho de 2016

Nas Coisas Simples, Grandes Lições

Nas Coisas Simples, Grandes Lições


 


Em Patrocínio de Minas, na década de 50, o juiz de Direito da comarca era José Pereira Brasil, espírita, estudioso e também, nas horas vagas, excelente pintor e poeta. Tanto no Direito, nas artes e igualmente nas atividades da Doutrina Espírita, ele se houve com esmero e cuidado.
Numa oportunidade em que ele ia a Coromandel, cidade distante pouco mais de 50 quilômetros, onde também exercia o cargo de juiz, estava dirigindo o seu carro, por sinal novo e sob um calor escaldante muito próprio daquela região, quando surgiu um defeito na embreagem. Ele era um excelente juiz, mas de mecânica não entendia nada.
O problema maior era o fato de ele ter uma audiência na cidade vizinha e o remédio era esperar socorro de outros motoristas que porventura passassem por ali, o que era difícil. O tempo foi passando e nada de socorro. “Vou perder a audiência, o que muito me prejudicará”, pensou. E começou a enervar-se, a embravecer, a se revoltar e a praguejar!
No auge do desespero, ouviu uma voz, bem ao longe, de uma pessoa que cantava uma toada caipira, própria daquela região. Como não viu ninguém que estaria cantando àquela hora, saiu do carro e se aproximou da beira da estrada. Lá embaixo, encravado num vale, viu um pequeno e rústico barraco, sem nada à sua volta. Só um barraco! Ninguém ao seu redor! Mas, dentro dele, tinha dentro uma pessoa que cantava!
Tomou um choque emocional! Ele, juiz de Direito em duas comarcas, bem-sucedido, carro do ano, espírita, ainda jovem, por um simples defeito mecânico em seu veículo estava perdendo a calma, se enervando e até praguejando! E, no entanto, lá embaixo, um barraco e, dentro dele, uma pessoa que cantava…
Ele disse: “Como sou injusto! Como sou ingrato! Tenho tudo o que desejo… e estou revoltado! Logo ali, no entanto, um barraco – nem casebre era – abrigando uma pessoa que canta, distante de tudo! Quanto estou aprendendo! Perdão, Jesus!”
Ao retornar ao seu carro, sentiu o desejo de retratar o que presenciara e, sentado, pegou seu caderno de notas e escreveu:
Barraco de estrada
 
Barraco de estrada, da porta sem trinco, que o sol da chapada reflete no zinco, da cor deste chão.
Quem é que te habita e canta com alegria, sem lume ou visita, na vida vazia, da tua solidão?

Barraco, és tu só, largado no ermo, pintado de pó com ares de enfermo, enfeando o lugar.
E, no entanto, agasalhas no teu desconforto quem faz das migalhas de um sítio tão morto, um mundo a cantar.

É voz de quem sabe que a vida feliz em bem pouco cabe e nada maldiz, amando o que tem.
É por isso que vemos palácios calados e às vezes nós cremos que neles, coitados, não mora ninguém!

Será que ainda existe alguém que te queira, bem longe, tão triste, com tanta poeira, marasmo ou calor?
Não vejo sina de planta ou fumaça, não tens no quintal nem aves sem raça, sequer uma flor!

Barraco, essa voz tão simples e humana que chega até nós, a mim não engana, eu sei de quem é.
Só canta com tristeza pisando no mundo quem vive em riqueza, buscando no fundo das arcas da fé!

                      Altamirando Carneiro
                                                                                                   PAZ, MUITA PAZ!



 



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